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História de um melro que morreu por ser feliz

Pablo Picasso. Visage de la paix IV. 1950.

Um melro costuma fazer ninho no quintal. Atarefado, tem-se saído bem com os gatos. Pior destino teve “o melro” do Guerra Junqueiro, vítima da vingança do Velho Padre Cura, num extenso conto em verso que o meu avô recitava de cor. Segue a digitalização do poema “O Melro” a partir da segunda edição ilustrada do livro A Velhice do Padre Eterno (1ª edição: 1885). Segue o respetivo pdf,

Quem fala em melros, pode falar em rouxinóis. Porque a opressão e a maldade não têm pouso exclusivo. Ao melro raptaram-lhe os filhos; ao rouxinol da Cantilena de Francisco Fanhais cortaram quase tudo.

Francisco Fanhais. Cantilena. 1969. Poema de Sebastião da Gama.

Com imagens pode dizer-se muito. Com poucas imagens pode, por vezes, dizer-se ainda mais. Na curta-metragem dos bauhouse, sopra-se no medo e na esperança até que explodem como tiros e bombas. Porque as nossas asas são tão frágeis como as dos pássaros.

bauhouse. Momentum 2015 – Video Installation. 2015. Curta-metragem.

Inocência e Maldade

Codex Gigas / Bíblia do Diabo. Século XIII. Biblioteca Nacional da Suécia (Estocolmo). A Bíblia do Diabo é o maior manuscrito medieval conhecido. Pesa cerca de 75 quilos. Esta ilustração do diabo está na página 577.

As crianças são adoráveis. Verdade? Contam-se às dezenas os filmes, e os anúncios publicitários, em que as crianças surgem possessas e perigosas. Por exemplo, A profecia (1977), The Shining (1980), Os Filhos da Terra (1984), A Cidade dos Malditos (1995), O Sexto Sentido (1999) ou A Orfã (2007). O trailer The Power of Ideas, do Newport Beach Film Festival, envereda por esse caminho. Por trejeitos mágicos, numa espécie de vudu, uma criança provoca uma série de acidentes humanos. Há tempo para no final aludir ao Exorcista (1973). Estas imagens são chocantes. Colidem com os nossos esquemas mentais. Não estamos habituados à associação da inocência e da crueldade, nem sequer à figura do anjo demoníaco. Até os “anjos caídos”, entre os quais Lúcifer, começam bons e acabam maus, mas não se oferecem bons e maus ao mesmo tempo. Mas a inocência pode abraçar a maldade. Espreite-se, por exemplo, a duplicidade de alguns heróis dos animes.

Marca: Newport Beach Film Festival. Título: The Power of Ideas. Agência: RPA. Direcção: Johan Stahl. Estados Unidos, Abril 2019.

Maldade por maldade

Tomás Santa Rosa (1909-1956)

A maldade e a estupidez existem? Insistem” (inspirado em Marcel Camus).

Pergunta retórica: pode uma pessoa boa ser má? Desde que se convença que está a fazer uma bondade. As maldades por bondade são as mais temíveis. Maldade por maldade, prefiro uma maldade que não tenha que louvar.

Tomás Santa Rosa, stage design for the Mancenilha ballet, 1953.

O pintor brasileiro Tomás Santa Rosa (1909-1956) não tem qualquer culpa neste relambório. Entendi, simplesmente, colocar dois quadros seus. Apetece-me também colocar, sem razão, um minuto da conversa de Jacques Brel sobre a estupidez, a maior alavanca da maldade. Vale a pena ouvir um dos melhores cantores do século XX. Pode aceder à canção L’Air De La Bêtise no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=zR52xwAC7jM.


Extrait : Jacques Brel, interviewé par Henry Lemaire, printemps 1971
Réalisation : Marc Lobet – Via YouTube.

Anjos negros

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“Les inventions des hommes de siècle en siècle vont de même, la bonté et la malice du monde en général en est de même” (Blaise Pascal, Pensées).

A publicidade encarrega-se de nos lembrar regularmente que a maldade perdura no tempo.

Marca: Canal Sony Brasil. Título: Garage. Agência: Publicis São Paulo. Direcção: Lucas Fazzio. Maio 2015.

Marca: Canal Sony Brasil. Título: Hospital. Agência: Publicis São Paulo. Direcção: Lucas Fazzio. Maio 2015.

Riso e Maldade

ementicons-bad-happy-1024x573O riso é malicioso? Só nos rimos do mal dos outros? Com maldade? Quanto mais insólita for a situação? Em grupo? Há anúncios que convocam esta maldade. No Tendências do Imaginário, são às dezenas. Nalguns casos, o riso é franco, noutros, corrosivo. Este anúncio, Introducing Bad Happy, da Mentos, integra uma série, mentos ementicons, todos com o mesmo sentido de humor.

Marca: Mentos. Título: Introducing Bad Happy. Agência: BBH London. Direcção: Mathew Pollock. UK, Fevereiro 2015.

Inocência

doritos-sling-shot-babyAos bobos tudo era permitido, menos enfurecer o rei. Aos bebés, também, menos magoar-se. Os anúncios com crianças comportam ousadias vedadas aos demais. Porquê? Porque são inocentes. No anúncio da Doritos, o bebé voa, fantasticamente, como um herói da Marvel. Num anúncio da Rexona, três jovens divertem-se sem cinto de segurança no banco de trás de uma carrinha: censurado (http://tendimag.com/2011/11/29/zelai-por-nos/)! Num anúncio da Zip.Net, um bebé Casanova assedia um anjo atarefado (uma top model), recorrendo, inclusivamente, a violência escatológica: nada! Num anúncio da Tom Tom, uma mulher corre com os peitos, resguardados, a abanar: censurado (http://tendimag.com/2014/07/25/pos-modernidade-vitoriana/). Qual é a diferença? A inocência infantil! Por exemplo, a mulher que corre, imparável, com os peitos a abanar pode visar um efeito global: pôr o mundo zonzo e desequilibrado para, logo, o endireitar com uma mezinha qualquer: farmacológica, psicológica, religiosa… Sabe-se lá que mais! Abençoadas criancinhas!

Marca: Doritos. Título: Sling Boy. Agência: Goodby, Silverstein & Partners. USA, 2012.

Marca: Zip.Net. Título: Bebé. Agência: F/ Nazca Saatchi & Saatchi. Direção: Rodolfo  Vanni. Brasil, 2000.

O Gozo da Maldade

Piscar de olho do diaboEste anúncio dinamarquês é uma história sem palavras. Gosto de histórias sem palavras. São fáceis de traduzir. Esta é composta, exclusivamente, por maldades, por sinal, gratuitas. Somos assim, apreciamos maldades estúpidas, que não trazem proveito a ninguém. O nosso olhar abre-se de gozo, para logo se fechar numa piscadela ao diabo. O condutor do descapotável é mau, pelo prazer da maldade. O condutor do eléctrico é mau, pelo prazer da vingança. Pelos vistos, não há melhor promoção do que tamanho gozo na maldade.

Marca: As Oslo Sporveier. Título: Make way for the tram. Agência: New Deal. Direcção: Rof Sohlman. Noruega, 1993.

A maldade compensa

Jaguar vs chickenNem tudo é fé, esperança e caridade na quadra natalícia. Há anúncios que parodiam a marca rival e, num assomo de malvadez, comem-lhe a mascote, a célebre galinha com controlo corporal mágico. Good to be bad! A maldade compensa.

Marca: Jaguar. Título: Jaguar vs chicken. USA, Dezembro 2013.

Fábula reciclada

Mais um anúncio para adultos da Chupa-Chups.
Fábula: a capuchinho cor-de-rosa meteu a cabeça na boca do leão e ficou sem o pirulito do prazer.
Moral: o mundo (o chupa-chupa) pertence a quem tem manha e maldade.
Conselho: não falar com a boca cheia, sobretudo com estranhos.
Conclusão: o público não é alérgico ao espetáculo da falsidade e da maldade.
Balanço: nada que não se soubesse.

Marca: Chupa Chups. Título: Hitchhiker. Novembro 2007.

Brutesco

A brutalidade e a maldade vêm conquistando, paulatinamente, a primeira cena da publicidade. De um modo que não é esporádico mas sustentado. Atente-se na campanha Messin’ with Sasquatch, da Jack Link’s Beef Jerky, com o lema Feed Your Wild Side. Soma à volta de uma dúzia de anúncios. O protagonista é Sasquatch, um monstro cujo nome remete para o lendário Pé-grande ou para a figura homónima da Marvel Comics. Os episódios são curtos mas brutescos q.b.

Marca: Jack Link’s Beef Jerky. Título: Messin’ with Sasquatch – Joy buzzer. Agência:  Carmichael Lynch, Inc. EUA, Agosto 2011.

Marca: Jack Link’s Beef Jerky. Título: Carpool. Agência:  Carmichael Lynch Mjz. EUA, Maio 2012.

Marca: Jack Link’s Beef Jerky. Título: Messin’ with Sasquatch – Camp Fire. Agência:  Carmichael Lynch, Inc. EUA, Junho 2010.

Marca: Jack Link’s Beef Jerky. Título: Cannonball. Agência:  Carmichael Lynch Mjz. EUA, 2011.