Paredes, Sede e Morte
Sede e morte, a sede do morto, uma sede de morrer. Uma música, um anúncio, um vídeo. Paredes, Amstel, Animais. Carlos Bica, Mariana Abrunheiro e Ruben Alves. Três Sede e Morte, três versões de Carlos Paredes. Três, o número mágico-religioso por excelência. Um mais três quatro, e o macho se torna fêmea. Estou a escrever sobre diabos, bruxas e vampiros.
Imagens musicais na publicidade

Preparei, recentemente, uma comunicação sobre a música na publicidade. Um dos tópicos incide sobre os anúncios com bandas sonoras híbridas: a componente propriamente musical combina com outra decorrente de sons imanentes às imagens e à ação (ver A Alegria dos Sentidos). Os anúncios Push It, da Doritos & Cheetos, e Earth Odyssey, da Jeep, ilustram o que se entende por imagens musicais e bandas sonoras híbridas. No segmento automóvel, a Mercedes foi pioneira neste tipo de anúncios e a Honda tem sido useira e vezeira. Estes casos serão contemplados nos artigos seguintes.
Alegria dos sentidos

Deixemos descansar a razão no colo dos sentidos. Georg Simmel aborda, no ensaio dedicado à sociologia dos sentidos (1981, Sociologie et épistémologie. Paris, PUF), a visão, o ouvido e o olfato. Para ele, “é muitas vezes o que ouvimos que nos permite saber o que vemos” (Paquot, Thierry, 2012, “En lisant Georg Simmel”, Hermès, La Revue 2012/2 (n° 63), pages 21 à 25). No anúncio 2021 Earth Odyssey, da marca Jeep, por extraordinárias que sejam as imagens, quem comanda a dança é o som. Um belíssimo anúncio. Não me importava ser o autor.
A beleza da biodiversidade

Quando se aposta, com arte, na estética o resultado é compensador. O anúncio Don’t Mess With Mother, da Apple, é um hino à biodiversidade. Ao ritmo heavy metal da canção Last Rites dos Megadeth. Os autores do anúncio tiveram a sageza de dispensar a besta humana. Preferiram uma avalancha. Há marcas que são um expoente da publicidade.
Homo carnivorus

No artigo precedente, abordámos a situação do homo sapiens fumus. Num registo sério que não me assenta. Resultado: “a argumentação não é má, mas não convence”. Hoje é a vez do homo carnivorus, outra espécie em projeto de extinção. Os sábios do terceiro milénio entendem corrigir o atrevimento que, há cerca de 2,6 milhões de anos, tiveram os nossos antepassados: comer carne. Uma inovação complicada. Não havia talhos e os animais não se deixavam caçar. Por vezes, convinha fugir deles.
Desventuras do homo carnivorus, que a série de anúncios da Nissin, empresa japonesa fabricante de massas alimentícias, recorda.
As virtudes do funil

01. Unknown, Inuentio sanctae Crucis, Illumination from the Passionary of Weissenau (Weißenauer Passionale) (1170-1200), Codex Bodmer 127, fol. 53v.
Com menos anos do que dedos nas mãos, pasmava na feira a ver o vendedor de banha da cobra. Numas bancas, alguns recipientes de vidro com uma espécie de massa longa (mafaldine) a que chamava “bicha solitária”. O seu vozeirão dava exemplos dos pavores que estes parasitas provocavam nos intestinos. Para alimentar o monstro, as vítimas sentiam fome e definhavam a olhos vistos. Para grandes males, pequenos remédios. Bastam dois frascos com uma poção milagrosa para matar o bicho e a fome. Duas pessoas apressam-se a comprar, secundadas por parte da assistência. Naquele tempo, eram mais as pessoas com fome do que com fastio. Talvez fosse da bicha solitária. Este é um dos esquemas básicos da publicidade. Criar necessidades, pelo imaginário mas com fio de terra. Como diria Karl Marx, a oferta produz a procura. Não digo que os anúncios actuais são herdeiros dos charlatões das feiras, mas também não desdigo.
Marca: SodaScream. Título: It’s time for a change. Estados Unidos, Novembro 2018.
Afirmam que existe uma nova ilha composta por lixo. Os oceanos e os rios estão atafulhados de lixo, os lugares onde as pessoas residem, também. Como combater a catástrofe? O anúncio It’s time for a change, da SodaStream, sugere deixar de beber água engarrafada em embalagens de plástico e passar a beber soda. Com mais de 6 milhões de visualizações no site da marca, o anúncio está a alcançar um enorme sucesso.
Como vamos beber a soda? Com palhinhas ou copos de plástico? São o problema. Com copos de madeira ou de papel? São desflorestadores. Com copos de vidro? São de reciclagem rápida, mas requerem detergentes. Tecnologicamente avançada, a nossa sociedade tem a poção mágica para quase tudo. Se existe, digitaliza-se! Por que não beber soda em copos virtuais! A digitalização é amiga do ambiente, apenas polui os neurónios.

03. David Teniers the Younger.The Temptation of Saint Anthony (detail) (c 1650).
Restam duas soluções. A primeira consiste em beber soda diretamente da fonte. Sem copo, nem palhinha. Na aldeia, para beber às escondidas, sorvia-se o vinho da torneira da pipa. Outra solução: não beber nem água engarrafada nem soda. Beber água da chuva, graças a um funil. Aos primeiros pingos, funil à boca e ergue-se a face. Regressado o sol, o funil, assente na cabeça, serve, agora, de chapéu. Esta solução já foi patenteada há, pelo menos, oito séculos (Figura 01).
Os funis de Hieronymus Bosch
Os drones e a protecção dos animais
Belo e inteligente. O propósito é claro: recorrer aos drones para vigiar os caçadores furtivos de África. O crescimento dos meios de vigilância também tem virtudes.
Anunciante: Over & Above Africa. Título: A Guardian. Agência: Giant Films. Direcção: Sam Coleman. Criativo: Andy Fackrell. África do Sul, Outubro 2018.
Vida de cão
O graffiti não tem vida fácil em São Paulo, mas aquilo que se expulsa pela porta entra pela ponte, desde que superiormente autorizado. Como neste anúncio da Prefeitura de São Paulo. Os sem-abrigo constituem um problema grave da cidade. Nos Centros Temporários de Atendimento, “os acolhidos podem tomar banho, ter acesso a refeições (café da manhã, almoço e jantar), receber o atendimento social e ser encaminhados para outras políticas públicas de acordo com a sua demanda. O espaço dispõe de banheiros e dormitórios específicos para pessoas com deficiência.” Alguns Centros recebem não apenas os sem-abrigo, mas também os respectivos animais. Por exemplo, “ o CTA Brigadeiro Galvão conta com lavandaria e um canil com sete baias, garantindo um atendimento qualificado também aos animais de estimação dos conviventes.” (http://www.capital.sp.gov.br/noticia/centro-temporario-de-acolhimento-cta-e-inaugurado-na-barra-funda). Carregar na imagem para ver o anúncio.
O ADN da sobrevivência
Os símbolos da morte têm um impacto contundente. No anúncio Let’s turn things around, do San Diego Zoo, a ampulheta alerta para os riscos de extinção de espécies animais, mas também para a possibilidade de reversão. Socorrendo-se da tecnologia do ADN, o San Diego Zoo luta pela sobrevivência de espécies ameaçadas tais como o rinoceronte branco e a girafa. O material genético, nomeadamente o ADN, é uma linguagem, a nova palavra, ou o novo grito, da criação.
Marca: San Diego Zoo. Título: Let’s turn things around. Agência: Epsílon Chicago. USA, Setembro 2017.