E as crianças?
As realidades abordadas nestes três anúncios da Save the Children não são inauditas. De vez em quando, os meios de comunicação social fazem-lhe alusão. Save the Children Fund é uma organização internacional não governamental de defesa dos direitos da criança, ativa desde 1919, com sede em Londres.
Anunciante: Save the Children. Título: Save the Survivors. Agência: POL. 2022.
Anunciante: Save the Children. Título: Save the Children. Agência: POL. Direção: Niels Windfeldt. 2022.
Primeiro os amigos
Existem mundos onde predominam as encostas. Os seus membros encostam-se uns aos outros formando montículos dispostos em redes de dependência pessoal. Quem não se encosta nem é encosto candidata-se ao papel de mosquito numa teia de aranha. A autonomia definha como uma quimera, um gesto raro e caro. Seguem quatro canções francesas sobre a parceria (os comparsas) e a diferença (os marginais).
Pobreza: A importância das palavras
Junto o artigo “Pobreza: A importância das palavras”, publicado no jornal Diário do Minho (terça-feira, 20 de setembro de 2022, pág. 8) de que sou autor. Para escutar enquanto lê, a canção Ces gens-là, de Jacques Brel.
Anúncios de bolso
Com poucas imagens se ilustra muito. Publicidade vintage.
Para aceder ao segundo anúncio, carregar na imagem seguinte.
Estigma capilar
Proveniente da Alemanha, país que tendemos a associar alguma contenção e ponderação, o anúncio “Hans”, da empresa de cabeleireiros Headhunter, excede-se. Propõe uma paródia ousada, senão atrevida, de uma realidade sensível: as campanhas de consciencialização para a inclusão de crianças com deficiência. Num aspeto o anúncio não deixa de estar certo: os cabelos podem funcionar como estigma, contagiando e desvalorizando a pessoa no seu todo. Recorde-se que, no final da Segunda Grande Guerra, nos dias imediatos à libertação da França, a população rapou o cabelo aos “colaboracionistas” com o regime nazi, expondo-os em cortejos degradantes (ver Violência e Humilhação: https://tendimag.com/2016/01/14/violencia-e-humilhacao/).
Atração sem união
Bem concebido, com imagem, música e “coreografia” notáveis, o extenso (5:40) anúncio holandês We Will Become Beter, para a Rede LGBT Russa (Russian LGBT Network), em que dois homens propendem a aproximar-se sem, contudo, conseguir alcançar-se, obteve o prémio Golden Drum.
“In July 2020, Vladimir Putin changed the Russian constitution to ban same-sex marriage with an amendment that explicitly defines marriage as between a man and woman. It has encouraged a wave of hate crimes including beatings, rape and torture that continue to this day. One year on from the constitutional change, we released a film to challenge these offensive portrayals of same-sex relationship with a simple message: ‘Love is everyone’s right’. By making and releasing the film we took the risk of essentially breaking the Gay Propaganda law. This is the first Russian LGBTQIA+ film in years that actually portrays a gay relationship and the country’s first anti-homophobic project” (Russian LGBT Network).
O contágio do estigma
“Tendemos a inferir uma série de imperfeições a partir da imperfeição original e, ao mesmo tempo, a imputar ao interessado alguns atributos desejáveis mas não desejados, frequentemente de aspecto sobrenatural, tais como “sexto sentido” ou “percepção”:
“Alguns podem hesitar em tocar ou guiar o cego, enquanto que outros generalizam a deficiência de visão sob a forma de uma gestalt de incapacidade, de tal modo que o indivíduo grita com o cego como se ele fosse surdo ou tenta erguê-lo como se ele fosse aleijado. Aqueles que estão diante de um cego podem ter uma gama enorme de crenças ligadas ao estereótipo. Por exemplo, podem pensar que estão sujeitos a um tipo único de avaliação, supondo ou o indivíduo cego recorre a canais específicos de informação não disponíveis para os outros.”” (Erving Goffman, Estigma, 1ª edição 1963).
Confirmo. Durante o período em que estive sem mobilidade até os mais parvos se estimavam mais inteligentes. Preso à cadeira de rodas, observava, nada surpreendido e um pouco resignado, a caravana a passar. Personagens como o detetive Robert T. Ironside, protagonista paralisado numa cadeira de rodas da série norte-americana Ironside (Têmpera de Aço, NBC de 1967 a 1975) representam uma exceção excessiva que confirma a regra.
Mas não sobrevem apenas um efeito de contágio. Quando o estigma desaparece, pode ocorrer, também, um efeito de prolongamento. A atitude mantem-se para além das condições que a justificaram. Em casos como este, Pierre Bourdieu fala em “histerese do habitus”. Arrumada a cadeira de rodas, a ilusão continua. A comodidade e a condescendência insistem em subestimar a inteligência e, como é costume nestas situações, a dignidade do “resgatado vulnerável”. Entretanto, sinto que estou a perder a paciência.
Maternidade. O cordão umbilical e o ursinho de peluche
“Na UE, as mulheres recebem em média 14,1% menos por hora do que os homens. Isso equivale a quase dois meses de salário. É por isso que a Comissão Europeia marca o dia 10 de novembro como um dia simbólico para aumentar a conscientização de que as trabalhadoras na Europa ainda ganham, em média, menos do que seus colegas do sexo masculino (Comissão Europeia – Dia de igualdade salarial: https://ec.europa.eu/info/policies/justice-and-fundamental-rights/gender-equality/equal-pay/equal-pay-day_en; acedido em 11-08-2022).
Entretanto têm ocorrido alguns progressos no cuidar das crianças. O ursinho de peluche Ector, detetor de fumo de tabaco, parece ser um deles. Aproveito para acrescentar a canção Woman, de John Lennon.