Adeus à cátedra
“As coisas a que mais queremos (…) não são com frequência quase nada. São um nada que a nossa imaginação transforma em montanha. Um outro esforço de imaginação faz que o descubramos sem dificuldade” (Blaise Pascal, Pensamentos).
Perdi, há anos, um concurso para uma vaga de professor catedrático na área de Sociologia da Universidade do Minho. Herdei alguns fantasmas. Por exemplo, alguém atribuiu, quase salomonicamente, 101 pontos a um candidato e 100 ao outro; houve quem tenha compensado o desequilíbrio na dimensão “prestação de serviços à comunidade” convocando a atividade sindical… Estes e outros fantasmas dormem no inverno do meu descontentamento: assombram a confiança e corroem a vontade. Imbuído de sentido institucional, prossegui indignado por dentro e plácido por fora.
Está aberto novo concurso para uma vaga de professor catedrático na área de Sociologia da Universidade do Minho. Há tapetes que só se pisam uma vez. É verdade que um homem tem que fazer o que tem que fazer. Persigo, porém, uma figura que pertence ao passado: o intelectual. A um homem compete-lhe ponderar o que deve fazer.
Com a fábula da raposa e das uvas na sombra, confesso que, a caminho da reforma, a cátedra me motiva pouco. Prescindo dos júris para professor associado, professor catedrático e provas de agregação. Inquietam-me os desfechos em tribunal. Dispenso avaliar colegas. Não me seduzem os cargos de topo. Não me atrai o poder. Por acréscimo, a diferença de remuneração é, no meu caso, irrelevante.
Há coisas que só se perdem uma vez. Para o bem e para o mal e com o risco de não agradar nem a gregos, nem a troianos, decidi não concorrer. Adeus à cátedra!
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Albertino Gonçalves.
Boa, Albertino. Saudades de tempos idos, Bourdieu e os verdes anos em Braga. Um abraço. Francisco