Filhos do Crepúsculo: A Arte e a Música no Campo de Concentração
Porque um homem sem memória é um homem sem vida, um povo sem memória é um povo sem futuro (Ferdinand Foch).
Uma cabeça sem memória é uma praça sem guarnição (Napoleão Bonaparte).
Acabei de avaliar os trabalhos. Estava a gostar. Os alunos, quando se empenham, com autonomia, criatividade e envolvimento, são admiráveis. Foi-lhes pedida a comparação de duas entidades de géneros artísticos distintos: música e pintura, escultura e cinema, literatura e publicidade… As “entidades” podiam ser autores, obras, correntes, instituições… O resultado foi animador. Destaco, hoje, o ensaio de Glória Manuela Rodrigues Fernandes sobre um compositor, Olivier Messiaen, e um pintor, Felix Nussbaum. Com a devida autorização, junto o pdf: A arte na segunda guerra mundial: as diferentes artes que se faziam sentir nos campos de concentração, Sociologia e Semiótica da Arte, mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, da Universidade do Minho, 2017.
Trabalho sociologia e semiótica da arte – GLÓRIA FERNANDES

Olivier Messiaen
Olivier Messiaen (1908-1992), francês, esteve preso, nos anos 1940 e 1941, no campo de concentração Stalag VIII-A Gorlitz, na Alemanha Oriental, onde compôs o Quatuor pour la fin du Temps, atendendo aos quatro músicos e instrumentos musicais disponíveis no campo de concentração: piano, violoncelo, violino e clarinete. A obra foi estreada, no próprio campo de concentração, perante 5 000 prisioneiros.
Felix Nussbaum (1904-1944), alemão, era, em finais dos anos 20, um pintor bem sucedido. Exila-se em 1933, primeiro em Itália e, em seguida, na Bélgica. É capturado em 1940 e enviado para o campo de concentração de St-Cyprien, no sul de França. Consegue escapar durante uma viagem de comboio, passando a viver escondido em Bruxelas. Em 1944, volta a ser arrestado e deportado para Auschwitz, onde é assassinado, supostamente, no dia 9 de Agosto.
A pintura de Nussbaum evidencia o trauma dos campos de concentração. Não me parece, porém, que testemunhe uma profunda conversão do olhar. O pincel acentua-se e focaliza-se. A amargura é mais amarga e o negro mais negro. Mas o desespero e o desencanto já predominavam na obra de juventude, inscrita no movimento Nova Objectividade, corrosivo, soturno e sinistro, como, por exemplo, a pintura de Otto Dix ou George Grosz.
Pensei fazer um vídeo com música de Olivier Messiaen (o V andamento, “Louange à l’Éternité de Jesus”, do Quatuor pour la fin du Temps) e quadros de Felix Nussbaum. Não disponho de tempo. Fica prometido. Por enquanto, segue a música de Messiaen e uma galeria com quadros do Felix Nussbaum. Uma acompanha a outra.
Olivier Messiaen. Louange à l’Éternité de Jesus. Quinto movimento do Quatuor pour la fin du Temps. 1941.
Galeria de imagens: Quadros de Felix Nussbaum.

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