Se eu morrer
“Não há, aparentemente, representação, por estranha que seja, em que os homens não se apressem a acreditar com fervor, por pouco que os alivie do facto de saberem que um dia deixarão de existir, desde que lhes dê a esperança de uma forma qualquer de eternidade” Elias, Norbert (1988), La société des mourants, Paris, Christian Bourgois, p. 16-17).
Propus, recentemente, a noção de vida social do morto. Existem rituais de celebração e memória dos falecidos. Em alguns casos, até se comunica com o morto. Os anúncios da ifidie acenam com uma promessa de “vida para além da morte”. Ifidie é uma entidade, com página na Internet (http://ifidie.net/) e no Facebook (https://www.facebook.com/pg/IFiDieApp/about/?ref=page_internal), que disponibiliza uma aplicação que permite a criação de um vídeo ou de uma mensagem de texto que serão tornados públicos após a morte da pessoa. O vídeo ou a mensagem podem conter uma história de vida, um testemunho, a última vontade ou um segredo nunca antes partilhado. Graças a ifidie, a pessoa conquista um momento de protagonismo após a morte. É certo que esta proposta é vaga e vulgar, porventura um negócio suspeito. Mas não deixa de ser na banalidade que costuma brilhar o imaginário.
Marca: ifidie. Título: What you will leave behind. USA, Março 2011.
Marca: ifidie. Título: Your message after you die. USA, Dezembro 2011.
Marca: ifidie. Título: Your chance to world fame, after you die. USA, Agosto 2012.
Republicou isto em O LADO ESCURO DA LUA.
Gosto muito de Elias, digo, do seu equilíbrio reflexivo. Na era tecnológica mudam as dimensões, mas por instantes ocorreu-me a evasão de um diário de outrora, mas são coisas distintas. Muito complexo de facto. O diário não era tão instintivo, e escrevia-se por vontade. É do banal que se inspira o imaginário? É esse banal que me lateja os neurónios.