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Um meio entre nada e tudo

Um anúncio magnífico, original na forma e no conteúdo, promovido por uma empresa francesa de navios de cruzeiro.

Anunciante: PONANT. Título: The North Pole, The South Pole, And You. Agência: Fred & Farid Los Angeles. Direção: ACCIDENT. Estados-Unidos, Novembro 2021.

Que é o homem na natureza? Um nada em relação ao infinito, tudo em relação ao nada: um meio entre nada e tudo. Infinitamente afastado de compreender os extremos, o fim das coisas e o seu princípio estão para ele invencivelmente ocultos num segredo impenetrável; igualmente incapaz de ver o nada de onde foi tirado e o infinito que o absorve (Pascal, Pensamentos).

“Não sei quem me pôs no mundo nem o que é o mundo, nem mesmo o que sou. Estou numa ignorância terrível de todas as coisas. Não sei o que é o meu corpo, nem o que são os meus sentidos, nem o que é a minha alma, e até esta parte do meu ser que pensa o que eu digo, refletindo sobre tudo e sobre si própria, não se conhece melhor do que o resto. Vejo-me encerrado nestes medonhos espaços do universo e me sinto ligado a um canto da vasta extensão, sem saber porque fui colocado aqui e não em outra parte, nem porque o pouco tempo que me é dado para viver me foi conferido neste período de preferência a outro de toda a eternidade que me precedeu e de toda a que me segue.
“Só vejo o infinito em toda parte, encerrando-me como um átomo e como uma sombra que dura apenas um instante que não volta.
“Tudo o que sei é que devo morrer breve. O que, porém, mais ignoro é essa morte que não posso evitar.
“Assim como não sei de onde venho, também não sei para onde vou Sei, apenas, que, ao sair deste mundo, cairei para sempre no nada ou nas mãos de um Deus irritado, sem saber em qual dessas duas situações deverei ficar eternamente. Eis a minha condição, cheia de miséria, de fraqueza, de obscuridade (Blaise Pascal, Pensamentos).

Volta ao mundo

Jeep_BeautifulLands15Fui espreitar a nuvem de tags do Tendências do Imaginário. Destacam-se as palavras: absurdo, animação, arte, automóvel, corpo, futebol, grotesco, humor, mulher, música, paródia, sensibilização e sexo. Empreendedorismo, ajustamento e internacionalização não aparecem. Irritam-me! É a vesícula.
O empreendedorismo absorve uma fatia enorme dos fundos comunitários. Palavra mestre e palavra-chave. Chave mestra! Duvido que alguma vez uma ideologia tenha sido tão bem paga. Alguém anda a empreender connosco.
O ajustamento é o pão nosso de cada dia. O governo ajusta-nos e nós também nos ajustamos. O vento sopra de feição para os nutricionistas e os peritos em falências. As opções do governo e as práticas dos cidadãos tendem a corresponder-se. Tudo se ajusta na minha terra, tudo menos o desemprego.
Internacionalização é palavra que soa a leilão nacional. Gosto do mundo, real e imaginado, mas a internacionalização como desígnio incomoda-me. Intrigam-me as internacionalizações com fundos e resultados domésticos. O público deste blogue é 80% estrangeiro, nem por isso deixa de ser um blogue nacional. Internacionalizem-se! A internacionalização é uma palavra pródiga em privilégios. Num jogo do ganso provinciano.
Empreendedorismo, ajustamento e internacionalização são palavras solares. Fecundam-nos todos os dias!

O anúncio da Jeep não é responsável por esta descarga biliar, embora o conteúdo seja assumidamente internacional, uma ementa gourmet para os “devoradores de paisagens” (Krippendorf Jost., Les dévoreurs de paysages, Lausanne, Editions 24 Heures, 1977). Quanto à música, uma excelente versão de My land is your land.

Marca: Jeep. Título: Beautiful lands. USA, Janeiro 2015.