A natalidade à luz da publicidade
Portugal está em “alerta super-vermelho” por causa da natalidade. Assim o entendem os especialistas e os políticos. É razão para franco regozijo, uma vez que o motivo já existe há várias décadas, mas o atraso não é, contudo, de séculos (ver gráfico 1). Esperar que a situação apodreça para intervir é uma forma de estar no mundo e na política. Precisamos de tomar balanço. É uma propensão. Nos anos setenta, o governo francês já adoptava medidas “robustas” para estabilizar e, se possível, inverter a tendência da taxa de natalidade. Consegue-o a partir do início dos anos 1990 (ver gráfico 2). Assim sucedeu, também, na Alemanha e noutros países europeus. O problema é que este problema tem dom de se tornar fonte do problema. Os filhos que ficaram por nascer nos anos setenta e oitenta não têm agora filhos. Brincando com conceitos caros à sociologia e à demografia, estamos perante um efeito de falta de geração.
Mas abordemos o problema com a seriedade que nos caracteriza. A quebra da natalidade pode ter a ver com automóveis e cosméticos. Pelo menos, a fazer fé nestes dois anúncios brasileiros da JWT.
O anúncio Solteira, da Avon, revela como um toque de cosmético pode transformar uma mulher numa mega solteira, mega tudo, megapracima, mega liberta de homem mosca ou lapa.
Marca: Avon. Título: Solteira. Agência: JWT Brasil. Brasil, Março 2014.
No segundo anúncio, Casa (Ford Focus), uma mulher queixa-se que o marido sai da cama a meio da noite para ir conduzir. Este “desejo de dirigir” pode colidir com o desejo de procriar. Diminui a oportunidade. Automóveis atraentes e viciadores podem dificultar a estabilização ou a inversão da tendência da natalidade.
Marca: Ford Focus. Título: Casa. Agência: JWT Brasil. Brasil, Março 2014.
Em suma, combater a quebra da natalidade é missão complicada. O que vale é que, se a natalidade não tem dado sinais positivos, os especialistas têm crescido que nem cogumelos, lembrando a teoria da geração espontânea. Pasteur, se calhar, não tinha razão.
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