Archive | Outubro 2022

Eco de aula com Damien Rice

Damien Rice

Há anos que não dava uma aula aos alunos do mestrado em Comunicação, Arte e Cultura. Apetece-me saborear o rastro com uma bela e singela música de Damien Rice.

Damien Rice. My Favourite Faded Fantasy. My Favourite Faded Fantasy. 2014. Ao vivo: Carrè, Amsterdam (2014-10-27).

Franz Ferdinand e o anime Cyberpunk

Cyberpunk: Edgerunners. Setembro 2022

Os admiradores de anime revelam-se um público interativo. Reagem! No mesmo dia em que foi colocado o artigo “David Sylvian, Japan e os anime”, recebi o vídeo de abertura dos créditos do anime Cyberpunk: Edgerunners, estreado em setembro no canal Netflix. Lembra vagamente a Pop art e as viagens psicadélicas. O lettering é notável. A música, This Fire, é dos Franz Ferdinand. Além do referido vídeo dos créditos do anime Cyberpunk, acrescento dos vídeos musicais deveras criativos dos Franz Ferdinand: Love Illumination; e Take Me Out.

Cyberpunk: Edgerunners | Opening Credits | Netflix. Setembro 2022
Franz Ferdinand. Love Illumination. Right Thoughts, Right Words, Right Action. 2013. Vídeo oficial
Franz Ferdinand. Take Me Out. Franz Ferdinand. 2004. Vídeo oficial

David Sylvian, Japan e os anime

Golden Kamuy. Season 4

Orientalização do Ocidente? A questão já se colocava, há meio século, a Fernando Namora (ver https://tendimag.com/2022/01/23/estamos-no-vento/). O entusiasmo pelos manga e pelos anime constitui um dos sinais. Continuo, no entanto, desde os anos setenta, a estranhá-los. Estou em crer que, no meu caso, a orientalização do ocidente tenha revertido numa oxidação da razão com a respetiva camada de ferrugem. Mas admito que a explicação mais plausível remete para a falta de exposição: quem não prova, não entranha.

Constato, contudo, que os anime, dignos de culto, evidenciam qualidade, criatividade e recursos. E aproveitaram a pausa da pandemia. A nova temporada do anime Golden Kamuy oferece-se como exemplo.

David Sylvian, e o grupo Japan (1974-1982), tornaram-se, ajudados pelo nome, particularmente populares no Japão. Adotadas pelos anime, algumas das suas músicas viram a audiência disparar. É o caso da canção For The Love Of Life, tema final do anime Monster. Acrescento Ghosts; condiz com a conversa que vou dedicar às “coisas do outro mundo” (Melgaço, 21 de outubro).

Golden Kamuy – OP / Opening 4. 2022
David Sylvian. For The Love Of Life. Monster. 2004
David Sylvian / Japan. Ghosts. Tin Drum. 1981. 2003 Mix.

O Amor e a Morte

La vie est une cerise / La mort est un noyau / L’amour un cerisier [A vida é uma cereja / A morte um caroço / O amor uma cerejeira] (Jacques Prévert. Chanson du mois de mai. Histoires et d’autres histoires. 1963).

A Dor. Cemitério de Montmartre. Paris

Ando absorto com as esculturas funerárias. Quanto mais percorro os cemitérios, mais os sinais de vida se sobrepõem aos da morte. Principalmente, o amor, a realidade mais viva da vida humana, a única que, pelos vistos, pode triunfar sobre a morte.

Junto o anúncio Apariciones, de 2002, da Cruz Vermelha da Argentina. Raro, não o encontrei com melhor resolução. Vale o conceito e a canção, Sanvean – I am Your Shadow, da Lisa Gerrard.

Anunciante: Cruz Roja. Título: Apariciones. Agência: Leo Burnett. Direção: Fabian Bonelli. Argentina. 2002.

Diga-o com robots!

Touch Community Services. Human Touch. Singapura. 2022

Parece-me que estou a ficar senil, mas não resisto a repetir: manifesta-se impressionante como o ser humano tem de recorrer à mediação do não-humano (animais, animações, objetos) para expressar, significar, o humano.

Singaporean charity TOUCH Community Services has released a heart-warming film about the power of the human touch, produced by BBH Singapore. / The ‘touching’ film is set in the future and tells the story of Alfie, a robot assistant, who learns about the human touch from the family and community it interacts with. / Accompanied by an acoustic arrangement of the classic hit, Human, written by The Killers, the campaign film embodies TOUCH’s commitment to inspire hope and transform lives through the power of human connection, both in the present and the future (Ads of the World, The Human Touch: https://www.adsoftheworld.com/campaigns/the-human-touch, acedido em 11.10.2022).

Anunciante: Touch Community Services. Título: Alfie / The Human Touch. Agência: BBH Singapore. Direção: Roslee Yusof. Singapura, outubro 2022.

A Rebelião dos Gatos e a Reincarnação dos Pássaros

Back Market. Sorry Cats. 2022.

Os gatos declaram guerra às novas tecnologias de comunicação. Mas estão condenados ao insucesso. As novas tecnologias de comunicação são imortais, recicláveis. As ideias, também! Tenho uma leve suspeita de que o anúncio Sorry Cats, da Back Market, se inspira no filme Os Pássaros, de Alfred Hitchcock. Junto o anúncio Sorry Cats, assim como o trailer de Os Pássaros e a sequência da cabine telefónica.

Marca: Back Market. Título: Sorry Cats. Agência: Buzzman, Paris. Direção: Tom Kuntz. França, outubro 2022.
Alfred Hitchcock. Os Pássaros. 1963. Trailer.
Alfred Hitchcock. Os Pássaros. 1963. Sequência da cabine telefónica.

O barco de casca de pinheiro

Barco de brincar feito com casca de pinheiro

De vez em quando gosto de quebrar a rotina e regressar a este ou aquele artista. Como o barco de casca de pinheiro ao tanque de rega. Voltou a caber a sorte a Sufjan Stevens, músico que o Tendências do imaginário já contempla (ver https://tendimag.com/2018/09/16/festival-para-gente-sentada/; e https://tendimag.com/2021/10/19/sufjan-stevens-o-misterio-do-amor/).

Sufjan Stevens. Visions of Gideon. Call Me by Your Name: Original Motion Picture Soundtrack. 2017.
Sufjan Stevens. The Greatest Gift. The Greatest Gift. 2017.
Sufjan Stevens. Fourth of July. Carrie & Lowell. 2015.

Notável e notório. A formiga e a cigarra, o galo e a galinha

Moledo, domingo. Proporciona-se um mergulho no adubo humano.

Notável é aquilo que é “digno de nota”, “merecedor de consideração e apreço”; notório, o que é notado, “conhecido por um grande número de pessoas”. Pode-se ser notável sem ser notório; e notório, mas não notável. Numa sociedade da imagem, da rede e do artifício, prevalece o notório. Chegados a esta encruzilhada, apetece reequacionar a fábula de La Fontaine: hoje, quem morre de fome não é a cigarra, notória, mas a, a formiga, notável. A cigarra polariza o reconhecimento. Sendo esta a verdade mundana, importa refundar as pragmáticas, as éticas e as teodiceias.

A propósito da cigarra e da formiga, acode-me a relação entre o galo e a galinha, cantada, com inspiração e humor, por Sérgio Godinho.

Sérgio Godinho. O Galo é o Dono dos Ovos. Pano-Cru. 1978. Ao vivo no Centro Cultural de Belém.

Publiquei, em 2011, uma fábula no ComUm, boletim da Universidade do Minho, com o título “Fábula comUM” (contemplada no Tendências do Imaginário com o título “Fábula das formigas sabichonas”). A Universidade tinha a virtude da homeopatia: sabia digerir o “mal”, a adversidade, expondo-se à crítica mordaz e sarcástica. É certo que as farpas se afogavam na gordura académica. Destilada e delirante, a escrita enferma de um vício que não me larga: discorrer sem explicitar o assunto. O leitor que adivinhe e o resto reverbere. O “segredo” remetia para a implementação da política dos rácios alunos/docentes consoante os cursos, depressa extrapolada, abusivamente, para os departamentos. Um veneno que as universidades, em particular a do Minho, devoraram. Este desvio de uma fórmula de financiamento para uma forma de governo desvirtuou o mundo académico, resultando numa legitimação e num reforço dos interesses e privilégios instalados ou em vias de instalação. Uma deformação que, a par do controverso processo de Bolonha, contribuiu estruturalmente para o atual desequilíbrio institucional das universidades portuguesas.

Para aceder à “Fábula das formigas sabichonas”, carregar na imagem seguinte ou no endereço https://tendimag.com/2011/11/13/fabula-das-formigas-sabichonas/

Desequilíbrio fórmico

Plenitude afetiva

HP. Little Moments. 2017

A relação entre pai e filha nem sempre é fácil, mas pode propiciar, com a ajuda da tecnologia HP, momentos inesperados de satisfação e plenitude afetivas. Um pouco à margem no anúncio Little Moments, da HP, resulta surpreendente a figura da “mãe”, quase reduzida ao papel, decisivo mas discreto, de fotógrafa.

Marca: Hewlett Packard – HP. Título: Little Moments. Agência: Giant Spoon. Direção: Rudi Schwab. Estados-Unidos, 2017.

Fantasma ao volante

Toyota HiLux

Com o dia dos mortos à porta, assombram-nos visões e medos. Como é costume, a publicidade antecipa-se: expandem-se os anúncios macabros. Para a Toyota, os espíritos querem-se ao volante.

Marca: Toyota HiLux. Título: An Unbreakable Connection. Agência: Saatchi & Saatchi (Sydney). Direção: Benji Weinstein. Austrália, setembro 2022.