As flores do mal

Diesel Little Rock

“Le poèt sait descendre dans la vie; mas croyer que s’il y consent, ce n’est pas sans but, e quil saura tirer profit de son voyage. De la laideur et de la sottise il fera naître un nouveau genre d’enchantements” (Charles Baudelaire, L’Art Romantique, 1852).

Abundam, na publicidade, anúncios desagradáveis. Não se ganha em negligenciar o feio e o inconveniente. Se proliferam é porque surtem efeito: rendem consumo e consumidores. Como é possível tornar o desgosto gostoso?

Escreve René Passeron: “il n’est pas sûr, que la chose laide soit seulement l’échec d’une chose de beauté, ni le laid un non-être du beau” (1962.L’Œuvre picturale et les fonctions de l’apparence, Paris, Vrin,  p.30. O feio e o monstruoso não são nem o lado negro nem a bengala do belo e do perfeito.

“A “estética do feio” (Rosenkranz, Karl, 1853, Aesthetik des Hässlichen, Koenigsberg,  Gebrüder Bornträger) sempre tentou o Homem. O feio conquistou o seu lugar dentro e fora das igrejas e dos palácios (ver Eco, Umberto, 2007, História do Feio, Lisboa, Difel). O disforme, o aberrante e o grosseiro oferecem-se cada vez mais como um recurso da publicidade actual, como esteios de sedução que ajudam a vender bens e a congregar vontades” (Gonçalves, Albertino, Caretas. O Feio Sedutor).

O feio tem o seu encanto. O segredo consiste em o empratar e o servir na devida forma e nas devidas doses. Duvidam, porventura, da atracção do feio? Lembram-se de Darth Vader? Uma maldade bem sucedida. O Corcunda de Notre-Dame  incrustou-se nos nossos sentimentos. Em 1971, A Laranja Mecânica foi um êxito. Em 1973, foi a vez do Exorcista. Gollum é, provavelmente, a personagem mais popular do filme O Senhor dos Anéis. Há séculos que os artistas não param de pintar e de esculpir horrores.

A Diesel é uma marca que aposta em anúncios inconvenientes e repulsivos. Não há bem, bom ou belo que se aproveite. Segue o anúncio Little Rock 1873, vencedor do Grande Prémio de Cannes em 1997.

Marca: Diesel. Título: Little Rock 1873. Agência: DDB Needham. Direcção: Jhoan Kamitz. Suécia, 1996.

Leave a Reply

%d bloggers like this: