A Fuga dos Demónios
Há uns anos, fiz uma comunicação sobre São Bento, no Mosteiro de Tibães. Sublinhei que São Bento era exigente: por um lado, as promessas, como se sabe, são para cumprir, por outro lado, tem fama de expulsar os demónios à paulada e à chapada. As pessoas ouviram, e deram-me um desconto.
No imaginário medieval, os demónios eram expulsos pela boca. Pareciam morcegos ou répteis voadores envoltos em fumo.
Entre os santos exorcistas, dois sobressaem: São Bento e São Francisco. São Bento não era meigo com os endemoninhados. Arreava-lhes umas bofetadas (figura 4) e umas pauladas (figuras 5 e 6).
Mil anos depois, São Francisco retoma o exorcismo colectivo característico de São Bartolomeu. Cidade onde este santo entrasse, não demorava demónio (figura 8).
Não é só o demónio que sai pela boca, a alma também. No último sopro, a alma liberta-se do corpo. Incapazes de captar o momento da morte, muitos pintores optaram por figurar a alma a despedir-se do corpo. Engendraram diversas soluções: na figura 9, a alma transita sob a forma de uma criança que é acolhida por um anjo.
Pela boca quase tudo entra e pela boca nunca se sabe o que pode sair. Alguma razão tinha François Rabelais ao sugerir que a boca é a parte mais cósmica do corpo humano. A este propósito, ouvi falar de um país que alberga demónios tão graúdos que não há boca nem orifício por onde consigam passar. Só de cesariana.
Levem-se os demónios ao corte!