Noite dos Medos
Chuva de gente na Noite dos Medos em Melgaço. Segue a reportagem da Altominho.tv acompanhada por uma galeria de imagens do concurso na Casa da Cultura, da procissão pelas ruas da Vila e da concentração na Torre de Menagem (fotografias da página do Município de Melgaço no facebook: https://www.facebook.com/search/top?q=munic%C3%ADpio%20de%20melga%C3%A7o).
Carregar na imagem seguinte para aceder ao vídeo com a reportagem da Altominho.tv.






























Discriminar ou não discriminar, eis a questão

Detalhe do tímpano românico da porta principal da Abadia de Sainte-Foy des Conques, em Aveyron, França. Séc. XII. O Juízo Final, última e definitiva selecção.
Um livro escolar dos anos sessenta conta a história de dois candidatos a um emprego. Um vinha recomendado, mas não foi escolhido: Tinha as unhas sujas.
Em editais de concurso para bolseiros e investigadores, lê-se o seguinte:
“Política de não discriminação e de igualdade de acesso
A Universidade do Minho, promove uma política de não discriminação e de igualdade de acesso, pelo que nenhum candidato pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado ou privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão, nomeadamente, de ascendência, idade, sexo, orientação sexual, estado civil, situação familiar, situação económica, instrução, origem ou condição social, património genético, capacidade de trabalho reduzida, deficiência, doença crónica, nacionalidade, origem étnica ou raça, território de origem, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas e filiação sindical”.
A Constituição da República opõe-se a estas formas de discriminação. Mas repetir nunca é demais. A lista das discriminações é extensa, mas não é, naturalmente, exaustiva. Falta, por exemplo, o capital social (relações e conhecimentos) do candidato, fator que, algumas vezes, se apresenta decisivo.
Há mar e mar, há discriminar e discriminar. O maior escudo contra a discriminação pode coabitar com a mais gigantesca e injusta das discriminações. Mal um estudante ingressa num curso universitário, o seu valor pode variar comparativamente do simples para o quádruplo. A portaria nº 231/2006 (2ª série) estipula que o rácio alunos/docente ETI é de 20 alunos por docente nas Ciências Sociais ou nas Letras; 12 alunos nas Ciências da Comunicação ou na Arquitetura, cinco alunos na Medicina ou na Música. A desigualdade entre alunos reproduz-se entre os professores. Um docente em Sociologia pesa quase metade de um docente em Ciências da Comunicação e um quarto de um colega da Música. Estas aritméticas, obra de espíritos mais geniais do que o Albert Einstein, acabam por ter consequências enormes na orgânica e no desempenho das instituições e dos seus membros. São Adamastores mas parece que ninguém se apercebe. Importa combater as discriminações nos concursos. Mas importa atender também à realidade interna. A discriminação sem contrição, para além de prejudicar, degrada. Em termos de aritmética, diminui os autores e as vítimas.
Tanto nos habituamos a uma falsidade que acabamos por acreditar que é verdade.
Adeus à cátedra
“As coisas a que mais queremos (…) não são com frequência quase nada. São um nada que a nossa imaginação transforma em montanha. Um outro esforço de imaginação faz que o descubramos sem dificuldade” (Blaise Pascal, Pensamentos).
Perdi, há anos, um concurso para uma vaga de professor catedrático na área de Sociologia da Universidade do Minho. Herdei alguns fantasmas. Por exemplo, alguém atribuiu, quase salomonicamente, 101 pontos a um candidato e 100 ao outro; houve quem tenha compensado o desequilíbrio na dimensão “prestação de serviços à comunidade” convocando a atividade sindical… Estes e outros fantasmas dormem no inverno do meu descontentamento: assombram a confiança e corroem a vontade. Imbuído de sentido institucional, prossegui indignado por dentro e plácido por fora.
Está aberto novo concurso para uma vaga de professor catedrático na área de Sociologia da Universidade do Minho. Há tapetes que só se pisam uma vez. É verdade que um homem tem que fazer o que tem que fazer. Persigo, porém, uma figura que pertence ao passado: o intelectual. A um homem compete-lhe ponderar o que deve fazer.
Com a fábula da raposa e das uvas na sombra, confesso que, a caminho da reforma, a cátedra me motiva pouco. Prescindo dos júris para professor associado, professor catedrático e provas de agregação. Inquietam-me os desfechos em tribunal. Dispenso avaliar colegas. Não me seduzem os cargos de topo. Não me atrai o poder. Por acréscimo, a diferença de remuneração é, no meu caso, irrelevante.
Há coisas que só se perdem uma vez. Para o bem e para o mal e com o risco de não agradar nem a gregos, nem a troianos, decidi não concorrer. Adeus à cátedra!
Texto em pdf: Adeus à cátedra pdf
Albertino Gonçalves.
Homo Hierarchicus
Prezamos os concursos, os rankings e os prémios. O Homo Hierarchicus, propenso a hierarquias (Dumont, Louis, Homo Hierarchicus, Essai sur le système des castes, Paris, Gallimard, 1971), desforra-se do Homo Aequalis (Dumont, Louis, Homo Æqualis I: genèse et épanouissement de l’idéologie économique, Paris, Gallimard, 1977), propenso à igualdade. Como chegamos a esta inflexão? O capitalismo liberal, associado à igualdade e ao individualismo, conheceu melhores dias. Os Estados, os grandes grupos económicos e o sector financeiro não ajudam. Após a crise de 2008, o sector financeiro revigora-se. Os dispositivos que nos governam são tudo menos reféns da democracia. E o autoritarismo tecnocrático ergue-se como a principal alternativa a si próprio.
Por estes lados, as democracias, em avulso (nações) ou por atacado (comunidades), andam musculadas. Ajustam os cidadãos. Mas nada que se compare aos rebanhos humanos das utopias disfóricas da ficção científica. Quer-me parecer, mesmo assim, que nos últimos anos me puseram mais brincos nas orelhas do que às vacas do contrabando. Com o regresso do Homo Hierarchicus, o olhar refocaliza-se nas hierarquias, de preferência certificadas. Os concursos, os rankings e os prémios são procedimentos de hierarquização. Procedimentos humanos. Imagine-se um jogo em que os “favoritos” podem ditar as regras e decidir o que é trunfo e o que é palha. Só se forem péssimos favoritos é que não serão grandes campeões…
Este anúncio, Diving Contest, para a marca de cerveja John Smith’s, é uma caricatura dos dispositivos de competição. Segundo as regras, com júris isentos e resultados inequívocos.
Marca: John Smith’s. Título: Diving Contest. Agência: TBWA (London). UK, 2003.
ARE YOU A LIKER OR A DO-ER?
ARE YOU A LIKER OR A DO-ER? Segue a chamada (vocação). Atende à revelação. “Make your DO come true”. Serás empreendedor, ídolo ou santo. PALAVRA DE EMPRESA! Assim vai a publicidade: interacção, performance, simulação, circo, caridade, responsabilização, intervenção, concurso… Desde que o isco funcione. Trata-se de uma reactualização do espírito do capitalismo. MORDE! CONCORRE! A EMPRESA vela por ti.
Marca: Lenovo. Título: Make your DO come true. Agência: Fitzroy Amsterdam. Holanda, Março 2014.
Humor Chinês
Não foi por acaso que os chineses entraram em força na EDP. Gostam de ideias luminosas. Bem como de bom humor. De preferência, com um toque desconcertante. Estes anúncios do Windows 8 são cintilações. Cintilações hilariantes. Gosto! Mas este género de humor não é completamente original. Nós, os portugueses, já o cultivamos há imenso tempo. O concurso das melancias lembra-me uma anedota lusitana homóloga. Um francês, um inglês e um português. O francês pega na espada, atira um ananás ao ar, descasca-o e fatia-o em rodelas antes de cair ao chão. O inglês avança, atira uma laranja ao ar, descasca-a e retira-lhe as sementes antes de atingir o solo. O português avança, concentra-se, retalha o ar com a espada e imobiliza-se. Os outros perguntam: então? E o português, condescendente, esclarece: Então! Estão a ver aquele mosquito? Nunca mais será pai… Os chineses aprenderam, provavelmente, esta arte de gracejar connosco. São muitos séculos de convívio. Desde o tempo em que parecíamos macacos pendurados nos mastros das naus.
Marca: Microsoft. Títulos: Water Melon – The Power of Touch; Make Up – Beautiful and Fast; Piano and Ping Pong – Multitask. China, 2013.
Banheira criativa
Um anúncio ousado com figuras decorativas estimulantes. Para além de ser português, tem efeitos de folha de figueira (no próximo artigo explico).
Produto: Eurobest Young Creatives. Título: Hot Tub. Agência: Fuel Lisboa. Direção: Alexandre Montenegro. Portugal, Outubro 2012.
Sesta
Para aqueles que conseguem ver televisão a dormir.
Para um País com febre de eventos, este “minidocumentário” pode ser inspirador. Que tal promover um concurso de sesta? Por exemplo, para os lados de São Bento. Um descanso! Do Cando, pois claro! São Bento do Cando. Perto da Peneda. Conjugar-se-ia exotismo (povoação de montanha com poucos habitantes), contexto transfronteiriço (com a Espanha ali tão perto), tradição (sobreviveram os quartéis onde pernoitavam os peregrinos), narrativas (ainda se veem as marcas de balas no granito) e conforto (muitas e boas casas de turismo nas redondezas).
Marca: Comedy Central. Título: Siesta. Agência: Wieden + Kennedy. Direção: Bryan Buckley. Brasil, Agosto 2012.