Tag Archive | Finlândia

Música rara

Armas Järnefelt

Num tempo em que nem Santa Senhorinha consegue calar as rãs, segue uma versão rara de uma música rara: a Berceuse, do finlandês Armas Järnefelt (1869-1958), com interpretação de Risto Vuolanne (contrabaixo).

Armas Järnefelt. Berceuse. 1904. Contrabaixo: Risto Vuolanne. Palacio de la Ópera, A Coruña. Abril 2013.

Alteração climática

Salla 2032. Finlândia

E se Salla, povoação polar da Finlândia, se candidatar aos Jogos de Verão de 2032? Graças, precisamente, às alterações climáticas! A população antecipa o evento, aclimata-se. Humor on the rocks, glaciar. Estranha-se, mas não se entranha. Um arrepio. Acusamos o embate, o alarme, de uma ficção caricata e bem contada. Espantoso é este anúncio tão polar ser brasileiro. A agência Africa, de São Paulo, tem um portfólio ímpar.

House of Lapland / Supported by Fridays for Future. Título: Save Salla. Agência: Africa (São Paulo). Brasil, fevereiro 2021.

Valsa triste

Jean Sibelius. Valse Triste. 1904

Enquanto a maioria dos compositores modernos se dedica a fabricar cocktails de todos os tons e feitios, eu ofereço água da Primavera, fria e pública. (Jean Sibelius).

Um convite para a “Valsa Triste”, do compositor finlandês Jean Sibelius (1865-1957). A música consegue sublimar a tristeza. Herbert von Karajan dirige a Orquestra Filarmónica de Berlim.

Jean Sibelius. Valse Triste, 1904. Herbert von Karajan dirige a Orquestra Filarmónica de Berlim.

Espelhos deformadores

Flat distorting mirrors

Atardo-me por terras de Islândia. Emiliana Torrini é islandesa. Tornou-se conhecida pela sua participação no Senhor dos Anéis (Gollum’s Song; As Duas Torres, 2002) e pela canção Jungle Drum (Me And Armini, 2008). Gosto do álbum Love In The Time Of Science (1999), especialmente da canção Baby Blue. Uma canção bem cantada encanta a dobrar.
O pai de Emiliana Torrini é italiano. Tenho um apreço enorme pela Itália. O que é um desconsolo. Tenho várias portas abertas para o mundo e a Itália quase nunca aparece. Aliás, a Espanha, a Grécia, Portugal e, em menor grau, a França parece que deram sumiço. Cinco países com um lastro histórico e cultural ímpar, que num par de décadas caíram do sétimo andar até às catacumbas. Não acredito que a produção cultural tenha entrado em colapso, mesmo com a “crise do petróleo” e as “novas tecnologias”. Na verdade, o mundo é uma feira popular com espelhos deformadores. E a Internet é uma enorme galeria de espelhos. Uma parte vale pelo todo e as outras partes carecem de uma lupa. O nosso mundo pode ser global, líquido, pós-moderno, pós-materialista, pós-humano, pós-urbano, pós-industrial, pós-colonial, pós-pipoca, não deixa de ser, como no romance de Camilo José Cela (A Colmeia, 1951), uma colmeia com vários enxames num cortiço político-financeiro. Talvez as abelhas humanas sejam menos propensas ao equilíbrio do aquilo que Bernard de Mandeville vaticinava (Fábula das Abelhas, 1705). Mas, sublinhe-se, todos contribuimos para as hegemonias culturais. Não fossem hegemonias…

Emiliana Torrini. Baby Blue. Love In The Time Of Science. 1999.

Sem igual

Koff

Como promover um produto num ambiente grotesco? Num anúncio, durante uma reunião exaltada, um copo de cerveja faz a diferença. Noutro anúncio, da mesma marca, uma mulher provoca um pandemónio doméstico enquanto bebe, compenetrada, uma cerveja. Pode o mundo entulhar de duplos, os bebedores de cerveja desta marca são únicos! E nós como eles. Parece magia! Produtos fabricados em massa têm o condão de nos fazer sentir excepcionais. À semelhança da moda: ser parecido para ser diferente. As campanhas anti tabaco são outra louça: despejam pacotes de mensagens sobre uma massa de fumadores. Ninguém é único, ninguém se identifica, ninguém se redime. Nem sequer há pessoas. Só viciados e vítimas.

Marca: Koff Crisp. Título: Meeting. Agência: Hasan & Partners. Direcção: Klaus Spendser. Finlândia, Março 2018.

Marca: Koff Crisp. Título: Good Morning. Agência: Hasan & Partners. Direcção: Klaus Spendser. Finlância, Março 2018.

Ternura

ternura

Ternura

Mais longe? Mais perto? A distância certa é aquela em que se abraça mais as virtudes e menos os defeitos. Não deixe que a ternura se afaste do tabuleiro da sua vida. ”Sem a ternura, o amor não seria nada” (Bourvil, Tendresse, 1963) . A ternura não tem tamanho, lugar ou momento fixo. Num simples gesto, num simples olhar, numa simples atitude, num infinitamente nada, cabe uma galáxia de sentimentos.

Hoje é dia de São Valentim, um bispo romano, do século III, que celebrou casamentos contra a lei do Imperador Cláudio II. São Valentim diz-me pouco, mais me diz Inês de Castro.

“Apercebeu-se que havia mais no mundo do que as especulações da Sorbonne e os versos de Homero, que o Homem tinha necessidade de afectos, que a vida sem ternura e sem amor era apenas uma engrenagem seca, estridente e desoladora” (Hugo, Victor, Notre-Dame de Paris, 1831).

O anúncio Eternal Love, da Instrumentarium, e a canção La Tendresse, de Bourvil, são dois postais ilustrados em dia de namorados. Hoje, não é Fevereiro, nem chove no quintal. Hoje, nas margens do rio Coura, caem do céu as sombras das árvores do luar de Agosto.

Marca: Instrumentarium. Título: Eternal Love. Agência: Cassius Helsinki. Direcção: Pete Riski. Finlândia, Fevereiro 2017.

Bourvil. La tendresse. Letra de Noël Roux. Música de Hubert Giraud. 1963.

La Tendresse (Bourvil)

On peut vivre sans richesse
Presque sans le sou
Des seigneurs et des princesses
Y’en a plus beaucoup
Mais vivre sans tendresse
On ne le pourrait pas
Non, non, non, non
On ne le pourrait pas

On peut vivre sans la gloire
Qui ne prouve rien
Etre inconnu dans l’histoire
Et s’en trouver bien
Mais vivre sans tendresse
Il n’en est pas question
Non, non, non, non
Il n’en est pas question

Quelle douce faiblesse
Quel joli sentiment
Ce besoin de tendresse
Qui nous vient en naissant
Vraiment, vraiment, vraiment

Le travail est nécessaire
Mais s’il faut rester
Des semaines sans rien faire
Eh bien… on s’y fait
Mais vivre sans tendresse
Le temps vous paraît long
Long, long, long, long
Le temps vous parait long

Dans le feu de la jeunesse
Naissent les plaisirs
Et l’amour fait des prouesses
Pour nous éblouir
Oui mais sans la tendresse
L’amour ne serait rien
Non, non, non, non
L’amour ne serait rien
Quand la vie impitoyable
Vous tombe dessus
On n’est plus qu’un pauvre diable
Broyé et déçu
Alors sans la tendresse
D’un coeur qui nous soutient
Non, non, non, non
On n’irait pas plus loin
Un enfant vous embrasse
Parce qu’on le rend heureux
Tous nos chagrins s’effacent
On a les larmes aux yeux
Mon Dieu, mon Dieu, mon Dieu…
Dans votre immense sagesse
Immense ferveur
Faites donc pleuvoir sans cesse
Au fond de nos coeurs
Des torrents de tendresse
Pour que règne l’amour
Règne l’amour
Jusqu’à la fin des jours.

 

Noël Roux

Riscos e rabiscos

Pompeia

Pompeia

A publicidade, por vezes, satura. O acordo ortográfico, também. Boa parte dos anúncios soam a evangelho. Uma pessoa equilibrada mandava os anúncios, por exemplo, para a ERC, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, e dedicava-se à leitura, à conversa, aos amigos, ao passeio, ao exercício físico. Mas é próprio de um aselha esmerar-se. Se a publicidade actual dá náuseas, demanda a antiga. A publicidade muda de ano para ano. Nessa vertigem, só é ultrapassada pelos tacões e pela barba. Tal como a moda, a publicidade tem ondas: ora slow motion, ora legos, ora mutantes, ora ciborgues. Encantaram-me dois anúncios cheios de grotescos e arabescos: linhas e contracurvas que desenham figuras efémeras. Tão leves, tão lindos! O primeiro, Kolibri, é de 2006; o segundo, Fantasia, de 2007.

Marca: Motley Bird. Título: Kolibri. Agência: Psyop. USA, 2006.

Marca: Gustav Paulig. Título: Fantasia. Agência: Sec & Grey Finland. Finlândia, 2007.

Amizade animal

DuckPor que motivo a amizade com um animal nos fica cravada na memória? Recordo dois cães, uma pega, um mandarim e duas gatas. Também me lembro de Skippy, o canguru, Rin Tin Tin, o cão, Lassie, a cadela, Flipper, o golfinho, e Kiki, a cacatua. Com uma paleta de expressões porventura limitada, o que é que os animais têm que nós não temos? Parar de crescer talvez ajude. É o que sugere este anúncio para uma revista da Walt Disney. Uma história simples, muito simples, bem compassada,em que o protagonista é um pato (Donald).

Marca: Aku Ankka magazine. Título: The Duck & the Boy. Agência: Bob the Robot. Direcção: Juho Konstig. Finlândia, Março 2016.

 

Pessoas fora do comum

Finlandia vodka

As pessoas excepcionais são cada vez mais correntes na publicidade. E as vulgares, mais raras. O anúncio 1000 Years Of Less Ordinary Wisdom, da Finlandia Vodka, mostra pessoas invulgares acompanhadas por frases de sua autoria: “Be nobody’s bitch but your own”; “Get your ideas out of your head”; “Life is too short for bad drinks”; “Too old is a lousy excuse”; “Go out dancing”; “Stop thinking you are unique”; “Look out your partner and your feet”; “Never forget who you are”; “Save nothing for the way back”; “Get out before the mountain explodes”;  “Keep pushing or quit dreaming”. Belas imagens, bom ritmo, boa música…

Marca: Finlandia Vodka. Título: 1000 Years Of Less Ordinary Wisdom. Agência: Wieden+Kennedy, London. Direcção: Siri Bunford. UK, Junho 2015.

O hambúrguer

HamburgerEla dá à luz um bebé, ele, dá um hambúrguer. Esta assimetria remonta a Adão e Eva. Ela dá uma maçã, ele, nem sequer o caroço. Os homens são umas esponjas. Não lhes basta a mãe, ainda sugam a esposa ou a namorada. Mas, humor à parte, o hambúrguer é mesmo importante. Se calhar, a coisa mais importante do mundo. Aposto que há mais gente a comer hambúrgueres do que a cear amor (ver A Ceia do Amor: http://tendimag.com/2014/03/31/a-ceia-do-amor/).

Marca: McDonald’s. Título: The Birth. Agência: DDB. Direcção: Bjorn Sjoblad. Finlândia. Fevereiro 2015.