A Fuga dos Demónios

01 Cristo exorciza um jovem possuído por um demónio. Très Riches Heures du Duc de Berry, Séc. XV.

01 Cristo exorciza um jovem possuído por um demónio. Très Riches Heures du Duc de Berry, Séc. XV.

Há uns anos, fiz uma comunicação sobre São Bento, no Mosteiro de Tibães. Djævleuddrivelse.Sublinhei que São Bento era exigente: por um lado, as promessas, como se sabe, são para cumprir, por outro lado, tem fama de expulsar os demónios à paulada e à chapada. As pessoas ouviram, e deram-me um desconto.
No imaginário medieval, os demónios eram expulsos pela boca. Pareciam morcegos ou répteis voadores envoltos em fumo.

02 Julgamento de uma bruxa. 1598.

02 Julgamento de uma bruxa. 1598.

03 Jesus expulsa um demónio de um homem mudo. (De T. Troels Lund. A vida quotidiana na região nórdica VI, p 30).

03 Jesus expulsa um demónio de um homem mudo. (De T. Troels Lund. A vida quotidiana na região nórdica VI, p 30).

Entre os santos exorcistas, dois sobressaem: São Bento e São Francisco. São Bento não era meigo com os endemoninhados. Arreava-lhes umas bofetadas (figura 4) e umas pauladas (figuras 5 e 6).

04 Sébastien Leclerc. São Bento cura com uma bofetada um religioso possuído pelo demónio., 1637-1714

04 Sébastien Leclerc. São Bento cura com uma bofetada um religioso possuído pelo demónio., 1637-1714

05  Spinello Aretino, O Santo Liberta um monge possuído.  Sacristia da Basílica San Miniato al Monte. Florença.  1387

05 Spinello Aretino, São Bento liberta um monge possuído. Sacristia da Basílica San Miniato al Monte. Florença. 1387

06 Spinello Aretino, O Santo Liberta um monge possuído. Pormenor.

06 Spinello Aretino. São Bento Liberta um monge possuído. Pormenor.

Mil anos depois, São Francisco retoma o exorcismo colectivo característico de São Bartolomeu. Cidade onde este santo entrasse, não demorava demónio (figura 8).

07 Giotto Arezzo.  Lenda de São Francisco. Exorcismo dos Demónios em Arezzo Entre 1297 e 1299

07 Giotto Arezzo. Lenda de São Francisco. Exorcismo dos Demónios em Arezzo. Entre 1297 e 1299.

Não é só o demónio que sai pela boca, a alma também. No último sopro, a alma liberta-se do corpo. Incapazes de captar o momento da morte, muitos pintores optaram por figurar a alma a despedir-se do corpo. Engendraram diversas soluções: na figura 9, a alma transita sob a forma de uma criança que é acolhida por um anjo.

08 The Angel of Death, taking the soul, in the form of a child, from a dying man. From Reiter's Mortilogus, printed by Oegelin and Nadler, Augsburg, 1508.

08 The Angel of Death, taking the soul, in the form of a child, from a dying man. From Reiter’s Mortilogus, printed by Oegelin and Nadler, Augsburg, 1508.

Pela boca quase tudo entra e pela boca nunca se sabe o que pode sair. Alguma razão tinha François Rabelais ao sugerir que a boca é a parte mais cósmica do corpo humano. A este propósito, ouvi falar de um país que alberga demónios tão graúdos que não há boca nem orifício por onde consigam passar. Só de cesariana.

Tags: , , , , , , , , ,

One response to “A Fuga dos Demónios”

  1. Beatriz Martins says :

    Levem-se os demónios ao corte!

Leave a Reply

Discover more from Tendências do imaginário

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading