Sileno, o vinho e o burro

Fresco of Silenus mask, Villa of Fannius Synistor, Pompeii. Metropolitan Museum of Art

Fresco of Silenus mask, Villa of Fannius Synistor, Pompeii. Metropolitan Museum of Art.

Não é apenas nas festas medievais ou durante a Bugiada de Sobrado que o burro é montado às avessas. Sileno, semideus, o mais velho dos sátiros, faz-se acompanhar por um burro. Constantemente ébrio, Sileno foi tutor de Dionísio, a quem passou a paixão pelo vinho. A sabedoria de Sileno reside na sua ebriedade. É sábio por não estar sóbrio. Cumpre ao burro aguentar esta carga obesa e periclitante. A posição mais típica de Sileno em cima do burro é às arrecuas. Montar um burro às avessas condiz com a figura de um semideus que se entrega ao vinho e ao sexo, semeando a confusão e a desordem.

 Lysippos. Silenus holding the infant Dionysos in his arms. Hellenistic copy. 4th BCE. Louvre.

Lysippos. Silenus holding the infant Dionysos in his arms. Hellenistic copy. 4th BCE. Louvre.

 

Drunk Silenus riding a donkey. Onyx. 1st century BCE.

Drunk Silenus riding a donkey. Onyx. 1st century BCE.

Sileno gostava de visitar o mundo dos homens, mas nunca falava com eles. Exceto uma vez. Tão bêbado estava, que se perdeu do grupo que o acompanhava. O rei Midas encontrou-o e desafiou-o a dizer o que era melhor para os homens. Sileno calou-se, como era seu costume. Não falava com os homens. Mas rei Midas tanto insistiu, que Sileno quebrou, por uma única vez, o silêncio:

Jules Dalou. O triunfo de Sileno. Jardin du Luxembourg. 1885.

Jules Dalou. O triunfo de Sileno. Jardin du Luxembourg. 1885.

“– Ignóbil raça, essa a dos homens, efêmeros rebentos do acaso e dos maus dias. Tão afastados estais da natureza que nem mesmo sabeis o que é melhor para vós próprios. Seres patéticos; e tu, filho de Górgias e Cibele, a quem chamam de Midas, Rei da Frígia, nada mais és senão fiel representante desta raça. Não há dúvida, estás a altura dela. Não vês? Por quais tolas razões queres saber algo que para ti é inalcançável? O que é o melhor para os homens, tu me perguntas. Creia-me, para ti, melhor mesmo seria não sabê-lo. Porém, como estás obstinado, revelar-te-ei o que não precisas para te manteres são. O melhor para ti seria não teres vindo à luz, não teres nascido. Não ser, ser nada, isto seria o melhor para ti e para os demais da tua estirpe. Contudo, como hoje te encontras a distância do infinito de tal logro, resta-te ainda uma opção: agora, o melhor para ti é cedo morrer. Assim, retornarás a tua verdadeira condição pretérita, menor que o mínimo. “ (https://scribatus.wordpress.com/2013/08/24/sileno/).

Sítio Arqueológico de Volubilis. Ruínas Romanas. Mosaico do Desultor. Sécs I a III.

Sítio Arqueológico de Volubilis. Ruínas Romanas. Mosaico do Desultor. Sécs I a III.

O rei Midas deu abrigo a Sileno. Poucos dias depois, Dionísio vem buscar Sileno. Agradecido, diz a Midas para formular um desejo. O pedido foi que tudo o que tocasse se transformasse em ouro. Um presente envenenado. Mas essa já é outra história.

Silène sur son âne, bas-relief funéraire romain. Rheinisches Landesmuseum Trier

Silène sur son âne (parece mais um hipocampo), bas-relief funéraire romain. Rheinisches Landesmuseum Trier

Tags: , , , , , ,

4 responses to “Sileno, o vinho e o burro”

  1. Carlos Raposo says :

    Olá;

    Apenas para agradecer a menção ao meu site, através das “palavras” de Sileno.

    Abraços.

Leave a Reply

%d bloggers like this: