Archive | Dezembro 2011

Empreendedorismo

Tal como os sapatinhos nos contos de fadas, assim há palavras que assentam a uma era. Ficam-lhe tão bem como uma flor na lapela. São palavras mágicas que unem gregos e troianos. “Empreendedorismo” afigura-se-me ser uma delas. Uma ideologia no patamar do fim das ideologias.

Anunciante: Adie. Título: Patrons. Agência: Young & Rubicam. Direcão: Bruno Delhomme, Guilhem Arnal. França, 2009.

Momentos felizes

Espelhar a felicidade constitui uma tarefa relativamente difícil. É mais fácil retratar a tristeza, a fúria ou o ódio. Nos videojogos as expressões de felicidade são raras. Pelo menos, nada que se compare ao medo ou à raiva. Pelos vistos, a felicidade é uma das expressões humanas mais complexas, mesmo ao nível muscular. Razão acrescida para que estes 60 segundos de felicidade estampada nos rostos sejam devidamente apreciados.

Anunciante: Staples. Título: Holiday Rehearsal. Agência: MacLaren McCann Toronto, Canada. Direção: Benji Weinstein. Canadá, Dezembro 2011.

Restos do paraíso

Como os últimos posts foram bastante disfóricos, nada como entremear algumas pinceladas de um paraíso visual com a qualidade da BBC. São pequenos e fugazes momentos de beleza natural que vale a pena (re)ver.

Anunciante: BBC. Título: David Attenborough – Wonderful World. Agência: RKCR/Y&R. Reino Unido, Dezembro 2011.

Excrementos musicais

“Koko Productions is a sound house that claims it can make anything sound good. So we ascked: anything, anything? Yup, turns out it’s anything. Even this.” Eis o desafio! Só falta deitar as mãos à obra. Inventou-se, assim, um novo tipo de som, o som adubado.

Anunciante: Koko Productions. Título: Artisan. Agência: DDB, Vancouver, Canada. Direção: Joe LaFleur. Canadá, Dezembro 2011.

Fumar mata

Crónica de opinião no jornal online ComUM.

Albertino Gonçalves. Fumar mata.

Estreou, há semanas, mais um anúncio de sensibilização anti-tabaco. Com imagem a preto e branco, uma bela jovem fuma um cigarro. Fumaça após fumaça, envelhece a olhos vistos até se transformar numa velha enrugada. Basta o tempo de um cigarro para se operar o morphing. Somos, por último, informados que “fumar envelhece até 19 anos” (http://vimeo.com/32894755). Trata-se de um anúncio bem concebido que não se desvia um milímetro da mensagem: o tabaco envelhece e degrada. Não deixa, porém, de recorrer a dois artifícios: a hipérbole, com o exagero do processo degenerativo, e a imitação da linguagem científica, com o preciosismo da sentença “fumar envelhece até 19 anos”. Esta frase pouco ou nada diz e não está ao alcance da ciência. Como assegurar que, os demais factores de risco permanecendo inalterados ou controlados, ocorre um envelhecimento até 19 anos provocado exclusivamente pelo consumo de tabaco?

A envergadura da campanha anti-tabaco tem dado azo à proliferação de anúncios. Muitos inspiram-se na figura do fumador homicida de si mesmo, com o cigarro como arma do crime. Auto-agridem-se (http://vimeo.com/13485441) ou desfazem-se em pó (http://files.coloribus.com/files/adsarchive/part_1418/14184155/file/truth-anti-smoking-you-small-30203.jpg) . Mas existem outras soluções. Umas, rebaixantes: o rosto de uma mulher assume, ao expelir o fumo, funções anais (http://www.culturepub.fr/videos/anti-tabac-bouches-petent). Outras, asseveram-se degradantes. Por exemplo, num carro aberto, um grupo de figuras aberrantes cantam, algumas com um orifício na garganta, com uma voz rouca http://www.youtube.com/watch?v=x7_B-9OyZls). Noutras, o fumo é sulfuroso, contorce-se esboçando imagens do demónio (http://www.ads-ngo.com/wp-content/gallery/demons/adesf-demon-1.jpg) . Outras, enfim, alertam para os riscos de impotência associados ao tabagismo. A maior parte dos anúncios rebaixa, denigra, estigmatiza e ameaça a figura do fumador e, em alguns casos, do ex-fumador, o que representa um em cada dois homens. Quem promove estas campanhas? Organismos governamentais ou paragovernamentais. Vale a pena? Tudo vale a pena quando a alma é pequena! Em Portugal, entre 1994-98 e 1999-2001, a proporção de fumadores na população adulta passou, no caso dos homens, de 32,7% para 32,8% e, no caso das mulheres, de 7,9% para 9,5% (fonte: World Health Organization). Nos últimos anos, “tudo indica” que o consumo do tabaco diminuiu ligeiramente entre os homens. Parece, também, que se manteve ou subiu no caso das mulheres e dos adolescentes. Parece, ainda, que estes resultados, a verificar-se, pouco ou nada devem às campanhas publicitárias.

O fumo afecta a visão. Queima os olhos e envolve-os em névoa. Talvez por desfocagem, estes anúncios trazem à memória os exorcismos medievais, as caricaturas trocadas entre católicos e protestantes durante a Reforma ou a propaganda dos regimes totalitários do século XX. Do ponto de vista do fumador, a maioria dos anúncios anti-tabaco desencadeiam um processo de agressão do eu, um assédio simbólico. Quem é responsável? As agências de publicidade fazem o seu negócio e as entidades promotoras o seu arremedo de poder. Quanto aos fumadores, ao contrário dos católicos e dos protestantes dos sécs. XVI e XVII, pagam as mensagens e andam com elas no bolso. Frases como “Fumar pode prejudicar o esperma e reduz a fertilidade” constam entre aquelas que mais circulam nos tempos que correm. Sinal dos tempos. Fumar mata! O ridículo, também.

Paranóia

Desde Charles Perrault que sabemos que  “nem todos os lobos são do mesmo tipo. Há-os de um humor gracioso, subtis, sem fel e sem cólera, que — familiares, complacentes e doces — seguem as jovens até às suas casas, até mesmo aos seus quartos; mas ai! Quem não sabe que estes lobos delicodoces são de todos os lobos os mais perigosos”.

Pois, as ovelhas também não são do mesmo tipo: algumas comem como os lobos. Moral da história: o lobo pode rondar tão perto e parecer tão insuspeito que, se calhar, até és tu!

Anunciante: Partnership for a drug free America. Título: Sheep. Agência: Wing. EUA, Dezembro 2011.

Adição

A Nike costuma ter bons anúncios. Este, brasileiro, é muito bom. Sobretudo pela qualidade e pelo ritmo, minuciosamente cuidado e alucinante, das imagens. Corremos sempre num limiar a ultrapassar. Pura adição.

Marca: Nike. Título: Addiction. Agência: F/naxca Saatchi & Saatchi. Direção: Jones + Tino. Brasil, Julho 2011.

A era pós-banana

Eis a verdade sobre o advento da era pós-banana. Uma narrativa bem baralhada e bem embrulhada. Um minuto de paródia, disparate e nonsense.

Anunciante: Gainomax recovery. Título: Bananageddon. Agência: Saatchi & Saatchi, Estocolmo. Suécia, Maio 2007.

 

Ideias sobreviventes

Quando os publicitários se auto-promovem, o resultado é mais ou menos este. Uma espécie de provocação. E a demonstração inequívoca de que os meios não precisam de ser proporcionais aos fins. O que importa é criar impacto. Seja pela ressurreição das figuras do Professor Pardal e do seu companheiro Lampadinha, seja pelo massacre da criatividade e da originalidade. Uma alegoria? É, pelo menos, deste jeito que a American Advertising Federation (AAF) divulga o apelo a inscrições no ADDY Awards 2010. “Advertising students and professionals – we want your creative work! Submit your entry for the 2012 Miami ADDY®Awards – If your Idea is Still Alive.”

Anunciante: AAF ADDY Awards. Título: Deadline. Agência: DKP Miami. Direção: Marcelo Paez. EUA, Dezembro 2011.

Contas de fadas

O trailer Princess, do Whistler Film Festival, inicia como uma animação clássica de um conto de fadas, mas acaba por se converter, insolitamente, numa cena de violência. O mundo da ficção já não é o que era:  a presa é o príncipe, vítima da ganância da princesa.

Produto: Whistler Film Festival. Título: Unexpected Stories. Princess. Agência: Dare, Vancouver. Canadá, Dezembro 2011.