A música na publicidade

Quando a música e, eventualmente, a dança são estrelas, o resto perde brilho. São exemplo os anúncios Dairy Dancing, da Pump e Little Angels, da Hyundai. O motivo e a marca podiam mudar, o impacto e a promoção mantinham-se. Repare-se, por último, que a música produz um efeito de união: em Dairy Dancing, as pessoas sintonizam-se; em Little Angels, a música pacifica e gera comunhão dentro e fora da família.
Reincidência
As crianças são adoráveis! Às vezes correm riscos, às vezes, teimosos. Por imprevidência? Para chamar a atenção? Apesar do infortúnio, repetem a experiência. Os adultos não são diferentes. A atração pelo risco não tem idade. Nestes dois anúncios neozelandeses da Calci Yum, a criança atreve-se, sofre os danos e recomeça. Sem emenda. A reincidência da asneira é proverbial. Impera, por exemplo, na banda desenhada e no cinema mudo. Não resisto a desencovar uma anedota estúpida e inconveniente.
No chão da sala de aula da escola primária, um pequeno charco aparentemente de xixi. A professora pergunta, em vão, quem foi o autor. Decide recorrer à psicologia pedagógica: “Vou apagar a luz e, no escuro, o autor vai escrever o nome no quadro”. A luz apaga-se, ouvem-se passos, um líquido a cair, passos, riscos no quadro e regresso à carteira. A professora acende a luz. O pequeno charco transformou-se num charco maior. No quadro, lê-se: “mijão fantasma ataca de noite”. A tentação do desvio e da reincidência.
Nos anúncios Bars e Cats, a animação é da autoria de Daniel Greaves:
Daniel Greaves is a director and animator. His enthusiasm and curiosity has enabled him to explore and experiment in a variety of contrasting animation techniques.
With many years of experience including running his own production company, Tandem Films, from June 1986 – 2014 as Co-founder and Creative Director, he has won around 100 international awards for short films and commercials. These include an Oscar, 2 Bafta nominations and the European Cartoon D’Or.
Advertising key campaigns under Tandem includes Ribena, Marmite, British Airways, Expedia.co.uk, Tesco and Schweppes (https://www.daniel-greaves.com/bio).
Bic Runga
Creio que o Tendências do Imaginário não tem nenhuma música da neozelandesa Bic Runga. Não veio a propósito. Vem, agora, de propósito. Música melodiosa, suave e agradável. Costuma dizer-se “fácil”. Seguem três músicas, todas do álbum Birds (2005).
O feitiço tecnológico
Se a publicidade fosse uma biblioteca, o tema das relações de género ocuparia várias estantes pejadas com livros de salmos e sermões. Mais pequena, mas em crescimento, aparece a estante da adição às novas tecnologias, cheia com livros de responsos e esconjuros. O anúncio Timeless, da McDonald’s, mostra quanto um pai tem que ser inventivo para cativar a atenção dos filhos, embruxados crónicos pelos telemóveis, tablets, videojogos & Cia. Deste anúncio depreende-se que para resgatar os filhos, o pai deve “tornar-se” criança, regredindo, com os filhos, até à sua própria infância. Esta fórmula é recorrente. A desintoxicação resulta cada vez mais fantástica. Uma boa parte dos anúncios sobre a cidadania e a qualidade de vida são promovidos por grandes marcas, incluindo a McDonald’s, que, nas alturas, tanto se preocupam com as nossas vidas. Tanto interesse comove qualquer um.
Marca: McDonald’s.Título: Timeless. Agência: DDB New Zealand. Direcção: Matt Devine. Nova Zelândia, Maio 2018.
Humor policial
No anúncio Freeze!, a polícia neerlandesa anuncia, com franco humor, o recrutamento de pessoal. Se fosse no meu país, conhecido pelo seu excelente humor atestado em todos os rankings internacionais do riso, já se tinham demitido dois ou três ministros; e nos jornais, actualizados ao segundo, não haveria espaço para mais notícias. Representaria um relaxamento inadmissível dos valores pátrios que remontam à fundação da nacionalidade. Uma nódoa do poder num manto de cidadania impoluta.
Não exageremos! Nós também sabemos rir. Rir até não poder mais. Mesmo quando é proibido! Lembram-se dos anúncios da água Frize com o Pedro Tochas? Aquela que deus quize. Alguns até foram proibidos.
Marca: New Zealand Police. Título: Freeze!. Agência: Ogilvy & Mather. Direcção: Damian Shatford. Nova Zelândia, Novembro 2017.
Frize. Slogan.
Frize. Tou que nem posso.
Anúncio proibido da Frize.
Do avesso
Promover o leite deste jeito é, no mínimo, original. Um vídeo intertextual com imagem a preto e branco. Às vezes, parece arte. E para namorar a arte, é preciso talento.
Marca: Anchor. Título : Inside-out. Agência : Colenso BBDO (Auckland). Nova Zelândia, Abril 2017.
Atração fatal
A quem mais me atura.
Este anúncio da Toyota é, todo ele, delirante. Concebido e produzido primorosamente, assume-se absurdo e politicamente incorrecto. Uma ode ao grotesco. Animais deixam-se aprisionar e morrer, com um poema nos lábios, deslumbrados por uma carrinha Hilux, o transporte para o paraíso zoológico.
Carregar na imagem para aceder ao anúncio.
Marca: Toyota Hilux. Título: The Benchmark. Rebuilt. Agência: Saatchi & Saatchi. Nova Zelândia.
O anúncio da Hilux lembra-me a canção Mad World (2001), de Gary Jules e Michael Andrews, um cover dos Tears for Fears (1982). A associação de ideias e de imagens encanta-me, especialmente quando resistem à explicação. Uma vez explicadas, o que ganham em razão, perdem em mistério. Prefiro acreditar que é carnaval no mundo dos neurónios.
Carregar na imagem para aceder ao vídeo musical.
Gary Jules & Michael Andrews. Mad World. Dirigido por Michel Gondry. 2001.
Diabo de guarda
O anúncio neozelandês da Energy Online propõe um dispositivo contra vendedores porta a porta: uma aldraba grotesca mais uma espécie de gárgula gótica, ambas animadas e furibundas. Um susto a dobrar. Com esta parceria diabólica, não há vendedor que se atreva. Este anúncio é fruto da época: aproxima-se o Halloween, a festa do horror para todas as idades. Trick or treat.
Marca: Energy Online. Título: Door Knocking. Agência: Contagion, New Zealand. Direcção: James Anderson & Jess Griffin. Nova Zelândia, Setembro 2015.
Vertigens a baixa altitude
Há muito que namoro o tema da levitação e não há modo de ir ao altar. Existem diversas soluções para sugerir a ausência de gravidade: captar um momento de suspensão, filmar em câmara lenta um movimento de desprendimento ou multiplicar os planos de gravidade (e.g, E.M. Escher, na gravura, e Philip Halsman, na fotografia).
O anúncio chinês OK Go, da Red Star Macalline, desmonta várias ilusões de perspectiva e multiplica os planos de gravidade, provocando uma sensação de vertigem.
O anúncio neozelandês Muscle, da Anchor, recorre ao slow motion para criar uma sensação de flutuação no espaço e no tempo. Em câmara lenta, os movimentos de dança logram um efeito estético apreciável.
Marca: Red Star Macalline. Título: OK Go. Agência: 25hours Xangai. Direcção: Damian Kulash JR. China, Março 2015.
Marca: Anchor. Título: Muscle. Agência: Colenso BBDO. Direcção: James Solomon. Nova Zelândia, Março 2015.
A Caixinha da Felicidade
West End e o humor britânico de braço dado num anúncio neozelandês! Um cover, com letra adaptada, do clássico Que sera sera a acompanhar uma série de situações indesejáveis. Neste mundo de infortúnios, existe um refúgio, uma caixinha de felicidade: a SKY TV.
Marca: SKY TV. Título: Que Sera Sera. Agência: DDB New Zealand. Direcção: David Shane. Nova Zelândia, 2009.
Quem não se lembra da canção Whatever Will Be, Will Be? E da cantora, Doris Day? E do filme The Man Who Knew Too Much (1957)? Eu lembro-me, e ainda não tinha nascido… Coisas da compressão do espaço-tempo (David Harvey)!
The Man Who Knew Too Much / Que Sera Sera. 1957.