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Encadear umas nas outras / Uma brisa de memórias

Os peregrinos acodem à Galiza e da Galiza chovem canções. E memórias. Num dia em que me abandonei ao calor do computador.

Os peregrinos lembram-me os romeiros; e os romeiros, os Luar Na Lubre.

Luar Na Lubre – Romeiro Ao Lonxe (Con Diana Navarro). Versão galega de “Scarborough Fair”, canção inglesa do século XII.

Os Luar Na Lubre lembram-me a Sés, e a Sés os Encontros Minho-Galiza, designadamente o III, no auditório de Goián, em Tomiño, com a participação, precisamente, da Sés e do Pedro Abrunhosa (“Até o bom pode ser efémero”: https://tendimag.com/2017/04/03/ate-o-bom-pode-ser-efemero/).

Luar Na Lubre – Os tafenos da gaurra. Con Maria Xosé Silvar (Sés) e a Coral de Ruada. Ao vivo: Teatro Principal de Ourense, junho de 2018

Os Encontros Minho-Galiza lembram-me o Francisco Abrunhosa e o Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura, responsável, em parceria com o Centro de Estudos Galegos e o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, pela organização.

Sés e Pedro Abrunhosa durante o III Encontro Minho-Galiza. Fotografia de Francisco Abrunhosa

O Mestrado em Comunicação, Arte e Cultura lembra-me tempos em que acreditava em inovar e criar institucionalmente. Recorda-me, também, a Escola da Primavera, uma espécie de estágio anual fora do campus, uma iniciativa que resultou original, oportuna e emblemática.

A Escola da Primavera lembra-me Melgaço, seu destino de eleição, berço que não me canso de embalar. E apetece-me embarcar na “Nau” dos Luar na Lubre, acrescentando apenas à “xente de Galicia” a “gente do Minho”:

Nau de vento, nau dos homes
que vogan na inmensidade
somos xente de Galicia
onde a terra bica o mar-e.
Ai la la, ai la la…
Nau de soños, nau de espranzas
nau de infinda veleidade
o que esquece as suas raices
perde a súa identidade
Ai la la, ai la la…
(Luar Na Lubre, Nau, 1999)

Luar na Lubre. Nau. Cabo do Mundo. 1999. Ao vivo em 2000

E, assim, aportado em Moledo, refresca-me esta brisa circular de memórias. E deixo-me, com o outono a anunciar-se, estar junto ao computador como se de uma lareira se tratasse.

Inteligência Artificial, Machine Learning e composição musical

Pedro Costa, doutorado em Sociologia, investigador do CECS – Centro de Estudos Comunicação e Sociedade, acaba de publicar o artigo A Inteligência Artificial e Seus Herdeiros no blogue Margens (https://tendimag.com/?p=55533). Um ensaio sobre a Inteligência Artificial, o Machine Learning e o futuro da criatividade, designadamente no que respeita à música. Pertinente, oportuno, bem escrito, fundamentado e criteriosamente ilustrado, trata-se de um texto raro, subtil e ousado. Aproveito para acrescentar quatro vídeos excelentes relativos a outras tantas músicas emblemáticas da relação entre o homem, a máquina e as emoções: The Robots (1978), dos Kraftwerk; Wellcome To The Machine (1975), dos Pink Floyd; All Is Full Of Love (1997), da Bjork; e How Does It Make You Feel (2001), dos Air.

Kraftwerk. The Robots. Die Mensch-Maschine. 1978. Ao vivo na Casa da Música (Porto), 20.04.2015
Pink Floyd. Wellcome To The Machine. Wish You Were Here. 1975 / Animação por Maxime Tiberghien, Sylvain Favre & Maxime Hacquard, 2019
Bjork. All Is Full Of Love. 1997. Vídeo musical realizado por Chris Cunningham, 1999
Air. How Does It Make You Feel. 10 000 Hz Legend. 2001

Pink Floyd e a Guerra na Ucrânia

No último artigo do Tendências do Imaginário, aludi ao último concerto dos Pink Floyd durante o Live 8, em 2005. Cumpre-me precisar: o último concerto ao vivo com todos membros do grupo: Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright. O desentendimento de longa data entre Waters e Gilmour a morte de Wright em 2008 impediram qualquer reunião ulterior. Mas a marca Pink Floyd, de facto, não desapareceu. Os Pink Floyd editaram, por exemplo, em 2014, o álbum Endless River. David Gilmour, com 76 anos, e Nick Mason, com 78 anos, reativaram o grupo este ano para uma intervenção de protesto contra a guerra na Ucrânia e de apoio ao povo ucraniano. O resultado é a canção e o vídeo Hey Hey Rise Up.

Pink Floyd – Hey Hey Rise Up (feat. Andriy Khlyvnyuk of Boombox). Abril 2022

(En)canto

Há quem não aprecie os Pink Floyd, embora o grupo tenha passado por fases e criado canções para quase todos os gostos. No que me respeita, representam uma banda presente em momentos marcantes, inaugurais. Juntos pela última vez durante o Live 8, no Hyde Park, em 2005, abriram o pequeno concerto com Speak to me / Breath. Um (en)canto biográfico.

Pink Floyd. Speak To Me / Breathe. Dark Side of the Moon, 1973. Ao vivo: Live 8. Hyde Park. Julho 2005.

Carranca

Anónimo. Países Baixos, c. 1520. Collections Artistiques de l’Université de Liège.

Uma valente carranca com mais de 500 anos dirigida à demência dos atuais cães da guerra.

Supertramp. Fool’s Ouverture. Even in the quietest moments. 1977. Ao vivo em 1977.
Pink Floyd. The Dogs of War. A Momentary Lapse of Reason. 1987. Ao vivo em 1988.

Repetição e variação

M. C. Escher, Cisnes, 1956.

Quando a paisagem humana se encolhe e se repete, o melhor é recorrer ao que pode variar. Por exemplo, a música. Seguem duas interpretações do California Guitar Trio: o medley Ghost Riders on the Storm, a partir dos Shadows e dos Doors; e o cover de Echoes, dos Pink Floyd.

California Guitar Trio. Ghost Riders on the Storm. White Water. 2004. From the DVD “At Home With the California Guitar Trio”. 2010.
California Guitar Trio. Echoes. 2008. Ao vivo. Red Clay Music Foundry. 2018.

Embarcados

Ícaro. Recipiente de terracota. Grécia. Século V a. C. The Metropolitan Museum of Art.

Estás embarcado (Blaise Pascal). Por inteiro. Não pasmes! Ousa! Aposta! Perde-te! Renova! Sê trágico! Sê insensato! Arranha as asas! Rasga as fraldas do mundo! Somos pequenos, somos de uma pequenez infinita (Blaise Pascal).

Segue uma interpretação, original, despojada, das Bachianas nº5, de Heitor Villa-Lobos. Adiciono um vídeo da canção Hey You, dos Pink Floyd.

Heitor Villa-Lobos: Bachianas brasileiras No. 5, W. 389, 1. Aria (Cantilena). Ao vivo em Borchardt, Berlim. 2018. Intérprete: Nadine Sierra.
Pink Floyd. Hey You. The Wall. 1979. Ao vivo no Eart’s Court, em Agosto de 1980.

A herança dos Pink Floyd

Falar em David Gilmour é pensar, também, em Roger Waters. Gilmour com 75 anos e o Waters com 77, são os dois rostos dos Pink Floyd. Continuam ativos. Roger Waters lançou um álbum em 2017 (Is This the Life We Really Want?), outro em 2018 (Igor Stravinsky’s The Soldier’s Tale); David Gilmour publicou o álbum Rattle That Lock, em 2015, e o single Yes, I Have Ghosts, em 2020. A solo, durante e após os Pink Floyd, Roger Waters assinou seis álbuns de estúdio e David Gilmour, quatro.

Discos de Roger Waters

David Gilmour e Roger Waters são inconfundíveis. São diferentes. Associo-os, no entanto, a um mesmo aspeto da respetiva carreira. Nenhum descola da matriz dos Pink Floyd, nomeadamente da última fase da banda. A ópera Ça Ira (2005), de Roger Waters, é, porventura, a exceção. A meu ver, não recriaram a herança dos Pink Floyd. Ouvi e reouvi os discos, pacientemente, à espera de algum diamante escondido. Repare-se que os Pink Floyd se notabilizaram pela sua renovação regular. Como nenhuma outra banda!

Discos de David Gilmour

Seguem três músicas do Roger Waters. Duas integram o álbum mais recente Is This Life We Really Want? (2017). A primeira, Hello In There, é especial. A segunda, The Gunner’s Dream, é, pelo contrário, um cover dos Pink Floyd (The Final Cut, 1983). A terceira, It’s A Miracle, do álbum Amused To Death (1992), encaro-a como um pequeno diamante.

Roger Waters. Hello In There. Is This Life We Really Want? 2017.
Roger Waters. The Gunner’s Dream. Is This Life We Really Want? 2017.
Roger Waters. It’s A Miracle. Amused To Death. 1992.

David Gilmour e Leonard Cohen

Leonard Cohen.

David Gilmour compôs em 2020 a canção Yes I Have Ghosts (vídeo 1) por ocasião do lançamento do áudio-livro A Theater For Dreams (2020) da esposa Polly Samson. É acompanhado pela filha Romany Gilmour (harpa e voz). Lembra Leonard Cohen. O suficiente para justificar uma pesquisa rápida. Há registo de David Gilmour a interpretar várias canções de Leonard Cohen, tais como So Long, Marianne, Fingerprints, Bird o the Wire, Hey, That’s No Way To Say Goodbye… E If It Be Your Will, cover gravado em família (vídeo 2). Não resisto a acrescentar o original de Leonard Cohen (vídeo 3). Um emigrante melgacense no Canadá ofereceu-me uma cassete de Leonard Cohen com esta canção. As coisas são relações sociais.

David Gilmour, com Romany Gilmour. Yes I Have Ghosts. Single, 2020.
David Gilmour, com Romany Gilmour. If It Be Your Will. Cover de Leonard Cohen. 2020.
Leonard Cohen. If it be your will. Various Positions. 1984. Ao vivo em 1988.

Maratona

E se houvesse uma maratona sem meta? Correr para chegar a lado nenhum. Como insectos à volta de um candeeiro.

Pink Floyd – ” Run Like Hell “. The Wall. 1979. Live Earls Court 1980.