Perder a vontade
De todos os animais, o homem é aquele a quem mais custa viver em rebanho.“ (Jean-Jacques Rousseau).
Começar o dia com três cigarros, Anna F. e dois gramas de vontade é um prenúncio batido.

Perdi a vontade num dia de nevoeiro. Viajava rumo ao Alto Minho. A minha vontade gosta do Alto Minho. Em Nine, mudei de comboio. Não me acompanhou, entrou noutro comboio, não sei se por engano. Segui para Viana do Castelo e ela, para o Porto. Nunca mais nos reencontrámos. Sem a vontade, não há vontade. Apodera-se de nós um vazio que nos cansa. E nos devora. “A espécie de felicidade de que preciso não é tanto a de fazer o que eu quero, mas a de não fazer o que eu não quero.” (Jean-Jacques Rousseau).
Esperança e resignação

Gosto do anúncio Hope is Power, do The Guardian. Uma alegoria bem lapidada. Dispersão ao mínimo e saturação ao máximo: a aflição de uma borboleta fechada dentro de casa, que não baixa as asas. E o vidro quebra-se, num instante milagroso de libertação. Um anúncio sem palavras (as borboletas não falam), excepto o laconismo das duas frases escritas no final do anúncio: Change is possible; Hope is power. Neste tipo de anúncio, a banda sonora é crucial. Revela-se uma excelente escolha a música, despojada, Nothing Changes, de Anaïs Michell, do álbum Hadestown (2010). A duração da canção (0:51) “combina” com a duração do anúncio (1:00).
O anúncio Hope is Power lembra o anúncio Release Me (2007), da Saab. Vitalista e mais turbulento, Release Me versa sobre os mesmos tópicos: o encarceramento e a vontade de libertação. Retomo-o.
Um traço de giz
Há muitos patinhos feios. E poucos cisnes. O inferno mora em todo o lado. “São os outros”, diria Jean-Paul Sartre. Em casa, na escola, na rua… Mas há um traço de giz que pode marcar a diferença. Pode desenhar a ilha que nos habita. A ilha da excepção. A ilha do tesouro. A ilha da vocação. A todos o inferno, a cada um o seu pedaço de giz.
JuBaFilms. With a piece of chalk. Alemanha. 2012.