Tag Archive | intervenção

Uma intervenção memorável

Com Jean-Claude Beaudoin, Idália e Odete no dia do naufrágio. Fotógrafo: Jean-Martin Rabot

A estação das homenagens acabou. Terça, dia 29 de novembro, foi uma festa. No ambiente acolhedor do museu D. Diogo de Sousa, foram sábios e generosos os testemunhos dos colegas e amigos, inspiradas e alegres as danças do Grupo Etnográfico da Casa do Povo de Melgaço, virtuosa e tocante a guitarra do Francisco Berény Domingues, franco e caloroso o público, cuidado e oportuno o lançamento do livro Sociologia do Imaginário e reparador o alvarinho de honra. Ritual, a “lição” lembrou vagamente as antigas aulas.

No dia 8 de novembro, por ocasião do 46º aniversário, o Instituto de Ciências Sociais entendeu dedicar-me um momento de “despedida”. Coube a apresentação, inspirada e eloquente, ao colega e amigo Jean-Martin Rabot. Excessivo no elogio, introduziu um momento inesquecível temperado por um humor inconfundível e desconcertante. Somos os membros mais antigos do Departamento de Sociologia. Um par de decanos que partilhou experiências inenarráveis.

Jovens, aproveitamos as férias de Natal para nos deslocar, eu a Paris e ele a Estrasburgo, no carro, um “dois cavalos”, do Jean-Claude Beaudoin, então leitor de francês na Universidade do Minho. Nevava. Nevou, aliás, toda a viagem. Ainda em Trás-os-Montes, uma roda danificou-se num buraco. Tivemos que ir concertá-la a Montalegre. Retomada a estrada, o limpa para brisas regulava-se pelo acelerador: ora mais depressa, ora mais devagar, consoante a velocidade. A neve só desapareceu, com o piso salgado, quando entrámos em França. E assim peregrinámos gelados durante um dia e uma noite. Chegados a Paris, o Jean-Claude Beaudouin perguntou como seria o reencontro para o regresso. Ambos respondemos: “Se não te importas, vamos de comboio”.

Outra vez, estava a jogar matrecos na esplanada do café da minha freguesia, Prado, em Melgaço. Sou um aficionado. No comércio da família, tínhamos matrecos. Em criança, colocavam-me em cima de uma caixa de madeira para jogar. Eis que, ao longe, surgem duas pessoas molhadas da cabeça aos pés, com colete salva-vidas e um remo na mão. Aproximam-se… O Jean-Martin Rabot e o Jean-Claude Beaudoin! Tinham ido estrear o caiaque do Jean-Claude no rio Minho que desastradamente perderam num dos troços que são, agora, atração do rafting. “Malucos, diz um velho, eles não sabiam que o rio tem correntes e remoinhos perigosíssimos!”. Pelos vistos, não. Tiveram a coragem dos ignorantes e a sorte dos inocentes.

Segue, com cumplicidade e gratidão, a intervenção do Jean-Martin Rabot.

Jean Martin Rabot. Apresentação de Albertino Gonçalves. Instituto de Ciências Sociais, 8 de novembro de 2022

O naufrágio da modernidade

BBK. Bihar. 2022

Nada como uma boa ideia, de preferência simples e com impacto. Muito impacto. Mesmo que seja num ventre mole. Muito mole. A iniciativa Bihar, uma escultura hiper-realista de uma menina a afundar-se na ria de Bilbao, promovida pela instituição financeira BBK (Bilbao Bizkaia Kutxa), conseguiu uma gigantesca notoriedade gratuita no horário nobre da comunicação social ao nível planetário. Antecipando o futuro, em particular a ameaça das alterações climáticas, a campanha nos media, Leão de Prata em Cannes, desdobra-se num anúncio (2:15) e numa curta-metragem (17:01).

Anúncio – Anunciante: BBK. Título: Bihar: Elegir el mañana. Agência: LLYC. Música: Ólafur Arnalds – Only The Winds. Espanha, março 2022.
Curta-metragem – Anunciante: BBK. Título: Bihar: Elegir el mañana. Agência: LLYC. Música: Ólafur Arnalds – Only The Winds. Espanha, março 2022.

E se tentássemos…

Federación Mexicana de Sordos. Tik Tok Teachers. 2022.

De 20 a 24 de junho decorreu em Cannes o maior festival internacional de publicidade. A agência DDB México conquistou um Leão de Ouro, correspondente ao primeiro lugar na categoria Creative Data Grand Prix, com o anúncio Data Tienda, e um Leão de Bronze, com o anúncio Tik Tok Teachers, na categoria Social & Influencers.

No anúncio Data Tienda, a We Capital diagnostica um problema de exclusão social na sociedade mexicana: as mulheres que não recorrem ao crédito registado (através de cartões de crédito ou de instituições financeiras) não têm acesso a empréstimos devido à falta de historial. Não obstante, possuem uma longa prática de recurso ao crédito mas fora do circuito bancário. Compram a fiado com pagamento regular, por exemplo, a lojistas. A We Capital criou uma base de dados que contempla estas “operações financeiras” até ao presente ignoradas.

“A We Capital venceu o Creative Data Grand Prix deste ano com “Data Tienda”, um anúncio sobre inclusão financeira que visa ajudar as mulheres mexicanas a aceder ao crédito. É um caso de um novo pensamento para resolver velhos problemas.
A grande maioria das mulheres no México (83%) não tem histórico de crédito, o que afasta oportunidades de iniciar negócios ou obter independência financeira por meio de pedidos de empréstimos. As mulheres não possuem cartões de crédito tradicionais ou outros registros, mas recorrem a empréstimos em lojas locais.
Criado com a DDB México, o anúncio apresenta uma iniciativa da We Capital. A empresa internacional de investimentos lançou o Data Tienda, um centro de informações financeiras, que recolhe informações de crédito de milhões de mulheres mexicanas através das contas de lojistas locais” (Rafael Canton e Jess Zafarris, An Ad About Giving Women in Mexico Access to Credit Wins Creative Data Grand Prix: https://www.adweek.com/agencies/data-tienda-wecapital-creative-data-grand-prix-cannes-2022/#. Acedido em 28/06/2022).

Anunciante: We Capital. Título: Data Tienda. Agência: DDB Mexico. México, junho 2022.

O anúncio Tienda aborda uma desigualdade de acesso a bens e serviços, o crédito, decorrente de uma exclusão de acesso à comunicação e à informação. A exclusão da informação é decisiva numa nova era histórica que Alain Touraine (La Société post-industrielle, 1969) e Daniel Bell (The Coming of Post Industrial Society, 1973) classificaram, há meio século, como uma “sociedade da informação”.

De exclusão social trata também o anúncio Tik Tok Teachers. Existe um excessivo desconhecimento das línguas gestuais, um défice de literacia no que respeita à comunicação entre surdos e ouvintes na sociedade atual. Federación Mexicana de Sordos decidiu aproveitar as potencialidades da plataforma Tik Tok para promover um extenso dicionário de língua gestual criado e animado pelos próprios utilizadores (acima de ” 3.4 milhões de professores ao vivo” em poucos dias).

“Enseñar lengua de señas a la población mexicana en general es la mejor forma de incluir a más de 8 millones de sordos en la sociedad, pero con solo 10 profesores en todo el país, es una tarea casi imposible. / Por eso el día nacional del sordo, lanzamos: TikTok Teachers. Un reto totalmente orgánico con el que pasamos de 10 profesores a 3.4 millones de profesores en vivo, nos convertimos en tendencia durante 4 días y creamos el primer diccionario de lengua de señas en TikTok que reúne en un solo hashtag las 1.300 palabras que conforman el diccionario original” (Tik Tok Teachers: https://www.youtube.com/watch?v=BoGrmumvouU&t=5s. Acedido em 28/06/2022).

Anunciante: Federación Mexicana de Sordos.Título: Tik Tok Teachers. Agência: DDB Mexico. México, junho 2022.

“Não temos petróleo, mas temos ideias” foi o slogan adotado em França no rescaldo da crise petrolífera de 1973. Uma ideia consistiu na introdução da mudança anual da hora com o objetivo de baixar o consumo de energia. Mão é apenas por causa do petróleo que fazem falta ideias. Revelam-se, também, decisivas para promover a inclusão social. Afortunadamente, existem muitas. Algumas tornaram-se célebres, como os “Restaurantes do Coração”, criados pelo ator cómico Coluche em França em 1985. Hoje, os “Restos du Coeur” congregam, no país, 11 delegações regionais e perto de 2 000 centros de atividades.

Sem ideias criativas, as boas intenções, e respetivos dispositivos e recursos, correm o risco de redundar em insucesso e desperdício. Para uma intervenção de inclusão social consequente, importa:

  • Conhecer
  •                os promotores e suas motivações
  •                as populações alvo, as suas condições e estilos de vida;
  •                o que está em jogo, os falsos pretextos e as perversidades;
  •                as dificuldades e os obstáculos previsíveis;
  • Envolver
  •                apostar em pontes, plataformas e parcerias;
  •                trabalhar menos para (os excluídos) e mais com (eles);
  •                aproveitar as dinâmicas existentes, sobretudo endógenas.
  • Potenciar
  •                oportunidades;
  •                vontades;
  •                a inovação e a criatividade;
  •                os recursos, mormente os media e as novas tecnologias.

Para intervir, não basta querer, convém conhecer, envolver e potenciar. E evitar soluções palacianas e a tentação de “levar a corte à aldeia”. Importa, por último, sondar, sinalizar e disseminar as iniciativas exemplares, de modo a replicá-las e inspirar outras afins. E se tentássemos… incluir.

P.S. Não esquecer a avaliação, a partilha e a disseminação, caso se justifique.

Entrevista a Madalena Oliveira

Entrevista com Madalena Oliveira. Boletim ICS, abril 2022.

O Instituto de Ciências Sociais, da Universidade do Minho, adotou como boa prática promover uma entrevista aos ex-membros recentemente reformados, para publicação no respetivo Boletim Informativo. Proporcionou-se uma conversa amável, franca e empática com Madalena Oliveira, atual diretora do Centro de Estudos em Comunicação e Sociedade.

A reforma não é a conclusão de um percurso mas uma nova fase. Não é por ser tão gasto que este provérbio deixa de ser verdade. As janelas de oportunidade modificam-se mas mantêm-se abertas para franquear experiências e arejar espíritos. Noutra condição, por outros caminhos e com novas artes.

Segue a entrevista, em pdf, a Madalena Oliveira.

Naturalmente

Quino. Mafalda. Irresponsáveis.

À Paula Mascarenhas e ao José Neves

Empenhar-me na revisão do livro A Morte na Arte é uma prioridade, mas o Tendências do Imaginário lembra as Mouras Encantadas. Não há modo, apesar da garantia de castigo, de lhes resistir. Esta forma rápida e quase espontânea de acabar um texto mal se começa torna-se um vício. E tudo o que exige aplicação, tempo e paciência, um incómodo. São duas formas de entrega. Uma proporciona um prazer quase imediato, a outra uma vaga recompensa remota. E eu não sou nem asceta nem puritano. Com algumas saudades dos anúncios publicitários, continuo, por um tempo, a insistir na música. Costuma acompanhar-me enquanto trabalho. Volta e meia, um trecho mais atrevido cativa-me a atenção. Uma desconcentração prazerosa. Desta vez, encarei com a canção catalã Pare (1973), de Joan Manuel Serrat, nascido em Barcelona, em 1943. Um ídolo em Espanha. Trata-se de uma canção de combate, género pródigo nos anos setenta, em defesa de uma natureza natural. Segue a música e a tradução da letra em inglês.

Joan Manuel Serrat. Pare. Per Al Meu Amic. 1973

Father
Father, Tell Me,
what have they done to the river, that it no longer sings?
It slips like a dead barbel
under a handspan of white foam.

Father; That the river is no longer the river.
Father, Before the summer comes,
hide everything that is alive.

Father, Tell me,
what have they done to the forest, that now there are no trees?,
In the winter we won’t have fire,
nor in summer a place for shelter.

Father; that the forest is no longer the forest.
Father; before it darkens,
fill with life the pantry.

Without limber and without fish, father,
we will have to burn the small boat,
harvest the wheat
between the ruins, father,
and close with three bolts the house,

…and you said, father…

if there are no pine trees
there will be no pine nuts, nor worms, nor birds.
Father, where there are no flowers,
the bees will not give, nor the wax, nor the honey.

Father, that the country is no longer the country.
Father, tomorrow from the sky will rain blood.
The wind sings it crying.

Father, they are here already,
monsters of meat with worms of iron.
Father, no. Do not have fear,
and say that no, that I will wait for you.

Father, That they are killing the earth,
Father. Stop crying,
That they have declared us the war.

Saudades das aulas

Geese Book. Nuremberga. Alemanha. Entre 1503 e 1510. Volume I – fol. 186r. Morgan Library.

Saudades das aulas? Comparativamente, as restantes experiências universitárias, a carreira, os cargos, a burocracia, os rituais e as rotinas, revelam-se irrisórias ou simplesmente substituíveis. De fraca ressonância, devoto-as ao alívio do recalcamento. Continuo a investigar, a intervir, a comunicar e a acarinhar amizades. Nos momentos aziagos, menos lúcidos, tenta-me reduzir os cerca de quarenta anos de profissão académica a uma extensa insignificância. Acontece nas quebras de polaridade mais negativa. Consola-me a memória de algumas iniciativas, fora de regras e além muros, das quais, não sendo puritano, em assumido pecado, me orgulho. Recordo, para minha própria sanidade, as mais gratas e marcantes, todas na qualidade de promotor, coordenador ou (co)organizador. Muitas nem sequer os meus colegas conhecem. Confesso que estou convencido que se não for eu a dizer o que fiz mais ninguém o fará. Agora que o presente e o futuro andam numa cadeira de rodas, tenho tempo e ensejo para ruminar o passado. Segue, carregado a amarelo, uma espécie de postit ou lembrete terapêutico que enumera vários retalhos da vida de um professor em idade avançada. Se saltar esta lista ou a ignorar, pouco ou nada perde, sem sombra de prejuízo para o tema deste artigo: as aulas.

  • – Seminário Portugal e os Portugueses – Raízes e Horizontes, em Braga, duas semanas de atividades com filhos de emigrantes provenientes de todo o mundo, para a Secretaria de Estado da Emigração, em junho de 1983 (a atividade mais coletiva);
  • XIII Congresso Europeu de Sociologia Rural, em Braga, em abril de 1986 (iniciativa que excedeu os meus limites);
  • – Mediação/organização local, nos anos oitenta, das filmagens de um documentário da BBC sobre a pastorícia e a vezeira na freguesia de Lamas de Mouro, para uma série de ensino de português no Reino Unido (a atividade mais exótica);
  • – Estudo das relações entre residentes e emigrantes, em Braga e Melgaço, 1989-1994 (a investigação mais consistente);
  • – Programa semanário da RTM (Radio e Televisão do Minho) Quarto por Quarto, aos sábados, das 10 às 12 horas, de outubro de 1995 a fevereiro de 1996 (a atividade mais mediática);
  • – Coordenação de estudos nos bairros sociais das Andorinhas, em Braga, e das Lameiras e de Lousado, em Vila Nova de Famalicão, para o IGAPHE (Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado) e o Ministério do Trabalho e da Segurança Social, de 1996 a 1999;
  • Inquérito aos Licenciados da Universidade do Minho (anos 1991 a 1997), para a AAEUM, Braga, 1998 (a atividade de utilidade mais imediata);
  • Conferências de Sociologia, Universidade do Minho, em1997 e 1998:
    • I – Histórias de Vida, Família e Mobilidade Social (11/12/97);
    • II – Jovens e Migrações / Ciência e Sociedade (05/01/98); I
    • II – Pós-Modernidade (09/01/98);
    • IV –  Fontes e Métodos da Demografia (21/05/98);
    • V – Contextos e efeitos sociais do futebol (14/12/98);
  • – Estudo da Romaria da Srª da Agonia, para o Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, de 1998 a 2000 (a atividade que mais se aproximou do lazer);
  • – Mediação/organização local, no início dos anos 2 000, das filmagens de um documentário de uma produtora belga sobre os jogos infantis tradicionais em Portugal;
  • –  Seminário Internacional Transição para o ensino superior, na Universidade do Minho, em 18 e 19 de maio de 2000.
  • – Criação do curso de Mestrado em Sociologia da Cultura e dos Estilos de Vida, na Universidade do Minho, em 2000.
  • Grupo de Missão para a Qualidade do Ensino/Aprendizagem, da Universidade do Minho, de 2000 a 2002;
  • – Criação da revista Sociedade e Cultura, seis publicações, de 2000 a 2004;
  • – Seminário Da Universidade para o Mundo do Trabalho: Desafios para um Diálogo, na Universidade do Minho, em 24 e 25 de maio de 2001;
  • – Criação da série de publicações Apontamentos UM, iniciada em 2001;
  • – Criação do Núcleo de Estudos em Sociologia, em 2002;
  • – Implementação da Rede Social do concelho de Melgaço. e elaboração dos respetivos Diagnóstico Social e Plano de Desenvolvimento Social. de 2003 a 2005 (a atividade de maior intervenção social);
  • Inquérito aos idosos do concelho de Melgaço, para o CLAS e o Município de Melgaço, em 2003 e 2004 (o inquérito com maior impacto social);
  • – Inquérito às Associações Culturais do Concelho de Penafiel, para o Município de Penafiel, em 2003 e 2004
  • – Implementação da Rede Social do concelho de Vila Nova de Cerveira. e elaboração dos respetivos Diagnóstico Social e Plano de Desenvolvimento Social. de 2004 a 2006;
  • – Seminário O Trágico e o Grotesco no Mundo Contemporâneo, no Mosteiro de S. Martinho de Tibães, em 19 de abril de 2005;
  • Inquérito às empresas do concelho de Ribeira de Pena, para a Associação ADRIPÓIO, 2003 a 2005;
  • – Criação e acompanhamento do Espaço Memória e Fronteira (museu dedicado à emigração e ao contrabando), inaugurado no dia 27 de Abril de 2007, para o Município de Melgaço, desde 2005 (a atividade mais visível, mais grata e mais cara: cativado todo o orçamento, sobrou a despesa);
  • Inquérito aos trabalhadores da Zona Industrial de Campos, para o Município de Vila Nova de Cerveira, 2006;
  • – Avaliação do Projeto “Dar Vida às Letras”, para a Rede de Bibliotecas e a Comunidade Intermunicipal do Vale do Minho, 2006 e 2007 (a atividade que granjeou mais reconhecimento internacional e a segunda mais cara: cativados dois terços do orçamento, voltou a sobrar a despesa);
  • Inquérito às necessidades de formação profissional dos concelhos de Guimarães, Fafe e Vizela, para a Associação Sol do Ave, em 2006 e 2007;
  • Comissão Instaladora da Casa-Museu de Monção / Universidade do Minho, 2006 a 2017;
  • – Exposição Vertigens do Barroco: em Jerónimo Baía, e na actualidade, aberta ao público de 24 de março até 2 de Setembro de 2007, na Sala do Recibo do Mosteiro de S. Martinho de Tibães (a atividade mais ousada);
  • – Estudo das Perspetivas de Desenvolvimento do Concelho de Monção, para o Município de Monção e a Casa Museu de Monção / Universidade do Minho, de 2007 a 2009 (a atividade que mais se aproximou da intervenção política);
  • Avaliação do Impacto Social e Cultural de Guimarães 2012 – Capital Europeia de Cultural, para a Fundação Cidade de Guimarães, de 2010 a 2013 (de todas as atividades, aquela que me deu mais trabalho e canseira);
  • – Criação do curso de Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, da Universidade do Minho, em 2011 (o meu maior contributo para a Universidade);
  • – Blogue Tendências do Imaginário, desde agosto 2011: https://wordpress.com/view/tendimag.com (a minha perdição);
  • – Blogue Comunicação, Arte e Cultura, desde outubro 2011: https://wordpress.com/view/comartecultura.wordpress.com (plataforma para os alunos e a maior iniciativa de marketing);
  • – Ciclo de Sessões Percursos Profissionais na Área da Cultura, para o curso de Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, de 2011 a 2013 (a atividade com maior abertura pedagógica):
    • A Promoção da Cultura no Minho Interior, na Universidade do Minho, com Angelina Esteves, Catarina Afonso e Nuno Soares, em 8 de novembro de 2011;
    • Iniciativas Culturais do Mosteiro de Tibães, no Mosteiro de Tibães, com Aida Mata, Mário Brito e Miguel Bandeira, em 15 de novembro de 2011;
    • A Política e a Democracia Cultural, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, com José Bastos e Carlos Martins, em 6 de dezembro de 2011;
    • A Requalificação do Largo do Toural, na Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães, com Maria Manuel Oliveira, António Amaro das Neves e Samuel Silva, em 28 de fevereiro de 2012;
    • Fotografia e Investigação, na Universidade do Minho, com Álvaro Domingues e Isabel Alves, em 2 de março de 2012;
    • A Lã e a Neve – Coreografia, na Caixa Negra da Fábrica Asa, em Guimarães, com Madalena Victorino, em 28 de novembro de 2012;
    • Mulheres da Raia – Sessão com a presença da realizadora, na Universidade do Minho, com Diana Gonçalves, em 9 de abril de 2013;
  • – Exposição Momentos Rurais, do fotógrafo Rui Pires, na Casa Museu de Monção / Universidade do Minho, em junho 2013;
  • – Estudos das festas e romarias de São Bartolomeu de Cavez, das Papas, de S. Tiago, de Santa Senhorinha, de Nossa Senhora dos Remédios e de S. Miguel, do concelho de Cabeceiras de Basto, para o Município de Cabeceiras de Basto, de 2011 a 2013;
  • Escola da Primavera, em Monção e Melgaço. Atividade destinada aos alunos dos cursos de Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, Doutoramento em Ciências da Comunicação e dos três ciclos de ensino em Sociologia, da Universidade do Minho. Aberta à comunidade. Anual, desde 2013 (a atividade mais diplomática, agradável e oportuna);
  • – Comemoração dos 25 anos da Licenciatura em Sociologia, Universidade do Minho, 20 de outubro de 2015;
  • – Alteração do curso de Mestrado em Sociologia, em 2017 (conjunto de iniciativas que se destacam pelo diagnóstico e pelo sucesso);
  • Encontros de Sociologia, no Mosteiro São Martinho de Tibães, iniciados em 2018.
  • Encontros Minho-Galiza:
    • – II, Casa Museu da Universidade do Minho em Monção, em 2017;
    • – III, Auditório de Goyan, em 2018;
    • – IV, Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em 2019;
  • Quem somos os que aqui estamos? Programa de monografias, documentários, fotografia e eventos dedicado aos agrupamentos de freguesias do concelho de Melgaço, para a Associação Ao Norte e o Município de Melgaço. Concluídos os agrupamentos de Parada do Monte – Cubalhão e Prado – Remoães, está em curso o estudo do agrupamento de Castro Laboreiro – Lamas de Mouro. Programa iniciado em 2016 (a atividade mais reflexiva).

Este inventário configura uma espécie de testamento de uma fase da vida. Admito que fui um péssimo agricultor: semeei tanto e colhi tão pouco. Convém ressalvar as aulas e os alunos, pelo desafio e pela recompensa.
Subsiste a noção de que as aulas totalizam unidades coerentemente lecionadas, enquadradas, planeadas e sumariadas. Graças à lógica ou à dialética, o professor conduz o aluno pela mão, de argumento em contra argumento, até à verdade final, como quem peregrina um caminho de Santiago. Sondam-se horizontes, somam-se marcos, semeia-se o trigo, separa-se o joio, numa álgebra do pensamento.
Numa aula, proporciona-se expor ou compor, partilhar ou construir conhecimento. Metaforicamente, não deixa de ser romântico propor-se rasgar janelas em anfiteatros claustrofóbicos, esboçar sombras em salas soalheiras ou erguer pontes entre corredores paralelos. Comungar o possível, a dúvida e o paradoxo, o improviso e o imprevisto, a um ritmo de jazz pedagógico. Uma aula quer-se uma performance, em que quase tudo pode servir como “material didático”: teorias, métodos, técnicas e análises, mas também artes e letras, documentários, filmes, anúncios, pintura, escultura, música, objetos, documentos, testemunhos, anedotas, convites, visitas, entrevistas, eventos… O mundo da vida senta-se na mesma sala em que professor e alunos são partes participantes, sabendo que sem criatividade, interpretação e diálogo não existe recurso ou visita que acrescente valor. A monotonia e a monologia abrem-se à polifonia e à diversidade. Um dos principais desafios consiste em cruzar fontes e alinhavar realidades distintas. Por composição e recomposição, a aula oferece-se como um mosaico ou uma travessia em que cada um, professor ou aluno, desenha o seu próprio percurso. A aprendizagem é heterogénea. A assimilação, a compreensão e a retenção variam consoante as competências, os interesses e as disposições. O professor confronta-se com uma multiplicidade de registos, asseverando-se difícil agir em consonância. Trata-se de uma demanda de sintonia que releva praticamente do milagre.
Não é óbvio navegar nestas águas e ainda menos chegar a bom porto. Quando muito, aproximamo-nos. As aulas são particularmente exigentes e vulneráveis. Requerem esforço, adesão, concentração, flexibilidade e investimento pessoal. Não se prestam à passividade, à rotina e à atenção intermitente. Interligar informação díspar não é confortável nem sequer se apoia numa atitude natural. Pressupõe predisposição e preparação, qualidades nem sempre desenvolvidas durante a trajetória escolar. Os alunos tendem a vir calibrados por e para aulas clássicas. O risco de rutura da comunicação é, assim, elevado. Desligar é um risco, uma outra forma de estar: olhar para a janela e embarcar noutro comboio, entreter-se com o telemóvel, distrair os colegas ou, simplesmente, entregar-se à evasão interior. Os alunos não têm todos o mesmo capital, o mesmo passado e a mesma experiência, o que institui desigualdades e injustiças de problemática e incerta reparação. Estas aulas correm o risco de pedir aquilo que, à partida, não foi oferecido. Neste caso, podem encobrir um fundo e uma perversidade elitistas.
Aulas que exigem esforço, concentração e participação apostam na motivação. O investimento deve compensar, a vários títulos. Aprender com prazer não é uma quimera. Ensinar não é apenas, como dita a etimologia, marcar. É, também, envolver e entusiasmar. A razão não é a única hóspede da sala de aula. Para além do Homo sapiens, o professor também lida com o Homo aestheticus (Luc Ferry, Homo Aestheticus, 1990) e o Homo eroticus (Michel Maffesoli, Homo Eroticus, 1990). As aulas são um “fenómeno social total” (Marcel Mauss). Dar aulas, mais do que uma profissão e do que uma vocação, é uma arte. E a universidade, para além do saber intrínseco das disciplinas, deve prodigar cultura e, mais do que saber, sabedoria. É esse o seu batismo.
A interação na sala de aula é decisiva. Caracteriza-se pela abertura; e a abertura pelo imponderável. Nunca se está suficientemente seguro, dotado ou atualizado. Uma boa cultura geral só pode ajudar. Não há apontamentos nem apresentações que valham, que consigam antecipar e dominar os tópicos e os desvios não só previsíveis mas também potenciais. Auxilia possuir um bom acervo de recursos mobilizáveis, ao mesmo tempo adequados e oportunos. Alguns, se possível, da própria autoria do professor ou, inclusivamente, dos alunos. Convém, enfim, ser bom marinheiro. Quando se navega em águas dispersas, com vários mapas e bússolas, torna-se vital a gestão das âncoras. A abertura e eventual dispersão não dispensam a tensão da compressão, querem-se minimamente articuladas, encadeadas e regularmente sintetizadas. De outro modo, corre-se o risco de se perderem alunos e professores. Por mais originais que as aulas se desejem, cumpre-lhes respeitar os objetivos e os conteúdos programáticos da disciplina.
Este tipo de aula expõe-se a uma espécie de penalização indireta. Os procedimentos e os formulários da avaliação passam ao largo da sua especificidade e do seu valor. Com o professor Leandro de Almeida e demais colegas do Grupo de Missão para a Qualidade do Ensino-Aprendizagem, participei na elaboração do primeiro questionário de (auto)avaliação da Universidade do Minho. Tivemos a preocupação de contemplar várias dimensões consistentes, mediante análises fatoriais, testes e benchmarking. Um instrumento desta índole nunca é perfeito. Sofreu, desde então, alterações significativas. Tornou-se mais unidimensional, com itens mais abrangentes e menos incisivos, com ênfase na vertente administrativa e disciplinar em detrimento da formativa e pedagógica. O que ganhou, porventura, em operacionalidade perdeu em validade. Em suma, passa um pouco a leste da inovação pedagógica e do cabo da Boa Esperança.
Estas aulas são, sem dúvida, uma anomalia! Por isso, tenho tantas saudades delas. Eram a modos como o meu desporto favorito. O meu desporto atual é mais solitário, pouco interativo, menos exigente, menos desafiante e menos empolgante. Estou a falar deste blogue.

Liber ethicorum des Henricus de Alemannia. Scena – Henricus de Alemannia con i suoi studenti. Sec. XIV.

Bonecos de plástico

Coca-Cola. Hello Happiness

Acabo de ouvir sábios. E falta-me tempo para ouvir os filhos! Estou com uma pinga de mau humor. Quando era criança, brincava com bonecos de plástico que vinham nas embalagens de gelados. Dispunha-os assim, dispunha-os assado, dava-lhes pausa, movimento, sentido e sentimento, e construía, assim, histórias felizes. Por que me lembrei dos bonecos de plástico? Estou a ficar senil. Mas gosto de beber Coca-Cola, com limão. Consegui comentar uma coisa sem falar nela. Uma arte a apurar.

Marca: Coca-Cola. Título: Hello Happiness. Agência: Y&R, Dubai, Dubai, UAE. Direção: Dubai, Maio 2014.

Grotescamente

Ecce Homo. Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia de Borjia. Zaragoza. Espanha.

Ecce Homo. Santuário de Nossa Senhora da Misericórdia de Borja. Zaragoza. Espanha.

Vermibus é um artista de Berlim. Em Dissolving Europe, retira as imagens de outdoors, desfigura-as com dissolvente e recoloca-as, deformadas, no mesmo local. Assim sucedeu em Paris, Barcelona, Amsterdão, Viena, Londres e Berlim. Os cartazes apresentam modelos famosos, que irradiam beleza, classe e estilo. Vermibus torna-os irreconhecíveis. Estamos confrontados com um conto de fadas invertido. O belo dá lugar ao disforme e ao grotesco, lembrando a estética de Francis Bacon, bem como a técnica de restauro da espanhola Cecilia Giménez.

Vermibus. Dissolving Europe. 2013.

Palavra puxa palavra: canções de amor, ódio e melancolia

Num artigo recente, foi questão do hino “chant des partisans”, interpretado por Yves Montand. Pois, quem diz “chant des partisans” lembra-se logo da canção bilingue “The Partisan” (1969), de Leonard Cohen. Ambas deram azo a muitas montagens vídeo com imagens de guerra e resistência (ver, por exemplo, http://www.youtube.com/watch?v=S34cVkL6zCE). Optei, porém, por partilhar esta actuação ao vivo de 2008:

“The partisan” é uma “canção de amor e ódio”, para retomar o título do álbum de Leonard Cohen de 1971, mas é também uma canção com um profundo trago de melancolia. “Les Feuilles Mortes, de Yves Montand (ver http://www.youtube.com/watch?v=Xo1C6E7jbPw), distingue-se também como uma das canções francesas mais melancólicas. Quem fala de Yves Montand e de Leonard Cohen, de canções de amor, ódio e melancolia, também pode falar da chilena Violeta Parra, autora e intérprete de notáveis “canções de amor e ódio”, inspiradoras de vídeos ilustrados com imagens de repressão e revolta. É o caso de “Que dirá el Santo Padre?” (http://www.youtube.com/watch?v=PiFvvEBBntA). Concebeu, por outro lado, algumas das canções melancólicas com maior vocação universal. Por exemplo, “Gracias a la vida”. Suicidou-se em 1967.