Tag Archive | Schubert

Dono do tempo?

“Agora não é mais dono do seu tempo?” Pergunta uma amiga. Na realidade, ando ocupado. Talvez para fugir do vazio, vou-me deixando ocupar. Os meus colegas e amigos também andam ocupados, mas com coisas importantes: meetings, calls, papers, media, projects, reports, classrooms, contracts, bureaucracies, protocols, platforms, virtualities, travels, budgets, referees, metrics, contests, prices, rankings, positions & propositions. As minhas ocupações resumem-se a minudências invisíveis: revejo e traduzo textos alheios, presto-me a ser organizador sombra ou suplente de última hora, preparo aulas e encontros na aldeia, entrego-me a investigações vadias, intermitentes e gratuitas, edito e reescrevo livros que nunca têm fim, cuido da saúde que bem precisa e convivo cada vez mais com os amigos. Vale-me isso e a música, minha musa e companhia. E insisto em pingar pensamentos e sentimentos neste blogue. É certo que, reformado, a maioria destas atividades, decididas ou aceites, são livres. Mas uma vez iniciadas deixam de o ser. Devoram recursos e tempo. Regressando à pergunta inicial: neste momento, sou menos dono do meu tempo, mas provisoriamente. Trata-se de uma perda a que não me resigno, que não sei se prefiro à riqueza de ter todo o tempo do mundo.

Franz Schubert. Serenade. 1826. Camille Thomas and Beatrice Berrut. Live at Palais des Beaux-Arts in Brussels on June 5, 2011
Vanessa-Mae. A Poet’s Quest (For a Distant Paradise). Vanessa-Mae Storm. 1997

Música e imagem

Kathia buniatishvill. Fotografia de Jean-Baptiste Mondino.

“Nunca tenho receio do “excesso” – excesso de amor, liberdade, imaginação ou respeito, porque essas coisas são imateriais e emocionais e não podem ser medidas ou limitadas” (Khatia Buniatishvili).

Quando penso na música clássica a render-se à imagem contemporânea, acode-me a talentosa pianista francesa de origem georgiana Khatia Buniatishvili. Um prodígio que não teme excessos! A “pop star do mundo da música clássica”. Quem mais poderia ser?

Khatia Buniatishvili – Schubert – Behind the Scenes. Schubert: Ständchen, S. 560 (Trans. From Schwanengesang No.4, D. 957).
Khatia Buniatishvili’s new music video for “Gymnopédie No.1” by Erik Satie from her new album “Labyrinth.”
Khatia Buniatishvili. Ungarische Rhapsody Nr. 2 cis-moll/v.Franz Liszt. Khatia’s arrangement.

Alívio

Chove no inferno!

Schubert: Impromptu In G-Flat Major, D899, Op. 90 No. 3. Versão de Friedrich Guilda.

Impromptus

Sonhem com os anjos.

4 Impromptus, D. 899, Op. 90: No. 3 in G-Flat Major · Murray Perahia · Franz Schubert

O piano, as mãos e o resto.

Khatia Buniatishvili.

As palavras pedem férias. Enquanto não as leva o vento, não nos dão tréguas. As palavras são a coisa humana mais infestante.

Khatia Buniatishvili é uma pianista célebre, famosa pelas mãos e pelos decotes. Seguem três interpretações: Rachmaninov, Schubert e Brahms.

Khatia Buniatishvili. Rachmaninov – Piano Concerto No.2 (Adagio sostenuto) Orchestre Un Violon sur le sable. Direction Jérôme Pillement. 2017.
Khatia Buniatishvili. Schubert: Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90, D. 899. 2019.
Khatia Buniatishvili, Yuja Wang. Brahms, Hungarian Dance No. 1. 2011.

Música para não ouvir na areia

Revisitemos Paris com a pianista franco-georgiana Khatia Buniatishvili. Há três semanas, no dia 14 de Julho, dia nacional da França, Khatia Buniatishvili toca Mozart, músico barroco, acompanhada pela Orchestre Nationale de France, no Champs de Mars, junto à Torre Eiffel (vídeo 1). O ambiente é excessivo, barroco. Até a torre Eiffel parece um anjo tocheiro… Mais artifício do que artefacto. Só faltou o Jean-Michel Jarre.

Paris é uma cidade barroca? Nem por isso. Nada a ver com cidades barrocas como Roma ou Braga. A relação histórica da França com o barroco é complicada. Existem vários exemplares barrocos em Paris. Por exemplo, a capela da Sorbonne ou a igreja dos Invalides. O insuficiente para fazer de Paris uma cidade barroca. Paris é gótico e neoclássico. Gótico, da Notre Dame, da Sainte Chapelle e da torre de Saint Jacques. Neoclássico, da Igreja da Madeleine, da praça da Concorde ou do Arco de Triunfo.

Paris não é barroco? Talvez. Menos ao nível do monumento e mais ao nível do acontecimento. Paris é uma das capitais mais destacadas do efémero, o efémero caro ao barroco dos séculos XVII e XVIII: triunfos, festas, festivais de água e luz, efemérides, concertos, bailes, paradas, desfiles e procissões… Paris é barroco, por exemplo, no que respeita à moda: roupas, joias, adereços, perfumes, protagonistas, desfiles, anúncios publicitários… Paris também é barroco na política: recordo a cerimónia da visita ao Panthéon por François Mitterrand, em 1981, recém-eleito Presidente da República (ver https://tendimag.com/2015/01/04/sociologia-sem-palavras-15-a-encenacao-do-poder/). Paris é ainda barroco pela cultura: recordo vários eventos, entre os quais a efémera Fête de la Musique, uma iniciativa do ministro da cultura Jacques Lang, no início dos anos oitenta: na noite de 21 de Junho, data de início da Primavera, qualquer pessoa ou grupo pode tocar música nas ruas de Paris.

Acrescento dois vídeos em que Khatia Buniatishvili toca Schubert (vídeo 2) e Beethoven (vídeo 3).

Khatia Buniatishvili – Mozart Piano Concerto no.23 (14 Juillet 2019).
Khatia Buniatishvili – Schubert: Impromptu No. 3 in G-Flat Major, Op. 90, D. 899.
Khatia Buniatishvili. Largo from Beethoven’s Piano Concerto No. 1 in C Major, Op. 15.

Morte flutuante

Não é a primeira vez que proponho aos alunos de Sociologia da Arte um trabalho prático apostado na relação entre autores, obras, correntes ou eventos de dois géneros artísticos distintos. A arte, concebida num sentido abrangente, pode incluir, por exemplo, videojogos, anúncios publicitários, street art… Trata-se de um desafio para os alunos e para o professor. Todos aprendemos, embora, sobranceiros, os doxósofos passem por estas iniciativas como quem passa por um amontoado de silvas.

Durante a apresentação dos trabalhos, já lá vão dois meses, pedi autorização à Ana Berenguer para publicar, no Tendências do Imaginário, o seu trabalho Ophelia: A sua inspiração e a sua representação na Pintura e na Cultura Pop.

Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto. Ao pdf do trabalho da Ana Berenguer, já por si muito rico, acrescento um vídeo da pianista Khatia Buniatishvili, que convoca, também, o corpo flutuante de Ophelia.

Seguem o trabalho da Ana Berenguer (para aceder “descarregar”) e o vídeo de Khatia Buniatishvili.

Khatia Buniatishvili. Schubert / F. Liszt – “Ständchen” (1826).

Calças de perder a cabeça

REPLAY_Hyperskin_SP_Image-2-724x1024

Ave Maria por Ave Maria, este anúncio optou por a de Franz Schubert, originalmente intitulada Ellens dritter Gesang (1825).

As calças Replay Hyperskin são tão flexíveis e tão leves que nem dá para sentir.

Se se cruzar com um par de calças Replay, olhe sem ver, imagine o nu e esqueça as calças, não vá perder, com o espanto, a cabeça, que tão mau aparafusada anda.

Permitam-me acrescentar um intérprete, eventualmente inesperado, da Ave Maria de Schubert: Nina Hagen, considerada por muitos a “Rainha do Punk”: Ave Maria, Nina Hagen (1989).

Marca: Replay Hyperskin. Título: A New Dimension in Denim Experience. Agência: 180 Amsterdam. Direcção: Tell no one. Holanda, Outubro 2015.