Paródia de uma utopia
Este artigo é do meu rapaz mais novo, o Fernando. Importa assegurar o futuro do blogue.
“Até as senhoras da corte dançaram ao ritmo das flautas e tambores dos sapos. O remoinho de papel reciclado era uma vista para se ver, como gráficos de computadores! … O frigorífico e a caixa de correio vão liderar o caminho… Caminhem juntos em frente, eu sou o derradeiro governador” (Paprika, 2006).
O tema do filme de animação Paprika, dirigido por Satoshi Kon em 2006, incide sobre o alcance dos sonhos.
A um dado momento, ocorre uma invasão, com a forma de uma parada de vários objectos. O sonho do consumismo. Quem é o sonhador desta parada? Não se sabe. Cada um entra na parada e integra-se como se fosse o seu sonho, cada um é o “derradeiro governador”, um individuo consumido pelo consumismo. O sonho que não é de ninguém mas de todos.
“Pergunto-me aonde se dirigia a parada. Sinto que estava mesmo perto de controlar o mundo.” Os participantes na parada sentem uma promessa, uma recompensa final. Contudo, esta é uma parada sem fim, uma viagem em espiral, crescendo aos círculos.
No final, a parada invade o mundo real. As pessoas vão-se transformando em objectos. O individuo vale o que possui.
Os anúncios e a própria internet não são mais do que formas de sonho. Um sonho que se aloja no subconsciente. Um jogo em que a realidade afeta os sonhos que, por sua vez, afetam a realidade, uma realidade onírica.
Reencontram-se muitas figuras e situações do filme Paprika no filme Inception lançado quatro anos depois, nomeadamente a interpenetração entre sonho e realidade.
Paprika.Satoshi Kon. Japão. 2006. Excerto.
Nada mais a pedir ao blogue, senão mais artigos do sucessor.