As flores do mal

Caim e Abel. Século XV.

Não procurem mais o meu coração, as bestas comeram-no (Charles Baudelaire. Les Fleurs du Mal. 1857).

Que besta devo adorar ? Que imagem santa atacar ? Que corações destroçarei? Que mentira devo sustentar? Em que sangue marchar ? (Arthur Rimbaud. Une Saison en enfer. 1873).

Somos filhos de Caim. O mal está arreigado na arqueologia do ser. Quem não pisou uma formiga? Quem não fez mal a uma mosca? Quem amou o próximo como a si mesmo? Não resistimos à maldade. Empolga-nos a crueldade nos cartoons, nos filmes, nos anime, nos videojogos e nas campanhas eleitorais. Os programas de informação mostram o mal e esquecem o bem. Cordeiros do demo, apascentamos a ruindade. Somos consumidores do mal.

O anúncio Ski, da Laca 5Star, brinda-nos com um cocktail do mal num cálice de expiação. “Uma explosão de sabores e texturas ». O mal sabe bem. À semelhança do anúncio ski, T-Rex, da Collective du Lait, faz parte de uma série de anúncios. Ensina que o mais fraco (tu e eu) resulta grotescamente vulnerável ao mal. Para concluir, o anúncio Dumb Ways to Die, da Metro Trains Melbourn, é uma ternura de dança macabra à moda do terceiro milénio.

O mal é uma tentação? Algo de bom deve ter! Recorrendo a línguagem suculenta de Thomas Müntzer, o monge revolucionário líder da Guerra dos Camponeses (1524-1525): o bem e o mal lembram “duas serpentes que fornicam em conjunto”. O bem e o mal dançam no mesmo baile. O mais avisado é aprender a « homeopatia do mal », a lidar com a “parte do diabo” (Michel Maffesoli). Até porque, a fazer fé na sabedoria popular, “há males que vêm por bem”.

Marca : Lacta 5Star. Título : Ski. Agência : Wieden + Kennedy (Brasil). 2018.
Marca: Collective du Lait. Título : T-Rex. Agência : DDB (Vancouver). Direcção : Rouairi Robinson. Canadá, 2005.
Marca: Metro trains. Título: Dumb ways to die. Agência: McCann-Erikson Melbourne. Austrália, 2012.

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