Tag Archive | violoncelo

Dono do tempo?

“Agora não é mais dono do seu tempo?” Pergunta uma amiga. Na realidade, ando ocupado. Talvez para fugir do vazio, vou-me deixando ocupar. Os meus colegas e amigos também andam ocupados, mas com coisas importantes: meetings, calls, papers, media, projects, reports, classrooms, contracts, bureaucracies, protocols, platforms, virtualities, travels, budgets, referees, metrics, contests, prices, rankings, positions & propositions. As minhas ocupações resumem-se a minudências invisíveis: revejo e traduzo textos alheios, presto-me a ser organizador sombra ou suplente de última hora, preparo aulas e encontros na aldeia, entrego-me a investigações vadias, intermitentes e gratuitas, edito e reescrevo livros que nunca têm fim, cuido da saúde que bem precisa e convivo cada vez mais com os amigos. Vale-me isso e a música, minha musa e companhia. E insisto em pingar pensamentos e sentimentos neste blogue. É certo que, reformado, a maioria destas atividades, decididas ou aceites, são livres. Mas uma vez iniciadas deixam de o ser. Devoram recursos e tempo. Regressando à pergunta inicial: neste momento, sou menos dono do meu tempo, mas provisoriamente. Trata-se de uma perda a que não me resigno, que não sei se prefiro à riqueza de ter todo o tempo do mundo.

Franz Schubert. Serenade. 1826. Camille Thomas and Beatrice Berrut. Live at Palais des Beaux-Arts in Brussels on June 5, 2011
Vanessa-Mae. A Poet’s Quest (For a Distant Paradise). Vanessa-Mae Storm. 1997

It’s the Music, Stupid!

Ambrogio Lorenzetti. Allegory of Good Government. 1338-40. Palazzo Pubblico. Siena.

Não se consegue a harmonia quando todos cantam a mesma nota (Doug Floyd).

O anúncio The best moments are those we spend together, do Palácio das Artes Müpa, em Budapeste, coaduna-se com a vocação musical da Hungria. Acrescento dois excertos do filme O Violinista do Diabo (2013), dedicado a Niccolò Paganini.

Anunciante: Müpa Budapest. Título: The best moments are those we spend together. Agência: Müpa. Direção: Péter Bergendy. Hungria, dezembro 2021.
O Violinista do Diabo (Niccolò Paganini). De Bernard Rose. 2003. Excerto. Intérprete: David Garrett.
O Violinista do Diabo (Niccolò Paganini). De Bernard Rose. 2003. Excerto. Intérprete: David Garrett.

Caroline Dale, uma violoncelista versátil.

Man Ray. Le Violon d’Ingres. 1924.

Caroline Dale, “a masterly exponent of the cello” (Daily Mail), nascida em 1978, é uma compositora e violoncelista britânica com formação e repertório clássicos. Não desdenha, porém, participar em músicas e concertos rock. Colaborou com os Led Zepplin, os Oasis, Nigel Kennedy, Robert Wyatt, Sinéad O’Connor e os U2. Acrescem David Grey e David Gilmour. Aparece, por exemplo, no concerto ao vivo de David Grey em Dublin em 2011 (ver o primeiro vídeo do artigo David Grey: Alma e Coração). Atuou em vários concertos com David Gilmour (ver vídeo 4); a música Babbie’s Daughter (vídeo 3) foi composta por David Gilmour que a acompanha na guitarra. Seguem três músicas do álbum Such Sweet Thunder, publicado em 2002, e o vídeo de David Gilmour, Shine on Crazy Diamond, ao vivo em 2001.

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Caroline Dale. Elevazione. Composição de Domenico Zipoli (1688-1726). Such Sweet Thunder. 2002.
Caroline Dale. Vivaldi concerto in G minor for two cellos: Allegro Non Molto. Such Sweet Thunder. 2002.
Caroline Dale. Babbie’s Daughter. Composição de David Gilmour. Such Sweet Thunder. 2002.
David Gilmour. Shine on Crazy Diamond. Ao vivo: Meltdown Concert Royal Festival Hall, Londres, Junho 2001.

A canção dos pássaros. Pablo Casals

Juan Fernández. Portrait du violoncelliste Pablo Casals. 1958.

A música expulsa o ódio dos que vivem sem amor. Dá paz aos que não têm descanso, e consola os que choram (Pablo Casals).

A tempestade promete a bonança. Pablo Casals, compositor, maestro e violoncelista catalão, foi um acérrimo defensor da democracia em tempos adversos de franquismo, fascismo e nazismo. Song of the birds (El cant dels ocells), uma composição para violoncelo de Pablo Casals, inspirou várias interpretações. Retenho duas: a interpretação pelo próprio Pablo Casals, na Casa Branca, em 1961; e a adaptação da ucraniana Nataliya Gudziy, caraterizada por uma singularidade e uma simplicidade amigas da beleza.

Pablo Casals. Song of the birds (El cant dels ocells). White House. 1961.
Nataliya Gudziy. Song of the Birds (El Cant dels Ocells). Kobzar / Nataliya3. 2014.

Canção de embalar

Johannes Brahms (1833-1897)

Dorme, dorme, dorme e sonha também / Conta as estrelas a caminho de Belém.

Yo-Yo Ma, Kathryn Stott – Johannes Brahms Lullaby / Wiegenlied, Op. 49, No. 4 (Arr. for Cello and Piano).

Arvo Pärt. A tentação do grotesco

Arvo Pärt

Regresso a Arvo Pärt, compositor estoniano. O Tendências do Imaginário dedica-lhe um artigo (Arvo Pärt. Sinos hipnóticos), com a seguinte apresentação:

“Hoje não é dia de publicidade, mas de Arvo Pärt, compositor contemporâneo estónio. As suas músicas aparecem em dezenas de filmes. Dizem que é minimalista, ele não acha; dizem que é místico, também não; alguns afiançam que é pós-moderno, não lhe diz nada. A sua música é hipnótica, principalmente por causa do seu método, a tintinabulação, que ele explica do seguinte modo: “Eu trabalho com bem poucos elementos – somente uma ou duas vozes. Construo a partir de um material primitivo – com o acorde perfeito, com uma tonalidade específica. As três notas de um acorde perfeito são como sinos. Por isso lhe chamei tintinabulação” (Arvo Pärt. Sinos hipnóticos: https://wordpress.com/post/tendimag.com/5655).

O artigo Arvo Pärt. Sinos hipnóticos inclui duas músicas: Spiegel im Spiegel (1978) e Summa for Strings (1977). Acrescento uma música mais antiga, Pro et Contra, Concerto para Violoncelo e Orquestra (1966), menos minimalista e sem sinos, um pouco mais grotesca.

Arvo Part. Pro et Contra, Concerto for Violoncello and Orchestra (1966). Belgorod State Symphony Orchestra. Violoncelo: Borislav Strulev. VI International BelgorodMusicFest. 2017.

Um mundo de eventos

“Estamos vivendo a década do esporte, vamos fazer do Brasil o País dos nossos sonhos”. E nós estamos vivendo o ano das capitais europeias, vamos acordar Portugal. O mundial de futebol (2014) e os jogos olímpicos (2016) que o Brasil acolhe são apenas as duas competições desportivas mais importantes do planeta. Mas nós temos eventos todos os dias! Falando sério, o anúncio Dreams é primoroso: tem imagem, tem enquadramento, tem ritmo e não sai da cidade (ver vídeo 1). Em Guimarães, nem sequer se sai de casa para ouvir boa música. Fiquei surpreendido e orgulhoso ao ver alunos a tocar violoncelo no primeiro concerto da CEC 2012, no âmbito do projecto “Mi casa es tu casa” (ver vídeo 2).

Marca: Olympikus. Título: Dreams. Agência: Dcs Paranoid. Direção: Carlos Manga Jr. Brasil, Janeiro 2012.

Mi casa es tu casa

GMRTV. Casa na Quintã recebeu 1º concerto da CEC 2012. 28.01.2012.