Provocação
Há anúncios que, mais que convencer ou seduzir, provocam. Abusam da alusão e da paródia, focalizadas no sexo. Gozam com assuntos sérios. São aguardente pura: aquecem, primeiro, o estômago e, depois, o espírito, rumo à embriaguez total. A provocação é um catalisador de relações, centelha e cimento da interacção social. A antropologia sabe isso. A provocação publicitária não é novidade. Lembram-se das campanhas da Benetton? E do anúncio da Perrier com uma garrafa que cresce à medida que é acariciada por uma mão feminina? A provocação abre caminho. E o insulto? Ainda não. Alguém testou? Os antropólogos também sabem disso, a não ser mais a propósito dos rituais. Se calhar, tinha alguma piada um anúncio que nos insultasse: “Sua besta adiposa! Sim, tu, papa-pixeis, desperdício sem reciclagem! Vai passear um burro às costas! Vota em quem te albarde! Pões o ecrã doente! Tem-te alergia, basta a tua sombra para se cobrir de urticaria, desdigitaliza-se. És um novo híbrido: o para-raios da estupidez. Um arroto da criação. Pior, só a histerese do habitus, a glocalização, a sociedade invisível e a liquidez do amor”. Era giro, não era?
Marca: Valformosa. Título: Valformosa cava wants Belgians to make more babies. Agência: Duval Guillaume Modem. Direção: Koen Mortier. Bélgica, Novembro 2013.