O beijo já não é o que era

O beijo deu azo a obras-primas, tais como o quadro de Gustav Klimt ou a escultura de Auguste Rodin. Existem, também, fotografias como o Baiser de l’ Hotel-de-Ville, de Robert Doisneau (1950), ou o beijo do V–J day in Times Square, de Alfred Eisenstadt (1945), com um marinheiro norte-americano a beijar uma enfermeira no termo da Segunda Guerra Mundial.

Baiser de l'Hotel de Ville. Robert Doisneau. 1950

V–J day in Times Square. Alfred Eisenstadt. 1945

O beijo continua a estar no centro do anúncio de Jean Paul Gaultier. A intertextualidade é evidente. O beijo de Gaultier dialoga com todas estas artes de beijar, mormente com a fotografia de Eisenstadt. Cola-se à forma para mais profundamente a subverter. Porque é de uma inversão que se trata. No Beijo de Gaultier, é a mulher quem conduz. É ela quem domina, quem fica por cima. Entre o beijo de Eisenstadt e o beijo de Gaultier há uma troca simétrica de posições de género. Ao dia masculino da parada festiva sucede a noite feminina estremecida pelas luzes de néon e pelo ribombar do trovão. O Beijo de Gaultier opera uma transgressão. Mas convém ter cuidado com as transgressões. Com a febre que varre o mundo, ainda nos proíbem o beijo, este nosso pequeno luxo. Por causa da higiene, da saúde, do orçamento… Nada que já não aconteça nos universos assépticos da ficção científica!

Anunciante: Jean Paul Gautier – Parfum. Título: Femme et marin. Direção: Jean Baptiste Mondino. França, 1997.

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