Tag Archive | Debussy

A Arte do Ruído na Viragem do Milénio

Para ensinar algo às pessoas, convém misturar o que elas conhecem com o que elas ignoram (Pablo Picasso)

Qualquer ruído escutado durante muito tempo torna-se uma voz (Victor Hugo)

The Art of Noise. Born On A Sunday. The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Live And Reconstructed / 1999

A procura da primeira música matinal encalhou no álbum The seduction of Claude Debussy (1999), o quinto e último dos Art of Noise. Música eletrónica com declamação e ópera à mistura. Por que não? Aspiração e inspiração à solta. Trata-se de um álbum com uma sonoridade diferente dos precedentes Who’s Afraid of the Art of Noise? (1984), In Visible Silence (1986), In No Sense? Nonsense! (1987) e Below the Waste (1989). Conceptual, mistura trechos do compositor impressionista francês com bateria, baixo, ópera, hip hop, jazz, récitas, ruídos digitalizados e a voz da alta mezzo-soprano Sally Bradshaw.

The Art of Noise. Il pleure (At The Turn Of The Century). The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Faixa 1

Vanguardistas, os Art of Noise constituíram um grupo britânico de synth-pop que foi fundado em 1983 pelo engenheiro/produtor Gary Langan e pelo programador JJ Jeczalik, acompanhados pela teclista/arranjadora Anne Dudley, pelo produtor Trevor Horn e pelo jornalista de música Paulo Morley. Foram pioneiros no uso intensivo e criativo do Fairlight, instrumento musical eletrónico de origem australiana que permite o processamento computadorizado e a interpretação de amostras de sons através de um teclado semelhante ao de um piano (o vídeo com a canção Born On A Sunday ilustra, de algum modo, este procedimento). “Beat Box”, “Moments in Love”, “It’s All About Me”, “Close (to the Edit)” e os covers “Video Killed the Radio Star”, “Peter Gunn” e “Kiss” conquistaram os primeiros lugares nas tabelas de vendas. Várias composições integram filmes tais como O Diário de Bridget Jones, Os Anjos de Charlie: Potência Máxima ou A Minha Madrasta É Um Extraterrestre.

The Art of Noise. The Art of Noise. On being blue. The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Faixa 4
The Art of Noise. The holy egoism of genius. The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Faixa 8
The Art of Noise. Approximate Mood Swing No:2. The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Faixa 11
The Art of Noise. Born on a Sunday. The Seduction Of Claude Debussy. 1999. Live on Talk Music, March 24th 2000. “Faixa” 2

Arabescos

1. Santa Sofia de Constantinopla (séc. VI).

O arabesco, de origem islâmica, é um entrançado decorativo com predomínio de formas geométricas. Na origem, não contemplava figuras humanas (ver figuras 1 a 3). Encontram-se obras precursoras no Império Romano e na Grécia Antiga (ver figuras 4 a 6). Os grotescos aproximam-se dos arabescos (ver https://tendimag.com/2012/02/12/desgravitar-sem-conta-peso-e-medida/).

O arabesco inspira a música. A composição Arabesque, de Claude Debussy, é uma referência.  Os Coldplay publicaram, recentemente, uma canção intitulada Arabesque.

Claude Debussy. Arabesque No. 1. Andantino con moto. 1888-1891. Intérprete: Nino Gvetadze. Bimhuis Amsterdam. 2014.
Coldplay. Arabesque. Everyday Life. Live at the Amman Citadel, Jordan. 2019.

Água velada: o fascismo e a fonte

Trieste ( Italy ). Fontana dei Quattro Continenti ( 1750 ). Allegory of river Nile.

A Fonte dos Quatro Continentes (1751-1754), em Trieste, obra do escultor Giovanni Battista Mazzoleni, lembra a Fonte dos Quatro Rios (1648-1651), de Gian Lorenzo Bernini, na Praça Navona, em Roma. Tem um pormenor e uma história interessantes.

A escultura associada ao continente africano está com o rosto velado. Por se desconhecer, à época, a nascente do rio Nilo (apenas no século XIX se viria a descobrir a nascente do Nilo no lago Vitória). Sábia sabedoria! Quem desconhece a origem anda com o rosto tapado. Quando votamos também devíamos portar um véu espesso: sabemos, eventualmente, a origem, mas ignoramos o destino.

Fonte dos Quatro Continentes. 1751-1754. Trieste. Itália.

Com o tempo, a fonte foi votada ao abandono. Em 1925, o Conselho Comunal manifestou a intenção de a desmontar. O que virá a suceder em Setembro de 1938, “in occasione del Comizio che Benito Mussolini avrebbe condotto annunciando la promulgazione delle leggi razziali” (https://artplace.io/discover/2113/fontana+dei+quattro+continenti). Foi reconstruída em 1970 noutra posição. Regressou ao lugar de origem no ano 2000.

As pedras falam! A água canta.

Claude Debussy : Estampe 3 (Jardins sous la pluie) por Paul Montag, excerto do concerto Génération Jeunes Interprètes, Maison de la Radio, 14 de Janeiro de 2017.