A Costela de Adão. Corpo, técnica e imaginário

O primeiro transplante da história da humanidade. Paraíso, mulher e pecado. Museu Condé Chantilly. Por volta do Séc. XV.
No filme The Hands of Orlac (1924), de Robert Wiene, um pianista perde as mãos num acidente, sendo-lhe transplantadas as mãos de um criminoso. As mãos apoderam-se do corpo e da mente do pianista, que começa a adoptar comportamentos próprios do dador, o criminoso.
Christian Barnard conclui, em 1967, o primeiro transplante do coração.
“A notícia do transplante se propagou como fogo. O acontecimento era até então inconcebível, revolucionário, embora há muito tempo se transplantassem rins, córneas e os ossos do sistema auditivo. Mas havia uma grande diferença: os obstáculos morais levantados mundo afora contra o transplante de coração. Predominava naquele tempo a crença de que não se tratava de um órgão como os demais, mas o lugar da alma, o núcleo humano, o centro da personalidade” (http://www.dw.de/1967-primeiro-transplante-de-cora%C3%A7%C3%A3o/a-340975).
No filme de Robert Wiene, de 1924, num mundo marcado pelas próteses do pós-guerra, o corpo humano ainda era íntegro, um todo não desmembrável, sob risco de a parte dominar o todo.
Em 1967, o coração era encarado como um órgão com uma forte carga simbólica: “o lugar da alma”. A posição de Christian Barnard era distinta:
“A partir de um determinado momento, a gente é apenas um pesquisador e tem que se ater ao fato de que o coração tem apenas a função de bombear o sangue. Um transplante de coração não é mais do que um transplante de rins ou de fígado” (http://www.dw.de/1967-primeiro-transplante-de-cora%C3%A7%C3%A3o/a-340975).
Passo a passo, a biotecnologia abre caminho.
O anúncio da Fundación Argentina de Transplante Hepático, “The Man and the Dog”, é ambivalente. Por um lado, o cão, fiel companheiro do dador, reconhece o dono na figura da pessoa transplantada. O mestre habita, através do fígado, um novo corpo. Por outro lado, o transplante surge como um desfecho normal da biotecnologia, sem qualquer sombra simbólica. Num século, passa-se de um estranho conflito de identidades (The Hands of Orlac) para a proeza biotecnológica com resistência simbólica (cirurgia de Christian Barnard), para arrimar, enfim, ao anúncio “The Man and the Dog”, um conto de fadas com final feliz. Uma história criativa, com o cão a merecer um Óscar.
Anunciante: Fundación Argentina de Transplante Hepático. Título: The Man and the Dog. Agência: DDB Argentina. Direcção: Álvarez Casado. Argentina, Maio 2015.
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