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Uma amiga mostrou-me uma fotografia de uma pintura de Cristo com um “saiote” denunciando, aparentemente, traços femininos, ver andróginos. Por exemplo, as pernas. Encontra-se na Igreja da Irmandade das Almas de S. José das Taipas, no Porto. A inscrição, na base da cruz, identifica-o como “o Santo Cristo de Burgos” (Figura 1).
Mas a questão não é descabida. Carl Gustav Jung sustenta, apoiando-se em Georg Koepgen, a androginia não só de Cristo mas da própria Igreja.
Cristo de Burgos

01. Cristo. Igreja da Irmandade das Almas de S. José das Taipas. Porto.
Uma amiga mostrou-me uma fotografia de uma pintura de Cristo com um “saiote” denunciando, aparentemente, traços femininos, ver andróginos. Por exemplo, as pernas. Encontra-se na Igreja da Irmandade das Almas de S. José das Taipas, no Porto. A inscrição, na base da cruz, identifica-o como “o Santo Cristo de Burgos” (Figura 1).
A imagem original do Santo Cristo de Burgos está, naturalmente, em Burgos, na catedral (Figuras 2 e 3). Data do séc. XIV. Uma lenda advoga que a escultura foi encontrada no mar, num galeão sem tripulação. Acompanhavam-no umas placas a pedir que fosse colocado em local magnificente e conveniente.
Até ao séc. XIX, esteve à guarda do Convento dos Eremitas de Santo Agostinho. Figura proeminente da Semana Santa, a escultura é articulada (Figuras 2 a 4). A zona das articulações é coberta com pele, o cabelo é verdadeiro, bem como as unhas. Consta que o cabelo e as unhas não param de crescer. Imagens do Santo Cristo de Burgos estão disseminadas por todo o mundo, nomeadamente ibero-americano.
Para fechar o ciclo e regressar ao início, observe-se a estátua do Santo Cristo de Burgos na Igreja de S. Francisco de Assis (Figura 6), nas Filipinas (Saraya, Quezon). Não sou competente para discernir a eventual androginia das imagens do Santo Cristo de Burgos. Certo é que, tirando o saiote, a imagem do Cristo de Burgos não se distingue das demais (Figura 5).
Mas a questão não é descabida. Carl Gustav Jung sustenta, apoiando-se em Georg Koepgen, a androginia não só de Cristo mas da própria Igreja.
“Koepgen fala do conflito apolíneo-dionisíaco da Antiguidade, cuja solução cristã consiste em “que na pessoa de Jesus o masculino esteja unido ao feminino”. “Somente nele se encontra esse lado-a-lado do masculino e do feminino em vigorosa unidade”. “Se no culto cristão a Deus se encontram reunidos homens e mulheres com direitos iguais, tem isso mais do que um significado casual: é a realização da androginia (…) tornada visível em Cristo (…) “A tensão e a lutas dos opostos do sexual se acha compensada em Jesus por meio da unidade andrógina”. A Igreja quanto à constituição é “hierarquicamente masculina, mas a alma da Igreja é de todo feminina” (…) Para Koepgen, pois, não apenas Cristo é andrógino, mas de modo considerável também a Igreja, conclusão cuja lógica não se pode negar” (Carl Gustav Jung. Mysterium Coniunctionis: Rex e Regina; Adão e Eva; A Conjunção. Editora Vozes, 04/03/2011, pp. 154-155).
Cosmética
Ele ou ela? Uma questão de cosmética? Eis a magia da liquidez: mergulha-se mulher e sai homem; e vice-versa. O anúncio High School Girl?, da Shisheido, embora não o explicite, lembra a figura do andrógino, cara ao imaginário japonês.
As marcas de moda evidenciam-se pela qualidade dos anúncios. Este é um bom exemplo. Para aceder ao making of: https://www.youtube.com/watch?v=CM_uPPvXUXs.
Marca: Shisheido. Título: High School Girl? Japão, Outubro 2015.