O Tendências do Imaginário face ao confinamento

Rosso Fiorentino. Cherub Playing a Lute or Musical Cherub. 1521.

O confinamento tem constrangimentos. Mormente, quando é duplo: pandémico e mórbido. Por doença, tenho a mobilidade limitada a um dos pisos da casa. Esta vida apertada tem consequências, inclusivamente, ao nível do Tendências do Imaginário.

Muitos artigos inspiram-se na observação da vida quotidiana. Descobertas de trazer no bolso. É um divertimento que cultivo, uma espécie de “sociologia espontânea”. Com o confinamento, resta-me a “observação de pássaros: os conflitos entre gatos, a etiqueta das bicadas dos pardais nas migalhas de pão ou os estratagemas dos melros para aceder à comida dos gatos.

Os “artigos de fundo” são uma marca do Tendências do Imaginário. Textos originais que exigem semanas de pesquisa e escrita. O confinamento comprimiu o tempo no presente. O aqui e o agora tornaram-se avassaladores, avessos a iniciativas de fôlego. Não há impulso. O futuro mora nos faróis dos palpiteiros.

O Tendências do Imaginário está diferente, com uma quebra de microssociologia e ensaio intelectual. Prosseguem a publicidade e a música. Estas circunstâncias contribuem para um novo papel da música.

A casa lembra uma discoteca. Gavetões, gavetas e prateleiras repletas de vinis, CDs e DVDs. Acervo de um melomaníaco. A maioria das músicas do Tendências do Imaginário provêm desta coleção. Com o confinamento, a relação com a música mudou. Outrora, a música acompanhava outras atividades, incluindo o trabalho. A música era ambiental. Agora, beneficia de uma dedicação exclusiva. Concentrado e repostado, ouço e seleciono as músicas. Esta nova interação com a música comporta um efeito relevante, que tende a privilegiar a tradição, os discos, em detrimento da inovação (a procura, sobretudo, na Internet).

Em resumo, com o duplo confinamento, pessoal e social, o Tendências do Imaginário arrisca-se a perder diversidade e atualidade. Não obstante, as visualizações mantêm-se.

Como ilustração, seguem duas músicas: o Concerto para Piano, nº1, de Frédéric Chopin, da coleção de discos e do polo da tradição; e The Silence, da Manchester Orchestra, uma banda indie norte-americana (polo de inovação, via Internet).

Frédéric Chopin. Piano Concerto No. 1 in E Minor, Op. 11 – 2. Romance (Larghetto).
Manchester Orchestra – The Silence (Live at The Regency Ballroom San Francisco). Álbum: A Black Mile to the Surface. 2017.

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