Galinhas acrobáticas

Galos de Barcelos.
Aquelas que vão morrer te saúdam! Galinhas, ovo acrobático na pata, esmeram-se desportivamente. Não desmerecem dos galos da seleção francesa. Brilham, brilham até à embalagem final. Desde o ovo até ao churrasco. Brilhar ou não, eis a questão.
Marca: KFC. Título: Selection des meilleurs poulets. Agência: Havas (Paris). Direção: J&L. França, Junho 2021.
Bem-estar animal

« Na produção de ovos, as galinhas poedeiras são sistematicamente abatidas por volta dos 18 meses, idade a partir da qual se tornam menos produtivas, logo menos rentáveis, quando podem viver, em média, 6 anos (…) A start-up compromete-se a alimentá-las, alojá-las, cuidar delas, durante toda a sua vida graças à venda dos ovos Poulehouse” (Poulehouse).
O anúncio L’Oeuf qui ne tue pas la poule, da Poulehouse, é uma iniciativa ética e estética notável. Um belo gesto, uma bela história e uma bela animação. Confesso não conhecer nenhum criador de galinhas que espere pela sua morte natural. Aguarda-se pelo direito à vida e à reforma dos frangos.
Há animais felizes. “A Queijaria de Melgaço cria cabras em ambiente de SPA” (Alto Minho TV). Têm música ambiente, massagens, espaços diversificados… Cabras descontraídas dão mais e melhor leite.
“As cerca de 400 cabras são massajadas e ouvem música relaxante, num autêntico ‘parque anti- stress’. O agradecimento é uma média diária de 250 litros de leite de qualidade, que originam seis variedades de queijo” (Alto Minho TV).
A ascensão das galinhas
As aves cantam ou chilreiam. Diz-se: “quando te vejo, o meu coração canta”. Com menos frequência, também se diz: “quando te vejo, o meu coração chilreia”.
Atente-se nos seguintes versos do poema A Omeleta de Egito Gonçalves:
Respiro-te. A voz do frigorífico
entoa sobremesas com a arte da poesia.
O poema leveda no trigo dos olhares.
Ao transcrevê-lo
direi que o nosso coração chilreia
no ar do jardim
como se fosse um pássaro no mais alto
ramo.Egito Gonçalves, A Ferida Amável,
Porto, Campo das Letras, 2000.
Mas ninguém diz “quanto te vejo, o meu coração cacareja”. Os melros cantam, os pardais chilreiam e as galinhas cacarejam. Sendo a língua um bom indicador, a nossa consideração pelas galinhas é mínima. Degustamos os ovos, afagamos os pintainhos e menosprezamos as galinhas. Mas assiste-se, nos últimos tempos, a um chicken turn, uma revolução na imagem das galinhas. Irradiam um novo potencial cívico, ético e estético. O filme A Fuga das Galinhas e a série Cow & Chicken são apenas dois exemplos. A publicidade tem abraçado esta revalorização simbólica das galinhas. Neste anúncio da Reebok, dirigido por Noam Murro, a protagonista é uma galinha amante da liberdade. Um dia correrá com sapatilhas Reebok e será um expoente do sex appeal galináceo. Entretanto, as galinhas ao poder! Os galos já chateiam. A dialéctica da capoeira é contudo complicada. As galinhas põem os ovos, “os galos são os donos dos ovos” e os pintos só pensam em ser galos no lugar do galo (ver Sérgio Godinho, O galo é o Dono dos Ovos).
Marca: Reebok. Título: Live Free Range. Agência: Venables Bell & Partners. Direcção: Noam Murro. USA, Janeiro 2015.
O voo da galinha
À semelhança do que sucedeu com as tartarugas, os sapos e os porcos, as galinhas estão em vias de valorização simbólica (http://tendimag.com/2013/10/06/a-galinha-e-o-politico/). Menos estúpidas, mais vistosas, as galinhas são, agora, empreendedoras. Ainda não voam, mas estão prestes a fazê-lo, tal como os clientes potenciais da companhia de aviação australianaTigerair.
“The Infrequent Flyer program represents exceptional value for Australians who don’t fly all that often. And who better than the chickens of Australia to represent those who just don’t fly that much? It’s a deliberately fun and unconventional spot, just like the program itself” (McCann Melbourne).
Marca: Tigerair. Título: Chickens. Agência: McCann Melbourne. Direcção: Raphael Elisha. Austrália, Novembro 2014.
A nova Mata Hari
Este anúncio da Domino’s é curtido. Uma galinha é a vedeta de um video musical de dança techno. Podia ser um galo. E o anúncio, em vez de australiano, podia ser francês ou português. Mas não, nem sequer frango. Uma galinha, nem mais nem menos, a criatura de Deus simbolicamente mais desprestigiada. Para promover o lançamento de uma nova pizza, à base de bacon e frango, a agência The Campaign Palace, de Sydney, desencantou, em boa hora, este one chicken show.
Marca: Domino’s. Título: Domino’s pizza: Techno Chicken. Agência: The Campaign Palace, Sydney. Direcção: Luke Savage. Austrália, 2008.
Galinha
Este anúncio argentino apresenta uma nova versão da fábula de Esopo “A galinha dos ovos de ouro”. Só que o ovo é, agora, uma garrafa. Gosto de galinhas. Em francês, ma poule (minha galinha) é uma expressão de afecto. Em Portugal, “galinha choca” aproxima-se do insulto. Saussure diria que a palavra poule em francês e a palavra galinha em português não têm o mesmo valor. Não se prestam ao mesmo.
Marca: Andes Barley. Título: The miraculous hen. Agência: Delcampo Saatchi & Saatchi. Direção: Agustin Alberdi. Argentina, Outubro de 2013.