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Meter medo a um susto: catástrofes

campanha-de-trânsito-vulcão uruguaiNo meu tempo de juventude, cunhava-se a expressão “meter medo a um susto”. Alguns anúncios actuais assustam. Pelos vistos, se não vamos pela razão, vamos pelo medo. De limite em limite. Converter pelo medo é um reflexo humano. A história está repleta de exemplos. É certo que o terramoto, o tsunami e a erupção vulcânica aparecem nestes anúncios como termo de comparação. Servem para enfatizar o número vítimas. Mas também para convocar o terror e acentuar a sensação de calamidade. Para ilustrar o volume de vítimas, bastava um estádio, um cruzeiro ou uma praça qualquer. O medo parece ser uma aposta crescente dos anúncios de consciencialização social. Dentro destas coordenadas, estes três anúncios do Ministério de Transporte y Obras Publicas, do Uruguai, estão muito bem concebidos e conseguidos. São excelentes.

Anunciantes: Ministério de Transporte y Obras Publicas, do Uruguai. Título: Tsunami. Agência: Amén, Montevideo. Direção: Nacho Vallejo, Gabriel Lista. Uruguai, Fevereiro 2014.

Anunciantes: Ministério de Transporte y Obras Publicas, do Uruguai. Título: Earthquake. Agência: Amén, Montevideo. Direção: Nacho Vallejo, Gabriel Lista. Uruguai, Fevereiro 2014.

Anunciantes: Ministério de Transporte y Obras Publicas, do Uruguai. Título: Volcano. Agência: Amén, Montevideo. Direção: Nacho Vallejo, Gabriel Lista. Uruguai, Fevereiro 2014.

Dignidade

Iwaki, no Japão, foi vítima do tsunami e do acidente nuclear. Os habitantes, um ano depois, não esquecem; rezam em silêncio de olhos fechados. A seguir ao vídeo, um texto que escrevi há um ano, duas semanas após a tragédia.

Iwaki City. Pray together with us. Agência: Dentsu Tokyo. Direção: Futoshi Takashima. Japão, Março 2012.

Flor de cereja amarga

Ao quinto terramoto mais severo de que há registo, segue-se um tsunami com ondas de 13 metros que provoca um acidente nuclear difícil de controlar. Os novos cavaleiros do Apocalipse passaram pelo Japão.

Abundam as notícias e as imagens do tsunami e das sequelas do acidente nuclear. Já a reacção da população suscita perplexidade. Nem desacatos, nem vitimação pública. Em vez da expressão dramática do sofrimento, a contenção trágica da dor, imune a qualquer intrusão.

Esta postura estóica integra, há séculos, a cultura japonesa. No livro O Crisântemo e a Espada, publicado em 1946, a antropóloga Ruth Benedict observa: “Quando as águas inundam uma aldeia japonesa, qualquer pessoa que se respeite a si mesma recolhe os haveres que quer levar consigo e procura as terras mais altas. Não há gritos, nem correrias tresloucadas, nem pânico (…). Tal comportamento faz parte do respeito que uma pessoa tem por si própria no Japão, incluindo quando sabe que não vai sobreviver.”

Afigura-se-nos que o sofrimento da população japonesa não granjeou mesma cobertura mediática que outros povos igualmente castigados. Será por contenção? A um primeiro momento de estranheza, seguiu-se um segundo de compreensível pudor? Será por relevância? Poderá o olhar táctil das nossas extensões técnicas alcançar a dor oculta dos japoneses? Propensos ao “sofrimento à distância” (Luc Boltanski), serão os “ocidentais” mais permeáveis à retórica da dor do que à pragmática da dignidade?

Entretanto, com ou sem radioactividade, florescem as cerejeiras no Japão.

01 de Abril de 2011

Albertino Gonçalves