As potencialidades sonoras dos sapos

Os sapos comem a lua durante o eclipse e são animais de estimação das bruxas. São o lado feio da beleza. As rainhas malvadas são tranformadas em sapos e os sapos, em príncipes. No escuro e na água, os sapos coaxam alto e bom som, com efeitos sonoros especiais. Os anúncios que valorizam o som são, normalmente, criativos, envolventes e, por vezes, aterradores. Graças ao anúncio Can You Solve The Mystery?, do Australian Museum, sempre que ouvir um carro ou uma motorizada a passar na estrada, fico na dúvida se não será um sapo.
Festa batráquia
Para o Halloween, enquanto as bruxas e os zombies não chegam, recomendo a curta-metragem Garden Party. Fabulosa! Com sapos, animais associados ao mal, à morte e à bruxaria. O vídeo é longo (7 minutos) e lento. Mas tem uma estética e uma narrativa prodigiosas. O desfecho, cirurgicamente anunciado, é surpreendente. Trata-se de uma curta-metragem mega premiada: cerca de 30 prémios. Imagino quanto os autores se divertiram durante a produção.
Garden Party. Direcção: Florian Babikian; Vincent Bayoux; Victor Caire; Théophile Dufresne; Gabriel Grapperon; Lucas Navarro. MOPA, 2016.
Os sapos não são apenas criaturas do mal, são também beijoqueiros. No anúncio Water Frog, da Vitamin, um sapo anda à procura da princesa, mas não lhe serve uma qualquer, deve beber Vitaminwater Zero Glow. Para aceder ao anúncio, carregar na imagem ou no seguinte endereço: http://www.culturepub.fr/videos/vitaminwater-frog/.
Marca: Vitaminwater. Título: Frog. Agência: CP+B. Direcção: Bryan Buckley. USA, 2011.
O coro dos sapos

Songes drolatiques de Pantagruel, François Desprez, Paris, 1564.
Não tenho particular apreço pelos sapos. Nem para beijar, nem para engolir. Mas gosto de os ver no ecrã. Quem não tem saudades do Cocas?
A Budweiser apostou na figura do sapo, desde os anúncios Frogs e Tongue lashing frogs, ambos de 1995, até ao anúncio Bud Light Frogs, de Maio 2017.
No imaginário ocidental, o sapo é um símbolo crepuscular, associado à lua, à água, à terra e, por vezes, à bruxaria, ao diabo e à morte.
Marca: Bud Light. Título: Bud Light Frogs. Agência: Mcgarrybowen. Reino Unido, Maio 2017.
Marca: Budweiser. Título: Tongue lashing frogs. Agência: DDB Needham. USA, 1995.
Marca: Budweiser. Título: Frogs. Agência: D’Arcy Masius Benton & Bowles. USA, 1995.
Paródia disparatada
kHá dias, fiz um apelo para a interpretação de uma gárgula do Mosteiro da Batalha. Apetece-me, agora, alinhar alguns disparates.
Grotescas, as gárgulas incarnam o pecado, em acto ou em expiação. Constituem exemplos a evitar. Muitas gárgulas com figuras humanas são frades ou freiras que caíram na tentação da carne, da luxúria e da gula. Várias freiras têm manto, mas subido ou aberto, exibindo os peitos e as partes genitais. Umas estão com as mãos juntas, em sinal de arrependimento, outras com as mãos em partes impróprias. Por vezes, aparece uma criança, de corpo inteiro ou só a cabeça (no peito, no ventre…). Há quem associe estas figuras de mulheres devassas com criança a freiras que tiveram filhos, nomeadamente com autoridades da comunidade eclesiástica. Que motiva a Igreja a esculpir estes desmandos? Há quem assegure que a Igreja estava mais empenhada em combater, do que em encobrir, os pecados internos.
A gárgula pode corresponder a uma freira que teve um filho através de uma relação inaceitável. E a criança? Por que está assim representada? A mulher engole, vomita ou engasga? Nada inibe o escultor grotesco de colocar uma cabeça nos locais mais inconcebíveis: no peito, na barriga, no rabo, na perna… E na boca. Mas não me parece que seja ao acaso.
Continuando a fabular, mas de outro jeito.
As bruxas também tinham mantos e cobriam a cabeça. Na Idade Média, havia muitas bruxas na cabeça das pessoas. No ranking da luxúria, estavam no topo. E constava que comiam crianças, incluindo os filhos. Figura próxima do diabo, a bruxa tinha lugar cativo na tribuna das gárgulas.
A figura desta gárgula com uma criança na boca traz à memória o parto do gigante Gargântua pela orelha da mãe, Gargamelle (ver https://tendimag.com/?s=partos+extravagantes). As letras francesas e a escultura portuguesa a aproximar-se! Era lindo, não era?
Complicando, mas estamos a lidar com reportórios simbólicos muito sensíveis, já tinha ouvido falar em espécies de rã que têm os filhos pela boca. Segundo o jornal ABC News, de 20 de Março de 2013, uma equipa de cientistas australianos recuperou uma estirpe de rã “que dá à luz pela boca” (http://abcnews.go.com/blogs/technology/2013/03/frog-that-gives-birth-through-mouth-to-be-brought-back-from-extinction/). Ora o sapo é dos animais mais ligados à bruxaria e ao próprio diabo.
Sabe bem fabular, delirar, parodiar a argumentação científica. Será que se esconde em cada um de nós um Jonathan Swift ou um Carlo Cippola?
Metamorfose mecânica
Do caldeirão das bruxas ao velódromo da internet, o sapo é um dos petiscos simbólicos mais prezados. Cúmulo das virtualidades metamórficas (e.g. “O Príncipe Sapo”), incarna a ideia de Victor Hugo de que entre o belo e o feio a fronteira é muito ténue (e.g., o Cocas de Os Marretas é um sapo castiço; ver vídeo 2). Há belas máquinas. Os carros, por exemplo. Mas o relógio rivaliza com todas elas. Um relógio que se transforma em sapo mecânico adquire o requinte adicional de um híbrido estético (ver vídeo 1), que muito apreciariam artistas como François Desprez (séc. XVI) ou Giovanni Battista Braccelli (séc. XVII).
Marca: Tag Heuer. Título: Frog. Agência: Clm BBDO. França, Maio 2011.
Marca: Bmw. Título: Kermit. Alemanha. 2006.
Reincarnação: vidas de sapo
Este anúncio, Toads, da Campofrio é notável. Conquistou vários prémios, entre os quais o London International Awards 2011. Embora espanhol, envolveu a agência McCANN ERICKSON PORTUGAL Lisbon (ver a ficha técnica). Multiplicam-se, neste milénio, as fábulas contadas com apurado requinte técnico e artístico. Como são virtuais, artificiais, quiméricos, frágeis e ternurentos, estes sapos… Quase tão fantásticos e tão animais como nós!
Marca: Campofrio. Título: Toads. Agência: McCann Erickson Portugal Lisbon. Direção: Diego Kaplan. Espanha, Dezembro de 2010.
Ficha técnica (http://www.eurobest.com/winners/2011/film/entry.cfm?award=101&entryid=4702):
Title: | TOADS |
Advertiser | CAMPOFRIO |
Product | SLICED HAM |
Entrant | McCANN ERICKSON PORTUGAL Lisbon, PORTUGAL |
Type of Entry: | Product & Service |
Category: | SAVOURY FOODS |
Advertiser/Client: | CAMPOFRIO |
Product/Service: | SLICED HAM |
Entrant Company: | McCANN ERICKSON PORTUGAL Lisbon, PORTUGAL |
Advertising Agency: | McCANN ERICKSON PORTUGAL Lisbon, PORTUGAL |
Creative Credits | |
Production Company: | PLANTA FILMS Madrid, SPAIN |
Name | Position | |
Leandro Raposo | Chief Creative Officer | |
José Marques/Mónica Moro/Pablo Colonnese | Executive Creative Director | |
José Marques | Creative Director | |
João Taveira/Mónica Moro/Leandro Raposo | Copywriter | |
José Marques/Pablo Colonnese | Art Director | |
Luis Filipe Moreno/Bruno Carvalho | Agency Producer | |
Jesús Martínez/Soria Nuria Rosselló/Sofia Belo | Account Supervisor | |
Jesús Vásquez | Advertiser’s Supervisor | |
Diego Kaplan | Director | |
Roque Baños | Music | |
Verónica Fiz | Account Manager | |
Filipe Moreira/Oriol Bombí | Planner |