Quando o negócio se oferece generoso
A vida e a morte aproximam-se, dão, aliás, frequentemente as mãos. Uma pressupõe a outra. No ciclo anual, esta proximidade é particularmente pronunciada no outono. “Salta-se” de uma comemoração da morte, dos que partiram, para uma celebração da vida, dos que nascem. A publicidade acusa esta viragem. Passa a aludir mais à vida e à esperança e menos à morte e à memória. A campanha natalícia começa na primeira metade de novembro, quase a seguir ao Dia dos Mortos. Os “anúncios de Natal” circulam, portanto, há já alguns dias.
A cadeia de lojas britânica John Lewis & Partners faz questão de publicar todos os anos anúncios de rara qualidade e criatividade. Extensos, convocam um universo mágico em que crianças desenvolvem uma relação inesperada e generosa com figuras fantásticas mais ou menos associadas ao espírito do Natal.
Segue o anúncio Snapper: The Perfect Tree, estreado no dia 9 de novembro. Aproveita-se o ensejo para recordar os anúncios de Natal da John Lewis dos anos 2019 e 2021.
Circuito de Generosidade


No anúncio “Noel 2022”, da Coop, uma corrente de entreajuda forma uma roda: quem recebe um gesto de generosidade prossegue-o até regressar ao primeiro par, num encadeamento circular que lembra o circuito Kula das ilhas Trobriand (Bronislaw Malinowski). Bonito? Muito. Improvável? Bastante. Possível? Talvez, durante o Natal. Pelo menos, na imaginação. A roda da vida a sobrepor-se às danças da morte e dos tolos.
Dança macabra. Mosteiro dos Bernardinos. Séc. XVII. Cracóvia.
Magia: A Fisioterapia e a Vida

O anúncio “Caring Makes Magic”, do Centro Médico Montefiore, de Nova Iorque, sensibiliza. Convoca duas histórias, que acabam por se cruzar no final de uma forma desconcertante mas eloquente, com protagonistas que vivem em dois mundos, sem se saber qual o mais real e o mais fantástico.
Physical therapy is often a slow process, but the rewards are powerful. In this year’s holiday spot, Montefiore Einstein shows the recovery of a toy store owner, how it impacts his life and many others – real and imagined.
Dual plotlines depict the sleepless nights and pain that a store owner has to endure, juxtaposed against characters atrophying in a holiday display within the man’s toy shop window. One boy complains: “My skates don’t work.” A vendor says there are “No cookies. No nothing.” Without the store owner, they are lost.
After pushing himself to recover and bonding with his physical therapist, we see our hero running up the stairs and, soon, back at his store. There, he brings the village back to life. Soon skates and sleds work. The fire at the roasted chestnuts stand ignites. Even the chestnut vendor’s hair grows back (…)
We see the store owner happily driving the train through his toy village and find the boy who had lived in the display suddenly outside the store window. Sound confusing? It kind of is, but it certainly gives us something to think about and a reason to watch again.
In the end, the key message – that “caring makes magic” – is driven home quite poetically (Kenneth Hein. Nearly three minutes of holiday delight offer dual story lines and one important message. The Drum: https://www.thedrum.com/news/2022/12/05/us-ad-the-day-montefiore-einstein-shows-the-power-healing-and-the-holidays).
Mãos

Numa apresentação dedicada às esculturas tumulares, releva-se o papel das mãos. Afirmam-se cruciais na comunicação, nomeadamente de disposições e emoções humanas. A arte privilegia-as. Recorde-se, por exemplo, Albrecht Dürer ou Auguste Rodin. O anúncio Christmas Nailed, da Tk maxx, confirma esta importância.
Egoísmo elegante

Na adolescência, quando regressava de férias a casa, a minha priminha corria a meu encontro e perguntava: “O que é que me trouxeste?” Respondia-lhe invariavelmente: “Um nada muito bonito”. Devia ter registado a patente. Para o Natal de 2013, a cadeia de lojas britânica Harvey Nichols concebeu uma coleção de prendas insignificantes com marca de luxo: palitos, elásticos, clips, devidamente etiquetados e embalados. O mote era simples e atraente: Sorry I Spent It On Myself, ou seja, não há nada como investir o máximo no próprio e deixar o resto para os outros, incluindo os mais íntimos. Antes de pensar duas vezes, pense primeiro em si! Escusado será acrescentar que a campanha foi premiada e bem-sucedida.
Nem todos os dias são Natal

Coloquei três músicas dos The Silent Box no dia do Ano Novo (The Silent Box). Renovo o prazer, com votos de boas festas, com a canção “There’s No Day Like Christmas Day”, publicada hoje, mesmo a tempo, no You Tube (ver Antena Minho lança música de Natal criada pela banda ‘The Silent Box’). O grupo está a cumprir a promessa e a voz é um caso sério. Tem, ainda, o condão de me lembrar músicas de muito grata memória com as quais continuo a identificar-me.
O arquiteto da ternura e as bolas de cristal
Francisco de Assis, o “segundo Cristo”, abençoado com as cinco chagas, santo que abraçou a divindade na figura de um leproso e foi abraçado pela divindade despregada da cruz, reformador da devoção cristão, sobressai, não só pela ênfase na Paixão, mas também como o grande arquiteto da ternura: inventou o presépio. Vivemos tempos em que é particularmente oportuno evocar o franciscanismo. Faço votos que cada um possa abraçar, desta vez, o próximo na figura do menino Jesus.
Os anúncios Vive la magie des fêtes, da Air Canada, e The Biggest Gift, da Deutsche Telekom, convocam a figura da bola de cristal, uma variante do presépio. Encenam outros encantos que nos aguardam, do tamanho do nosso olhar e à escala das nossas mãos.
Distinguem-se, porém, num aspeto: no presépio, os nossos dedos podem percorrer os caminhos de serrim, molhar-se no lago e afagar as personagens de barro; nas bolas, o cristal materializa uma fronteira que impede a tangibilidade, os dedos embatem numa porta que não se abre. O presépio é marcado pelo toque e pela aproximação, a bola de cristal, pela visão e pelo confinamento. Trata-se de uma separação involuntária que cada anúncio, a seu modo, se propõe ultrapassar. Quer-me parecer que o motivo da bola de cristal se vai multiplicar nesta quadra natalícia como uma alegoria ou uma metáfora da nossa condição atual. Existe, todavia, um mundo em que as bolas de cristais, tantas e de tantos feitios, já não cabem. O mundo é o da comunicação social, e as bolas assumem, até à saturação, outra virtude: a previsão fantástica do futuro.
A importância dos objetos

Separados pelo confinamento, avô e neta aproximam-se graças às novas tecnologias e a um pequeno urso de peluche. Os objetos são bons meios de comunicação e comunhão. Uma jangada de afetos. Um anúncio da NOS, pela agência HAVAS Portugal.
Um colar de corações. A cadeia da generosidade

Chegou o trenó com os primeiros anúncios de Natal. Carregado de generosidade. Ano após ano, a John Lewis faz questão de publicar um anúncio de Natal memorável. Este ano, optou por uma corrente do bem. Pequena boa ação a pequena boa ação, o mundo respira. O anúncio reparte-se por nove episódios, conectados por corações, cada um com um estilo específico de animação. Vou enviar este anúncio aos reis magos.
La agencia y la marca han apostado por distintos estilos de animación con la intención de ilustrar actos de bondad cotidianos de diferentes maneras. Las viñetas abarcan formas de arte que van desde la animación con plastilina y stop motion hasta el CGI (Computer Generated Imagery) y fueron creadas por diferentes artistas, como Chris Hopewell, responsable de videos musicales para Radiohead y Franz Ferdinand, y el animador francés Sylvain Chomet, entre otros.
Del mismo modo, y por primera vez en la historia de la publicidad navideña de John Lewis, la banda sonora es una canción original en lugar de una versión. La cantante de soul británica y ganadora del premio Brit, Celeste, ha escrito y compuesto el tema, llamado A Little Love (https://www.adlatina.com/publicidad/nuevo:-adam-eve-ddb-y-john-lewis-muestran-que-con-peque%C3%B1os-actos-de-amor-se-puede-hacer-del-mundo-un-lugar-mejor).