Um dia perfeito
Hoje, revi teses de mestrado. Em fim de prazo, caem como dióspiros. Actualizei, fora de tempo, o currículo na página da FCT. Retoquei uma conferência integrada na reinauguração da Casa das Artes. Refiz, pela quinta vez, a distribuição por grupos dos alunos de uma unidade curricular sui generis. Ainda não visitei o correio electrónico. É um prazer que gosto de adiar; mensagens marinadas têm outro encanto. Não passeei na areia, nem nos rochedos, nem na floresta. Vi autocarros na ponte 25 de Abril e peões na ponte do Infante. Se calhar, uma miragem. Ou um golpe de asa de um povo espremido. Acode-me, por vezes, a suspeita de que, para os novos “salvadores da Pátria”, o povo só vale pelo pouco que ganha.
Vou regressar às teses… Está uma luz perfeita para a leitura. Os pensadores da pós-modernidade proclamam a “conquista do presente”. Albergará essa conquista um homem abissal? No extremo do promontório, o homem, conquistador do presente, já não consegue olhar para trás, convocar o lastro do passado, nem para o horizonte, sondar a promessa do futuro, olha apenas para baixo, para a vertigem do abismo.
Canções como Perfect Day, do Lou Reed, são vacinas contra esta estreiteza de perspectivas.
É sábado, um dia perfeito. Just a Perfect Day…
Lou Reed. Perfect Day.