Dono do tempo?


“Agora não é mais dono do seu tempo?” Pergunta uma amiga. Na realidade, ando ocupado. Talvez para fugir do vazio, vou-me deixando ocupar. Os meus colegas e amigos também andam ocupados, mas com coisas importantes: meetings, calls, papers, media, projects, reports, classrooms, contracts, bureaucracies, protocols, platforms, virtualities, travels, budgets, referees, metrics, contests, prices, rankings, positions & propositions. As minhas ocupações resumem-se a minudências invisíveis: revejo e traduzo textos alheios, presto-me a ser organizador sombra ou suplente de última hora, preparo aulas e encontros na aldeia, entrego-me a investigações vadias, intermitentes e gratuitas, edito e reescrevo livros que nunca têm fim, cuido da saúde que bem precisa e convivo cada vez mais com os amigos. Vale-me isso e a música, minha musa e companhia. E insisto em pingar pensamentos e sentimentos neste blogue. É certo que, reformado, a maioria destas atividades, decididas ou aceites, são livres. Mas uma vez iniciadas deixam de o ser. Devoram recursos e tempo. Regressando à pergunta inicial: neste momento, sou menos dono do meu tempo, mas provisoriamente. Trata-se de uma perda a que não me resigno, que não sei se prefiro à riqueza de ter todo o tempo do mundo.
Música e imagem

“Nunca tenho receio do “excesso” – excesso de amor, liberdade, imaginação ou respeito, porque essas coisas são imateriais e emocionais e não podem ser medidas ou limitadas” (Khatia Buniatishvili).
Quando penso na música clássica a render-se à imagem contemporânea, acode-me a talentosa pianista francesa de origem georgiana Khatia Buniatishvili. Um prodígio que não teme excessos! A “pop star do mundo da música clássica”. Quem mais poderia ser?
Impromptus
Sonhem com os anjos.
Ryuichi Sakamoto

Não é quando temos força que precisamos ser fortes.
Ryuichi Sakamoto é um músico, compositor, produtor e ator japonês radicado em Tóquio e em Nova Iorque. Colaborou com Rodrigo Leão.
Ryuichi Sakamoto. Put your hands up. Ryuichi Sakamoto: Playing The Piano 2009 Japan.
Ryuichi Sakamoto. energy flow. BTTB 20th Anniversary release. 1999.
Rodrigo Leão. Rosa. Cinema. 2006. Com Rosa Passos e Ryuichi Sakamoto.
Chopin por Maria João Pires

À selecção de obras culturais aplica-se o princípio abdominal: é mais fácil alargar do que reduzir (AG).
Anunciei no último artigo uma seleção de obras de Frédéric Chopin. Mais vale cedo do que nunca. Retenho duas composições para piano: um noturno e uma sonata, interpretados por Maria João Pires. Dois é pouco, mas é mais que três. Assim vaticina a psicologia dos públicos. Colocam-se dois vídeos, visualizam um; colocam-se três, não visualizam nenhum.
O piano, as mãos e o resto.

As palavras pedem férias. Enquanto não as leva o vento, não nos dão tréguas. As palavras são a coisa humana mais infestante.
Khatia Buniatishvili é uma pianista célebre, famosa pelas mãos e pelos decotes. Seguem três interpretações: Rachmaninov, Schubert e Brahms.
Quando a alma fecha a porta

A alma adormeceu. Ezio Bosso (1971-2020), compositor, maestro e pianista italiano, faleceu há três semanas, vítima de doença neurodegenerativa. Desde setembro de 2019, sem agilidade nas mãos, deixou de tocar piano. Gosto da cultura italiana. Sou latino. As músicas Clouds, The mind on the (Re)Wind e Rain, in Your Black Eyes são excelentes para elevar a alma. Acrescento uma pequena reportagem, Concerto per la terra, capaz de a estremecer.
Ilhas de solidão

Se te sentes só quando estás só, estás em má companhia (Jean-Paul Sartre).
O vídeo musical do japonês Ryuichi Sakamoto, Solitude, ajusta-se aos novos tempos de confinamento e isolamento. Isolar vem do italiano “isolare”, que vem de “Isola” e do latim “insula”, que significam ilha. Em Português, existe a alternativa “insulamento”. Os espanhóis dizem “Aislamiento”, da palavra “isla” (ilha).
Yann Tiersen

Yann Tiersen descende dos bretões e de outras coisas mais; eu descendo dos brácaros e de outras coisas menos. Partilhamos uma origem celta. A discografia de Yann Tiersen é apreciável. As músicas Pell (um belo vídeo) e Tempelhof foram extraídas do álbum ALL, publicado em 2019.