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Estamos no vento

Fernando Namora. Estamos no vento. 1974

Fluxos e refluxos, eventualmente, alterados. De onde sopram os ventos? Do Oeste? Do Leste? Os seguintes anúncios provenientes de quatro países (Tailândia, Índia, Malásia e China) dão que pensar.

Em Window with view, da SCG Home, a ilusão publicitária externa é substituída pela interioridade do lar; em It’s time to change the equation, da Olay, a desigualdade de género não remete para uma falocracia abstrata mas para a proximidade experiencial comunitária, tendo como agentes o pai, a mãe, os vizinhos, o amigo, a professora, o funcionário; em A spark for change, do RHB Bank, a redenção ecológica de uma civilização incivil não é fruto de uma qualquer organização global mas da soma mimética de um impulso infantil, espontâneo, puro e inocente; e em Meet the OnePlus Buds Z2, da OnePlus, a ficção ocidental à James Bond é parodiada com uma sobrecarga de motivos absurdos e grotescos.

Assistimos a uma ocidentalização do oriente ou a uma orientalização do ocidente? Há quem sustente que o tempo é de orientalização. É plausível. Certo é que, de um ou de outro quadrante, estamos no vento, vento que sopra hoje o amanhã emergente.

Estamos no vento: narrativa literário-sociológica (1974) é o título de um livro de Fernando Namora dedicado às transformações e aos novos movimentos sociais, em particular juvenis, que desafiam o Ocidente. Esta obra, que se propõe sentir a pulsação da sociedade contemporânea, inspirou a minha vocação. Um legado e uma memória que se me afigura não vibrar o suficiente no rodopio da paisagem intelectual portuguesa atual. Pelo menos, vista de onde estou, do meu inconformado miradouro. Representa, porém, uma abordagem lúcida, atenta à mudança, uma brisa de frescura na crista da história.

“A sociedade ocidental está em crise: crise de crescimento, crise de adaptação. As velhas estruturas não suportam já uma mentalidade que, partindo da juventude, dia a dia se impõe e generaliza” (Fernando Namora. Estamos no vento, 1974, da capa do livro).

Regressando ao tema inicial, Fernando Namora releva, há quase meio século, a tendência de “orientalização do Ocidente”. Leia-se, por exemplo, o que escreve na página 190:

Fernando Namora. Estamos no Vento, p. 190. Extraído do site Fernando Namora (httpfernando-namora.blogspot.com)
Marca: SCG Home. Título: Window with the view. Agência: Saatchi & Saatchi. Direção: Suthon Petchsuwan. Tailândia, maio 2020.
Marca: Olay. Título: It’s time to change the equation. Agência: Publicis Singapore. Índia, janeiro 2022.
Marca: RHB Bank. Título: A spark for change. Agência: FCB Malaysia. Direção: Telly Koay. Malásia, janeiro 2022.
Marca: OnePlus. Título: Meet the OnePlus Buds Z2. Produção:  Sweetshop Shanghai. Direção: Sebastien Guy. China, janeiro 2022.

Pressa

The Charge of the Lancers (1915), by Umberto Boccioni

The Charge of the Lancers (1915), by Umberto Boccioni.

A nossa sociedade não tem grandes narrativas, mas tem grandes nomes. Por exemplo, sociedade da slow food, da slow fashion e do slow thinking. E tem o reverso: sociedade do zapping, da velocidade e da aceleração. Tudo devidamente globalizado. Até o Oriente, dado à meditação e à paz do corpo, cede às virtudes da pressa.

Marca: K Bank. Título: Long. Agência: Ogilvy & Mather Thailand. Direcção: Thanonchai  Sornsriwichai. Tailândia, 2010.

Marca: Srisawad Transport Loan. Título: Truck. Agência de produção: Phenomena Bangkok. Direcção: Thanonchai  Sornsriwichai. Tailândia, 2011.

Conto de fadas à moda digital

McDonalds

Não há forma de evitar preconceitos e estereótipos. A mim, afigura-se-me que a publicidade oriental se dispõe entre dois extremos, sem meio termo: anúncios curtos e impactantes ou longos e emocionantes. O humor e o amor. Pelos vistos, rimos mais depressa do que choramos. O anúncio filipino The boy that loves to study é longo. É um conto de fadas com uploads, downloads e redes sociais. A fada madrinha é a McDonald’s.

Acrescento a canção Fate, interpretada, ao vivo, pela sul-coreana Sohyang (um cover de Lee Sun Hee).

Marca: McDonald’s. Título: The boy that loves to study. Agência: Leo Burnett. Filipinas, 2016.

Sohyang. Fate. Ao vivo. Cover de Lee Sun Hee.

Corrida de ecotaxis

Cycle rickshaw

Há quem goste de cerveja com amendoins, tremoços ou camarão da costa; prefiro com humor. O anúncio The Race, da beIN SPORTS, é generosamente oriental. Um humor franco e aberto, abdominal, mais gargalhada do que contracção facial. Narrativa curta, sem subentendidos. Aposta na imagem. Parafraseando René Descartes (“le bon sens est la chose du monde la mieux partagée (Discours de la Méthode, 1637), o humor é a coisa do mundo mais bem repartida. Há quase tantos tipos de humor e de riso quantas as formas de estar no mundo: negro, amarelo, azedo, doce, picante, envergonhado, ingénuo, cínico, sobranceiro, tímido, farto, enigmático, grotesco, trágico… Afigura-se-me que também existe um humor oriental.

Este anúncio confirma que os países do extremo-oriente cultivam a paixão pelo futebol; apreciam a selecção portuguesa; e admiram Cristiano Ronaldo, a mudança mais rápida da corrida de ecotaxis (cycle rickshaws).

 

Marca: beIN SPORTS. Título: The race. Agência: RedDot. Direcção: Mike Harvey. Singapura, Agosto 2017.

Mr Bean e a quebra de açúcar

Rodney Pike. Mr Bean Mona Lisa.

Rodney Pike. Mr Bean Mona Lisa.

Mr Bean (Rowan Atkinson) é um expoente do humor pós-moderno. Assim como existe um riso à Charles Chaplin, à Buster Keaton ou à Jacques Tati, também existe um riso à Mr Bean. Mas neste anúncio da Snickers Mr Bean soa algo estranho, como um peixe fora de água. Palpita-me que o problema reside, precisamente, no “aquário”. Mr Bean habituou-nos a cenários minimalistas. Neste anúncio, o cenário é carregado, demasiado cheio, mais ao jeito de um videojogo do que de uma comédia. O desenlace do anúncio acaba por confirmar os nossos pressentimentos. Afinal, não é Mr Bean, mas um guerreiro oriental com quebra de açúcar!

Marca: Snickers. Título: Mr Bean. Agência: AMV BBDO. Direção: Daniel Kleinman. UK, Outubro 2014.

A Marca da Consagração

shaolin_pepsiEnquanto o Mundial de Futebol seca a publicidade, vale a pena revisitar as relíquias. Este anúncio da Pepsi Cola é genial: exotismo, Oriente, monges, kung fu, “solidariedade mecânica”, humor e, por último, a MARCAção do escolhido. Não parece, mas é um anúncio francês.

Marca: Pepsi Cola. Título: Kung Fu. Agência: CLM BBDO. Direcção: TARSEM. França, 2002.

Sharingan

Há décadas que os manga e os animee têm vindo a conquistar espaço no imaginário ocidental. E a publicidade tem-lhe feito as devidas vénias. Nos últimos dias, saíram dois anúncios inspirados nas artes marciais orientais: um chinês, às calças Levi’s, e outro brasileiro, à cerveja Budweiser. Ambos lembram os filmes de Bruce Lee e a clássica série Kung Fu, com David Carradine.

Marca: Levis Denizen. Título Kung Fu. Agência: JWT Shangai-Hong Kong. Direção: Eric Randstell. China, Maio 2012

Marca: Budweiser. Título: The Great Preparation. Agência: Africa, São Paulo. Direção: Armando Bo. Brasil, Maio 2012.

Dança virtual

Black Sun é uma coreografia com projeção gráfica dos kagemu (Nobuyuki Hanabusa e Katsumi Sakakura). Os Kagemu bem podiam visitar este Minho bicapital: tradição e modernidade; artes do palco, gráficas e digitais; preto e branco…

Sonho sobre rodas

Os orientais sempre tiveram a virtude de nos dar a volta à reflexividade. Põem-na assim como num oito. E um oito revela-se, pelo menos imaginalmente, de difícil agência reflexiva. “For ordinary people with extraordinary dreams”. Coisas da China! Esquecendo o oito, este anúncio é uma delícia. Aparece classificado no segmento “Banca e Serviços Financeiros”, mas há “publicidades de consciencialização” que não lhe chegam aos calcanhares. Descubram-se! Que o sonho está a passar…

Anunciante: TC Bank. Título: Dream Rangers. Agência: Ogilvy Taiwan. Direcção: Thanonchai. Taiwan, Março 2011.