A emancipação dos pés
Os pés merecem bom calçado. Suportam tudo e andam de rastos. Pés e Povo começam pela mesma letra. Mera coincidência. Mas os pés estão em vias de emancipação. O povo, não! A estética é crucial em qualquer processo de emancipação: o feio torna-se bonito graças a uma reciclagem do gosto. E os pés estão mais bonitos! E mais inteligentes. O anúncio da ShoeDazzle confirma-o. Proliferam as cinderelas. Quanto à inteligência, nada como ler este excerto do poema “dans ma maison”, de Jacques Prévert (Paroles, 1946). Em suma, não convém menosprezar os pés nem espezinhar o povo.
Marca: ShoeDazzle. Título: Hashtag. Agência : SelectNY. Direção : Maz Makhani. EUA, Junho 2013.
Jacques Prévert, excerto de “dans ma maison” (Paroles, 1946)
Eu não fazia nada
Isto é nada de importante
Às vezes de manhã
Lançava uns gritos animais
Zurrava como um burro
Com toda a força
E isso dava-me prazer
E depois brincava com os pés
São muito inteligentes os pés
Podem levar-nos longe
Quando queremos ir longe
E quando não queremos sair
Eles ficam a fazer-nos companhia
Quando há música dançam
Sem eles não se pode dançar
É preciso ser-se estúpido como o homem tantas vezes é
Para dizer coisas tão estúpidas
Como estúpido como um pé alegre como um tentilhão
O tentilhão não é alegre
Só é alegre quando está alegre
É triste quando está triste ou nem alegre nem triste
Aliás ele nem se chama assim
Foi o homem quem lhe deu esse nome
Tentilhão Tentilhão Tentilhão
Je ne faisais rien
C’est-à-dire rien de sérieux
Quelque fois le matin
Je poussais des cris d’animaux
Je gueulais comme un âne
De toute mes forces
Et cela me faisait plaisir
Et puis je jouais avec mes pieds
C’est très intelligent les pieds
Ils vous emmènent très loin
Quand vous voulez aller très loin
Et puis quand vous ne voulez pas sortir
Ils restent là ils vous tiennent compagnie
Et quand il y a de la musique ils dansent
On ne peut pas danser sans eux
Il faut être bête comme l’homme l’est souvent
Pour dire des choses aussi bêtes
Que bête comme ses pied gai comme un pinson
Le pinson n’est pas gai
Il est seulement gai quand il est gai
Et triste quand il est triste ou ni gai ni triste
Est-ce qu’on sait ce que c’est un pinson
D’ailleurs il ne s’appelle pas réellement comme ça
C’est l’homme qui a appelé cet oiseau comme ça
Pinson pinson pinson pinson
Tags: barroco, EUA, Jacques Prévert, pé
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