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Correr sentado

Mercedes. FableA publicidade anda zoófila. “A lebre e a tartaruga” é uma fábula de Esopo (séc. VI a.C), retomada por La Fontaine, no século XVII, e pela Mercedes, no século XXI. Cada versão propõe a sua moral.
Moral de Esopo: “Quem segue devagar e com constância sempre chega à frente”.
Moral de La Fontaine: “De nada serve correr, é preciso partir a tempo”.
Moral da Mercedes: “Correr sentado descansa as pernas”.

Marca: Mercedes. Título: Fable. Agência: Merkley + partners (New York). Direcção: Robert Stromberg. USA, Janeiro 2015.

Sociologia sem palavras 11. Espetáculo

At the circus 1939 1O circo é uma heterotopia, um outro mundo, quase uma utopia. Esteio do imaginário, o circo é tema recorrente nos filmes cómicos: Charles Chaplin estreia, em 1928, The Circus; em The Chimp (1932), Laurel & Hardy destroem a tenda de um circo. Buster Keaton nasceu, em 1895, numa troupe de artistas itinerantes. Segue a sequência final do filme At The Circus (1939), dos Marx Brothers. Este episódio (11) da série Sociologia sem palavras incide sobre as artes do espetáculo.

Marx Brothers. At The Circus. 1939. Excerto.

Milagre

Frei Manuel dos Reis. Visão de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique. 1665. Museu de Alberto Sampaio

Frei Manuel dos Reis. Visão de D. Afonso Henriques na batalha de Ourique. 1665. Museu de Alberto Sampaio

O futebol configura uma luta de titãs. Prometi alhear-me dos “anúncios do Mundial”. Mas não há modo de lhes escapar.  A Nike e a Beats by Dre acabam de lançar os anúncios The Last Game e The Game Before the Game, com duração superior a 5 minutos. Ambos convocam o “etos do guerreiro”. O humano contra o inumano, mas também o humano a braços com aquilo que o divide: o cálculo e o risco, a força e a fé, a razão e o coração… No “último jogo”, os heróis, “demasiado humanos”, enfrentam a burocracia da ciência e a eficácia dos clones. O anúncio é todo ele uma glória à animação em jeito de apoteose barroca. No “jogo antes do jogo”, acompanhamos a preparação ritual do herói antes do confronto, a construção do milagre, como na prece do cavaleiro medieval antes da refrega. O anúncio mergulha numa aura trágica, com a imagem e o som a entrelaçar-se ao ritmo da pulsação.

Ambos os anúncios são herdeiros de obras mais antigas. Retenho o filme Fuga para a Vitória, de 1981, com a participação de Pelé, Ardiles, Bobby Moore e Deyna. Quase todo o filme se resume à preparação do jogo. O adversário era a máquina nazi e o futebol, o cavalo de Tróia.

Marca: Nike. Título: The Last Game. Agência: Wieden + Kennedy, Portland. Direcção: Jon Saunders. USA, Junho 2014.

Marca: Beats by Dre. Título: The Game Before the Game. Agência: R/GA New York. Direcção: Nabil Elderkin. USA, Junho 2014.

 

O Rei da Marcha

Zonophon 033. John Philipp Sousa. The Corcoran Cadets March. 1890

Zonophon 033. John Philip Sousa. The Corcoran Cadets March. 1890

A equipa do Centro de Estudos Comunicação e Sociedade dedicada ao estudo dos postais ilustrados (http://postaisilustrados.blogspot.pt/) prepara uma nova publicação. Mais uma oportunidade para descobertas. À cata de postais sonoros do início do século XX, deparei com um postal com música de John Philip Sousa (1854-1935): The Corcoran Cadets March, 1890 (vídeo 2). “Rei das marchas”, filho de português, john Philip Sousa é o autor da marcha nacional dos Estados-Unidos (vídeo 1). Pelos vistos, tenho um espírito torto. À procura de alhos (postais sonoros), encontro bugalhos (um compositor). Como invejo aqueles que procurando alhos e encontram alhos. Estão sempre a ensacar alhos!

Vídeo 1. John Philip Sousa.  Marcha The Stars and Stripes Forever. 1897.

Vídeo 2. John Philip Sousa. Marcha The Corcoran Cadets March, 1890.

Homens e Bestas

A associação entre as morfologias humana e animal remonta, pelo menos, à Antiguidade. Às respetivas afinidades corresponderiam semelhanças ao nível das tendências de carácter. Por exemplo, nariz em forma de bico de corvo significaria descaramento; de galo, luxúria; e de águia, generosidade. Por sua vez, olhos de carneiro revelam depravação; os de cervo, espiritualidade; e os de burro, loucura. Pelos vistos, Aristóteles navegou por estas águas, particularmente férteis durante a Idade Média, período em que as fronteiras entre reinos, incluindo o humano e o animal, se esbatem e o hibridismo se propaga na decoração das igrejas, nos romances, nos livros de horas e, a partir do século XV, nos grotescos. Giambattista della Porta (1535-1615), sábio italiano renascentista associado, por muitos, à história da câmara escura, dedicou-se, entre várias atividades, à fisiognomonia. Em 1586, publicou De humana physiognomonia, que comporta quatro livros. Provém de esta obra a maior parte das imagens que seguem. Pode consultar-se e “descargar” a edição de 1644 (Della fisionomia dell’huomo), agora com seis livros, no seguinte endereço da Bibliothèque nationale de France: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k51316f.r=Giambattista+della+Porta.langPT. Sobre estas “fisiognomonias”, a principal referência da História da Arte parece-nos ser Baltrusaitis, Jurgis (1995), Les Perspectives dépravées. Tome 1: Aberrations, Paris, Flammarion. Do ponto de vista da sociologia, pode consultar-se Dumont, Martine (1984), “Le succès mondain d’une fausse science: la physiognomonie de Johann Kaspar Lavater”, Actes de la Recherche en Sciences Sociales, nº54, pp. 2-30.