O Pecado na Publicidade
Séculos de cultura judaico-cristã habituaram-nos a associar o prazer e o desejo ao pecado. Tradição que a publicidade reinterpreta num novo triângulo infernal: a mercadoria é pecado, o consumidor desejo e o anúncio tentação. Muitos anúncios, como o célebre Bouteille, da Perrier (1976), convocam o pecado (ver http://tendimag.com/2011/10/19/a-mulher-o-homem-e-o-objecto/). Acrescentemos dois casos:
O primeiro, Don Patillo, das massas Panzani, é uma paródia da saga do cinema Don Camilo. Um padre de aldeia não resiste, anúncio após anúncio, ao sabor das massas Panzani. Deus admoesta-o, mas compreende.
Marca: Pâtes Panzani. Título: Don Patillo. França. 1975?
O segundo caso diz respeito ao anúncio Les p+echés capitaux, da Mercedes (1998). Seis pecados envolvem, sucessivamente, o automóvel: a inveja; a luxúria; a ira; a preguiça; o orgulho; a avareza. Só falta a gula (do Don Patillo). Como ressalta a voz-off, “ do 13 ao 16 de Setembro, os novos mercedes são um convite ao pecado”. Trata-se, de algum modo, de uma atualização da roda dos Sete Pecados Mortais de Hieronymus Bosch (1500).
Marca: Mercedes Benz. Título: Les péchés capitaux. Agência: FCB. França, 1996.
A publicidade é uma feira que não vende indulgências mas antes lenha para a fogueira. O pecado na publicidade, eis um tema de investigação interessante.