Miriam Makeba, Mama Africa

Dedico-me cada vez mais a uma lentidão atenta à natureza. Hoje, assisti ao que creio ter sido uma “dança de corte” entre um melro, preto, e uma melra, de tez acastanhada. Ultrapassando raramente uma distância de meio metro entre ambos, o melro aproximava-se, investia, e a melra afastava-se, esquivava. Por vezes, ensaiava pequenos voos de menos de 40 cm de altura pousando no mesmo sítio. Esta “dança” durou cerca de 4 minutos. Fiquei a observar quieto, logo não filmei.
Lembrei-me de Miriam Makeba ao ler o artigo “Jean Rouch, cineasta, antropólogo, engenheiro, africano branco”, de José Ribeiro, a aguardar publicação. Menciona Makeba a propósito do filme anti-apartheid Come Back Africa de Lionel Rogosin (1960) em que esta participa como cantora. Este filme foi o primeiro impulso decisivo para a sua carreira.
Ao telefone disse a uma colega que estava a escutar Makeba. Que não conhecia. Estranhei. Somos almas gémeas no que respeita à música. Conhecer tenho a certeza que conhece, apenas desconhece que conhece, como o Monsieur Jourdain do Bourgeois gentilhomme de Molière (1670). Justifica-se, portanto, dedicar um apontamento a Makeba.
Primeira voz africana com reconhecimento expressivo a nível internacional, Miriam Makeba nasceu em Joanesburgo, em 1932. Cedo rumou para os Estados-Unidos, onde gravou o primeiro álbum a solo em 1960. No mesmo ano, o regime sul-africano proibiu-a de regressar ao país para o funeral da mãe. Empenhada em movimentos cívicos, em 1962, testemunhou perante a Comissão Especial das Nações Unidas para o Apartheid. Com um prémio Grammy em 1965, a sua canção mais popular é Pata Pata (1967). Casou em 1968 com Stokely Carmichael, líder do Partido dos Panteras Negras. O governo dos Estados-Unidos cancelou-lhe o visto quando estava em viagem no estrangeiro. Mudou-se para a Guiné, tendo residido em vários países. Artista e cidadã sempre ativa, tornou-se um símbolo da luta contra o apartheid. Terminado o apartheid, regressou à África do Sul. Foi nomeada, em 1999, embaixadora da boa vontade da ONU. Conhecida como “Mamã África”, é considerada a “rainha da canção africana”. Morreu de ataque cardíaco durante um espetáculo, na Itália, em 2008.
Segue cinco canções de Miriam Makeba.