Confinamento desconfinado

Confinamento desconfinado. Uma peneira esburacada. Estas palavras turvam-me o pensamento. Há dias publiquei um gráfico que comparava o número de infetados por 100 000 habitantes nos países da Europa. Portugal estava numa posição delicada. Volvidos poucos dias, a situação piorou: Portugal é o país com mais casos por milhão de habitantes a nível mundial. Avoluma-se o número de infetados, de hospitalizados e de mortos. Que incómodos rivalizam com o internamento nos cuidados intensivos ou a agonia nas instituições de idosos? Que efeitos colaterais rivalizam com a doença? Com as filas de ambulâncias às portas das urgências? Os mortos não sofrem traumas pedagógicos, assimétricos ou identitários. A morte não é reversível. Para os mortos, não há futuro perdido. Não admira que num confinamento desconfinado, o essencial pareça depender de cada um e de todos nós. Decretos coletivos com responsabilidade individual. A avaliação das consequências é uma arte, a arte de decidir.
Tu fazes parte!

Um blogue tem um público. Que público? Quem e como são os visitantes do Tendências do Imaginário? Como sintonizar um público desconhecido.
O Tendências do Imaginário funciona como um arquivo. Se quero ouvir a folia portuguesa, projectar O Desconcerto do Mundo ou transferir o artigo “Uma Vida Entre Parêntesis”, o blogue está à mão. É uma espécie de “nuvem” temática. Mas os arquivos pedem arrumação. Por exemplo, colmatar falhas, como a canção Come together do Beatles.
O Tendências do Imaginário funciona também como caderno de apontamentos, cujo alcance pode ser grande. A Morte na Arte, livro em fase de conclusão, é composto, exclusivamente, por artigos do blogue.
O Tendências do Imaginário releva de um bricolage pessoal, que combina desejo, intuição e oportunidade. As ideias andam soltas como as cabras na montanha.
Esta reflexividade de três vinténs vem a propósito da inserção da música Come Together, dos Beatles. Toda a gente conhece. Mas sente-se a falta no “arquivo”. No que respeita ao registo musical, esta ausência é uma falha.
Propenso a misturas, entendi complementar a Come Together com um anúncio afim. Um anúncio centrado no sentimento de estar em conjunto. Cismei que devia ser um anúncio português. Há muitos anúncios portugueses com ajuntamentos. Mas voltei a cismar: o anúncio deve abranger tanto a união como a separação.
O anúncio Caixinha Mágica, da NOS, cumpre os requisitos. As pessoas juntam-se, separam-se e voltam a juntar-se. Um trabalho fabuloso da agência Havas e da produtora Escritório. Mas o anúncio contém uma “surpresa”: a filmagem é em Guimarães, na Praça da Oliveira. Lembra o lema de Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura: Tu fazes parte! Por sinal, o vídeo promocional da Capital Europeia da Cultura começa precisamente na Praça da Oliveira.
A mensagem, o discurso, não se desfia, não se desfaz, escava-se e revolve-se.
Uma banda no telhado
A genialidade e a extravagância andam muitas vezes de mãos dadas. Os Beatles deram, no dia 30 de Janeiro de 1969, um concerto no telhado do edifício Apple Headquarters, no 3 Saville Road, em Londres. O engenheiro de som foi Alan Parsons, ligado aos Pink Floyd e fundador dos Alan Parsons Project. O efeito foi, no mínimo, perturbador, com a Polícia Metropolitana a intervir. Consta que foi o último concerto público dos Beatles. Seleccionei a canção Don’t Let Me Down (1969).
Nem com excesso de recursos é fácil ser original. Menos de dois meses antes, no dia 7 de Dezembro de 1968, a banda norte-americana de rock progressivo Jefferson Airplane deu um concerto num telhado em Nova Iorque. Foi filmado por Jean-Luc Godard. O efeito? Tudo menos discreto. Seleccionei a canção The House at Pooneil Corners (1968).
The Beatles. Don’t Let Me Down. Ao vivo no telhado do edifício Apple Headquarter, nº 3 Saville Road. Londres, 30 de Janeiro de 1969.
Jefferson Airplane. The House at Pooneil Corners. Ao vivo num telhado em Nova Iorque, 7 de Dezembro de 1968.
Com uma pequena ajuda dos Beatles
O Elvis Presley é um herói do rock e da publicidade. Mas os Beatles não ficam atrás. Fazem parte de inúmeros anúncios. Os anúncios seguintes são autênticos vídeos musicais. O primeiro, da BBC, com o título de uma música dos Beatles, I’m the Whalrus, é um mosaico de sequências que confrontam o humano e o animal. Trata-se de um anúncio antigo (2000) e raro. O segundo anúncio, Beatles Story, da Mtv games/Xbox, é mais recente (2009). Propõe uma animação do percurso dos Beatles, desde o underground até ao psicadélico.
Marca: BBC Curiosity. Título: I’m the Whalrus. Agência: Leagas Delanay. UK, 2000.
Marca: Mtv games/Xbox. Título: Beatles Story. 2009