Ninfas

“A zona mais erótica é a imaginação” (Vivienne Westwood)
Acabei de ser entrevistado sobre “o nu na sociedade contemporânea”. A ver o que dá! Para quem tiver curiosidade, a transmissão ocorrerá no programa A Voz do Cidadão, da RTP1, sábado às 14 horas. Proporcionou-se uma breve alusão, como exemplo do erotismo pretensamente artístico no cinema dos anos setenta, ao realizador, fotógrafo e escritor David Hamilton. Filmes, tais como Laura, les ombres de l’été (1979) e Bilitis (1977), obtiveram, a seu tempo, um sucesso apreciável, sendo, inclusivamente, estimados obras de culto. A sua lente, “esfumada”, convoca, a raiar a obsessão, mulheres adolescentes, “ninfas”.
Nascido em Londres em 1933, suicidou-se, supostamente, em 2016 em Paris. Até aos últimos anos de vida, foi alvo de várias acusações de abusos sexuais. Filmes, livros e fotografias foram, aliás, proibidos em alguns países.
“Autodidacta, iniciou a sua carreira de fotógrafo já depois dos 30 anos, trabalhando para revistas de moda – e vendo o seu trabalho chegar a publicações como a Vogue ou a Photo.

O facto de eleger como “objecto” da sua câmara jovens adolescentes, ninfas virginais que fotografava em poses sensuais e eróticas, sempre com um filtro brumoso e em décors que deviam algo ao imaginário hippie, entre camas e prados floridos, elevaram-no a ícone da fotografia mundial. Passou inclusivamente a falar-se de um “estilo hamiltoniano” para classificar esta estética fotográfica – que Hamilton viria também a explorar no cinema, realizando meia dúzia de filmes entre 1975 e 1983, o mais citado dos quais é Bilitis (1977).
Simultaneamente, houve quem se indignasse e o acusasse de pornografia – e países como a África do Sul, por exemplo, censuraram os seus álbuns. As suas fotografias foram muitas vezes colocadas no centro do debate sobre as fronteiras entre a arte e a pornografia. (Público. Ípsilon. “Morreu David Hamilton, o polémico fotógrafo das “ninfas””, 26 de Novembro de 2016: https://www.publico.pt/2016/11/26/culturaipsilon/noticia/morreu-david-hamilton-o-polemico-fotografo-das-ninfas-1752784)
Recordo ter assistido ao filme Bilitis, em Montparnasse, na companhia de um amigo, por sinal, jesuíta! Provavelmente, poucos terão ouvido falar de David Hamilton e ainda menos visto os seus filmes. Em contrapartida, a música do filme, composta por Francis Lai, creio ser bastante conhecida. Seguem um trailer e a banda sonora do filme Bilitis.
Top of the pops com rugas 5. Michel Colombier, Vangelis e Francis Lai
Insisto em recordar e publicar músicas, agora, instrumentais. Paisagens sonoras dos anos sessenta e setenta especialmente apropriadas para ouvir depois da penitência da fisioterapia.
Reflexos
Hoje é Dia da Mulher. No anúncio, da Apple, uma mulher descobre a faculdade de alterar o espaço. E dança, não para de dançar. Só ou consigo mesma. Abre, simultaneamente, as janelas do espírito. E continua a dançar. A música e as imagens são notáveis. Eva? Maria? Madalena? Não, Alice, Super-Alice! O realizador é Spike Jonze. Ganhou o Óscar para o melhor roteiro original com o filme Her, de 2004. Foi considerado, com Chris Cunningham e Michel Gondry, um dos melhores realizadores de vídeos musicais. Cantora e bailarina, FKA Twigs enche o ecrã.
Acrescento três músicas de Francis Lai, dos filmes Un Homme et une Femme (1966), Love Story (1970 e Bilitis (1977).
Francis Lai, 124 Miles an Hour. Un Home et une Femme.1966.
Francis Lai. Theme from Love Story (Finale). Love Story. 1970.
Francis Lai. L’arbre. Bilitis. 1977.
Marca: Apple. Título: Welcome Home. Direcção: Spike Jonze. Estados Unidos, Março de 2018.
As mercadorias do amor
L’amour consiste à être bête ensemble (o amor consiste em ser estúpido em conjunto; Paul Valéry, Monsieur Teste, 1896).
Um anúncio centrado numa relação heterossexual! Um romance num mundo recheado de mercadorias. L’amour, l’amour, l’amour… A música é meio anúncio. Uma pequena amostra de romantismo francês.
Marca: Intermarché. Título: L’amour, l’amour, l’amour. Agência: Romance. Direcção: Katia Lewkowicz. França, Março 2017.
Francis Lai. Un homme et une femme. Claude Lelouch. Un Homme et une femme. 1966.
Aqui há gato!
“I wish I could write as mysterious as a cat” (Edgar Allan Poe).
Enquanto espera a barca sagrada, a alma alimenta-se com memórias.
Enquanto estudante, tive vários colegas reformados. Um deles optou por dedicar a dissertação à simbologia do gato. Falava do antigo Egipto, onde matar gatos era crime, das famílias de gatos nos templos gregos e do gato preto diabolizado pelo papa Inocêncio VIII. Brincava com ele! Cada vez o admiro mais.
O gato das botas, o gato de Cheshire, o gato de Edgar Allan Poe, os gatos de Baudelaire, o Gato Malhado da Andorinha Sinhá, os gatos dos desenhos animados, os aristogatos, a Catwoman, os gatos de Andrew Lloyd Webber ou o gato reciclado do Shrek, todos ronronam no nosso imaginário.
O anúncio Netto-katzen, da marca alemã Netto Marken-Discount, é um compêndio de gatos em movimento. O que me chamou a atenção foi a banda sonora. Apesar de distorcida, recupera a música Music Fly (1977), dos Space. Os Space, banda francesa, granjearam alguma reputação no final dos anos setenta. Apesar de contemporâneos dos Kraftwerk e de Jean-Michel Jarre, a orquestração e a melodia recordam-me, sobretudo, a música de Francis Lai (ver, por exemplo, https://tendimag.com/2014/06/07/bilitis/).
Marca: Netti Marken-Discount. Título: Netto-katzen. Direcção: Brian Lee Hughes. Alemanha, Junho 2016.
Space. Magic Fly. Magic Fly. 1077.
Space. Just Blue. Just Blue. 1978..
Bilitis
Conhecem Francis Lai? Não, não é um sociólogo. Não conhecem… Não faz mal! Se não conhecem não existe. Simpatizo com aquilo que não existe. Não incomoda. Mas o Francis Lai existe. Compôs a música de dezenas de filmes, entre os quais Un Homme et Une Femme (1966), Love Story (1970) e Emmanuelle (1975). Agora, conhecem? Centrado nas relações entre mulheres, Bilitis (1977), dirigido por David Hamilton, passou mais despercebido. Mas a banda sonora não desmerece. A música de Francis Lai fica no ouvido e na memória. São poucos os álbuns que me lembro quando os escutei pela primeira vez. Bilitis é um deles. Há 37 anos! Uma relíquia a partilhar. Escolhi três faixas: 5 – L’Arbre; 9 – Scène d’Amour; e 11 – Bilitis Générique de fin. Eventualmente, para descontrair.