Archive | Novembro 2011

A magia do secador de cabelo

Há objectos que não estão fadados para despoletar o sonho? Por exemplo, os secadores de cabelo? Desenganem-se. Tudo, mesmo tudo, pode funcionar como faísca onírica. Pelo menos, nos vídeos de Bruno Aveillan. Sem perder beleza, a magia democratizou-se.

Apesar de este post, com três anúncios de Bruno Aveillan, já ir longo, acrescento, a propósito, o vídeo musical “Lux libera nos”, de Roberto Cacciapaglia.

Anunciante: Thermasilk. Títulos: 1) Dragon; 2) Dagger; 3) Party. Agência:  J. Walter Thompson (New York). Direcção: Bruno Aveillan. EUA, 2002.

Bilhete postal com mulher dentro

A fazer fé no anúncio “Natural Skin Therapy”, as bombas na Coreia do Sul são anatómicas, comportando uma estética que, em alguns aspectos, lembra o trabalho do realizador francês Bruno Aveillan (ver, por exemplo, o anúncio Jessica Stam para o perfume Eau de Rochas).

Marca: Maybreeze. Título: Skin Natural Therapy. Agência: Ogilvy. Direcção: Jong Min Lee.  República da Coreia (Coreia do Sul), Novembro 2010.

Marca: Eau de Rochas. Título: Jessica Stam. Direcção: Bruno Aveillan. França.

O Carnaval das mãos

Devemos dar, descontraidamente, a devida atenção às mãos. Elas merecem. Para ajudar, três anúncios dignos de ser (re)vistos.

Marca: Volswagen Phaeton. Título: Handwork. Agência: Grabarz and Partner. EUA, 2004.

Marca: Guinness Beer. Título: Hands. Agência: Amv BBDO. Direcção: Michael Schlingman. Reino Unido. 2007.

Anunciante: Learning Skills Council. Título: Innate Skills. Agência: Leo Burnett. Reino Unido, 2007.

Prisão de espírito

Coitados! Sobretudo o enterrado na areia com a careca ao sol… Coitados! Com prisão de ventre. E nós solidários, com um sorriso no canto da boca. E se, em vez do ventre, lhes doesse o peito ou a cabeça? E nós solidários, com uma lágrima no canto do olho. Assim vai o nosso mapeamento do corpo humano. Com prisão de espírito!

Anunciante: Dukoral. Título: Not a Good Time. Agência: Torre Lazur Mccann. Direcção: John Grammatico. Canadá, Novembro 2011.

Metal Orchestra

Este anúncio da Citröen promove um contrabando de géneros e de intérpretes musicais. Vemos uma orquestra sinfónica e ouvimos uma música industrial metal, por sinal de Marylin Manson, o tal do The Golden Age of Grotesque (2003). Grotescar um pouco não faz mal a ninguém. E, se for com estilo, até cai bem!

Marca: Citröen. Título: Orchestra. Agência: Buf H Paris / Paranoid Paris. Direcção: Benoit Debie, Michael Fitzmaurice. França, Novembro 2011.

Jóias de fogo

Estes anúncios da Joalharia norueguesa Bjorg são controversos. Não dão azo à indiferença. É provável que a maioria não goste. Parecem remeter para a arte contemporânea, com uma depuração estética que se demora sobre as formas e suspende a questão da bondade ou da maldade dos conteúdos. Na lentidão das imagens, multiplicam-se as referências à arte, nomeadamente à fotografia e ao cinema. Estes anúncios querem-se arte, mas também promoção da marca. Mais do que mecenas do estranho e do grotesco, a Bjorg aspira a ser o seu usufrutuário. Que a Bjorg queira vender jóias, é normal. Que enverede por este género de anúncios, é a sua aposta. Quanto à arte, há muito tempo que saiu dos estúdios e dos museus. Anda por aí, até na publicidade.

Anunciante: Bjorg Jewellery. Título: Heresy. Direcção: Matias & Mathias.  Noruega, 2011.

Anunciante: Bjorg Jewellery: Título: Mmix. Direcção: Matias & Mathias. Noruega, 2009.

Bjorg. Heresy Poster

Bjorg. Hungry Zombieboy

Ecologia de Natal

A Orange acaba de nos brindar com mais um “conto de Natal” ao jeito de E.T.A. Hoffmann. Estranho, divertido, animado. Que tal um trabalho sobre a sombra de E.T.A. Hoffmann no imaginário fantástico contemporâneo. Não há nenhum louco à solta?

Anunciante: Orange. Título: Noel. Agência: Publicis Conseil. Direcção: Gary de The Glue Society. França, Novembro 2011.

O lobo descende do homem

Eis uma prova convincente, uma evidência, de que o lobo descende do homem. Mantiveram-se algumas características  (a atracção sexual) enquanto que outras se perderam (a paixão pelos carros). São, pelos vistos, mais inteligentes.

Marca: Passionata. Título: Wolves. França, Dezembro 1998.

Vida sobre rodas

Que bom ver o humor e a solidariedade a dar as mãos! Que pena que este anúncio de sensibilização, premiado em Cannes, seja uma raridade na internet! Mesmo depois de acertar com as palavras-chave, encontrámos apenas quatro sites, dois a pagar. Razão para a opção pelo upload do ficheiro em vez do simples link.

Anunciante: Aftonbladet / Media Network. Título: The Wheelchair. Agência: Paradise DDB. Suécia. 2002.

A pausa

Este Hypnotist, para a marca Nescafé, é lindo. Traz à memória  um dos anúncios mais belos da história da publicidade: o Rewind City, da Orange TV. Um hipnotizador suspende o tempo e o movimento. Congela o mundo. Com pequenos retoques, promove a comunicação entre as pessoas, despertando-as para a felicidade. Qual é o truque? Uma pausa para uma chávena de Nescafé é quanto basta para reparar o mundo e a vida. À semelhança do movimento de retrocesso em Rewind City, a suspensão manifesta-se reparadora.

Marca: Nescafé. Título: Hypnotist. Agência: Anonynous Content. Direcção: Christian Bevilacqua. EUA, Novembro 2011.

Rewind City, Orange TV, Ag. PUBLICIS CONSEIL, Dir. Ringan Ledwidge, França, Maio 2008.

“Rewind City é um anúncio de excepcional qualidade estética. Bastante longo (91 segundos), multiplica as pontes com o cinema. A produção esteve, aliás, associada ao filme Por favor, rebobine (2008), de Michel Gondry. Numa populosa cidade da Índia, uma jovem chora, sem desprender os olhos de um autocarro que se afasta. Sensibilizado, um taxista engrena a marcha atrás e pede aos presentes para, também eles, andarem para trás. Todos, atendendo ao pedido ou por imitação, invertem os movimentos. Volvido algum tempo, o autocarro regressa de marcha atrás. Um jovem desce, recuando, e abraça, apaixonadamente, a namorada. O autocarro reparte, agora, sem o jovem.

Trata-se de uma paródia com ironia fina. De um ponto de vista técnico estrito, não se trata de um rewind. Mas faz de conta. O barbeiro, por exemplo, pousa as madeixas de cabelo cortado na cabeça do cliente. A sincronia apresenta falhas. Cada um recua, a seu ritmo, como pode: uns com dificuldade, como o ciclista, outros, como os peões, mais à vontade. Tão pouco começam todos ao mesmo tempo: por exemplo, o varredor, que lembra o colega do filme Meu Tio (1958) de Jacques Tati, só começa a recuar, ou seja, a espalhar o lixo, no fim. Mas é, precisamente, nesta inconsistência que repousa a riqueza, a complexidade e a imprevisibilidade do anúncio. Para lhe fazer justiça, é preciso rebobiná-lo e revê-lo várias vezes.

As pessoas recuam para reverter o curso dos acontecimentos. Recuam e, por artes mágicas, o jovem regressa. A separação e o vazio ficam resolvidos num abraço. A situação foi reparada. Neste, como noutros anúncios congéneres, o resgate do passado visa a regeneração do presente. Perante estas imagens, bem podemos esfregar os olhos que eles continuam embaciados de magia” (Gonçalves, Albertino, “Como nunca ninguém viu: O olhar na publicidade”, in Martins, Moisés de Lemos et alii, Imagem e Pensamento, Coimbra, Grácio Ed., pp. 139-165).