Tag Archive | Inteligência artificial

Um AI chatbot mais especializado e mais leve: o ELM (Erasmus Language Model)

O meu rapaz mais velho, o João, não para (ver Português coordena projeto de investigação com financiamento de 10 milhões de euros). Estou em crer que por isso e para isso optou por emigrar. Professor e investigador na Universidade Erasmus de Roterdão, está na origem da criação, com Michele Murgia, de um novo “ChatGPT” mais especializado e mais leve: o ELM (Erasmus Language Model). Por cá, talvez o fado fosse diferente. Para aceder à notícia no Erasmus Magazine, carregar na seguinte imagem ou no neste link: https://www.erasmusmagazine.nl/en/2023/10/11/erasmus-has-its-own-chatgpt/.

João Gonçalves talks about ELM during its launch in the Erasmus Paviljoen.

Português integra projeto de investigação com financiamento de 10 milhões de euros

O projeto de investigação Better work, better workplaces (Melhor trabalho, melhores postos de trabalho) acaba de ser contemplado com um financiamento de 10 milhões de euros pela Comissão Europeia. Dos quatro membros da equipa de investigação, faz parte João Fernando Ferreira Gonçalves (Braga,1991). Os demais membros da equipa são Jason PridmoreJovana Karanovic e Claartje ter Hoeven, da Universidade Erasmus de Roterdão.

Segue um excerto da notícia (Better work, better workplaces: 10 million euros awarded to SEISMEC project by European Commission) divulgada pela própria Universidade:

The interdisciplinary SEISMEC project, led by Erasmus University Rotterdam in collaboration with a multinational consortium of research, industry and civil society partners, has been awarded 10 million euros by the European Commission within the Horizon Europe Programme. SEISMEC aims to shape a future of work that is both productive and enriching, with a focus on creating sustainable work environments that prioritize employee well-being and fulfilment. This exclusive funding under this call highlights the four-year project’s potential to transform workplaces and empower workers in all major European industries.

In this project, EUR researchers Jason Pridmore (ESHCC), Joao Fernando Ferreira Goncalves (ESHCC), Jovana Karanovic (RSM) and Claartje ter Hoeven (ESSB) combine their diverse range of expertise across disciplines to provide valuable insights into empowering workers in today’s technological landscape. By drawing on their interdisciplinary knowledge, the university offers essential perspectives on how to effectively empower workers, thereby contributing to the creation of a sustainable future through the redefinition of workplace practices (Erasmus University Rotterdam, Better work, better workplaces: 10 million euros awarded to SEISMEC project by European Commission; o conjunto da notícia está acessível no seguinte link: https://www.eur.nl/en/news/better-work-better-workplaces-10-million-euros-awarded-seismec-project-european-commission?fbclid=IwAR2Ley-mCSBA7ho7IBHO5XLZGbt0CkU0idrSN_dH5i5ENmujA30K53tDaqQ).

Do projeto SEISMEC – Universidade Erasmus de Roterdão

O verão de 2023 tem-se revelado particularmente compensador para João Fernando Ferreira Gonçalves. Foi também um dos doze “investigadores talentosos e criativos” da Universidade Erasmus de Roterdão a ser agraciado com uma bolsa pessoal Veni (até 280 000 euros) da NWO (“The Dutch Research Council (…) under the responsibility of the Ministry of Education, Culture and Science”). O título do projeto é: Making AI less artificial.

Artificial intelligence has brought exciting innovations to everyday life, but also risks such as discrimination and errors in high stakes decisions such as awarding child benefits or driving a car. This risk often happens because the people who develop these algorithms can make them work very well on the data they have, but not in unpredictable real-world situations that depend on complex human interactions. To solve this problem, this project uses knowledge from the social sciences to improve data and make AI algorithms better at handling unforeseen situations when interacting with humans (https://www.eur.nl/en/news/twelve-veni-grants-rotterdam-researchers?fbclid=IwAR3yJw-_NiVgBXih5Va3-b3l6-yKvJb4nc7j00q-yZrnVMXn_oLeO7_lL6g).

O João pertence, por acaso, à família. Mas, embora os seus estudos se inscrevam no âmbito da Sociologia e das Ciências da Comunicação, não sai ao pai. É mais pragmático, metódico, compenetrado e ousado. Pelos vistos, não lhe faltam instituições para financiar os seus projetos. Em contrapartida, o pai teve, muitas vezes, que ser ele próprio a financiar as instituições envolvidas. A distinção desenha-se, desde logo, no início da carreira: o pai regressou do estrangeiro, da Sorbonne (França), para trabalhar na Universidade do Minho, em Braga; o filho saiu de Braga, da Universidade do Minho, para trabalhar no estrangeiro, primeiro na Universidade de Antuérpia (Bélgica), em seguida na Universidade Erasmus de Roterdão (Países Baixos).

Desde o Pico, Vila Verde, 19 de agosto de 2023

Inteligência Artificial, Machine Learning e composição musical

Pedro Costa, doutorado em Sociologia, investigador do CECS – Centro de Estudos Comunicação e Sociedade, acaba de publicar o artigo A Inteligência Artificial e Seus Herdeiros no blogue Margens (https://tendimag.com/?p=55533). Um ensaio sobre a Inteligência Artificial, o Machine Learning e o futuro da criatividade, designadamente no que respeita à música. Pertinente, oportuno, bem escrito, fundamentado e criteriosamente ilustrado, trata-se de um texto raro, subtil e ousado. Aproveito para acrescentar quatro vídeos excelentes relativos a outras tantas músicas emblemáticas da relação entre o homem, a máquina e as emoções: The Robots (1978), dos Kraftwerk; Wellcome To The Machine (1975), dos Pink Floyd; All Is Full Of Love (1997), da Bjork; e How Does It Make You Feel (2001), dos Air.

Kraftwerk. The Robots. Die Mensch-Maschine. 1978. Ao vivo na Casa da Música (Porto), 20.04.2015
Pink Floyd. Wellcome To The Machine. Wish You Were Here. 1975 / Animação por Maxime Tiberghien, Sylvain Favre & Maxime Hacquard, 2019
Bjork. All Is Full Of Love. 1997. Vídeo musical realizado por Chris Cunningham, 1999
Air. How Does It Make You Feel. 10 000 Hz Legend. 2001

A Leiteira, DALL-E e Vermeer

Johannes Vermeer. A Leiteira. C. 1660

Dall-E é uma nova aplicação capaz de alterar ou expandir autonomamente quadros. A Nestlé ilustra-a aplicando-a no anúncio Outpainting, com um belo efeito, à célebre pintura de Johannes Vermeer: A Leiteira (c. 1660). Maravilhas das sempre novas tecnologias!

Marca: Nestlé / La Laitière. Título: Outpainting. Agência: Ogilvy Paris. França, setembro 2022.

“Quem disse que os robôs não têm imaginação? DALL-E [bem batizado: WALL-E + Dali] representa a inteligência artificial que adquirirá certamente importância no futuro. Já tinha deslumbrado os internautas quando foi lançado ao produzir imagens de incrível precisão e beleza artística. Mas o tempo passa e as ideias avançam! DALL-E decidiu expandir seu campo de atuação, para deleite dos curiosos e das vanguardas!

Até agora, o princípio era o seguinte. Esta inteligência artificial baseia-se no estudo de milhares de obras já existentes para poder criar novas imagens a partir de instruções textuais. Os resultados, muito estéticos e coerentes, já ofereciam uma renderização digna dos melhores pintores.

Desta vez, DALL-E regressa com um recurso completamente novo que talvez abale a criação digital contemporânea. Intitulada “Outpainting”, esta funcionalidade permite adicionar elementos dentro de uma imagem. É a inteligência artificial que imaginará por si mesma os elementos a adicionar. Este poder criativo dota-a de uma grande liberdade que pode conduzir a resultados inusitados e poéticos! O ambiente inicial da obra é assim transformado ou embelezado com um novo visual. E ainda não é tudo! Pensa que as performances incríveis desta inteligência artificial se limitam a pinturas de grandes pintores? Pois não. Este recurso também deve funcionar para fotografias. Este software pode ser uma ajuda substancial de edição.” (Arts in the City, DALL-E: a inteligência artificial que pinta imagens misteriosas: https://www.arts-in-the-city.com/2022/09/08/dall-e-lintelligence-artificielle-qui-peint-des-tableaux-mysterieux/. Consultado em 17.09.2022).

O robot que ri

Sprint Evelyn

“A guerra interior da razão contra as paixões fez com que os que quiseram ter a paz se dividissem em duas seitas: uns quiseram renunciar às paixões e tornar-se deuses; outros quiseram renunciar à razão e tornar-se brutos. Mas, não o conseguiram nem uns nem outros; e a razão, ficando sempre, acusa a baixeza e a injustiça das paixões e perturba o repouso dos que a elas se abandonam; e as paixões estão sempre vivas nos que querem renunciar a elas” (Pascal, Blaise, 1670, Pensamentos).

O homem é um ser racional? Talvez menos do que nos aprestamos a acreditar. Os grandes clássicos da sociologia duvidam. Atente-se nas “acções racionais com relação a valores”, nas “acções afectivas” e nas “acções tradicionais”, de Max Weber (1864-1920); ou nas “acções não lógicas”, de Vilfredo Pareto (1848-1923). Acrescente-se que, ao arrepio de G.W.F. Hegel (1770-1831), um fenómeno pode ter sentido sem ser racional.

O anúncio Evelyn, da Sprint, mais do que uma paródia, aproxima-se de um cúmulo da racionalidade. O próprio anúncio é racional, como a maioria dos anúncios. O objetivo é um efeito São Paulo: a conversão dos espectadores da Veryson para a Sprint. O meio é eficaz: uma paródia de uma “escolha racional”, ou seja, da emergência de uma decisão inteligente.

Os robots são os protagonistas do anúncio. Eles e nós, que nos identificamos com o cientista. A exemplo da Evelyn, são capazes de aprender. E de dar instruções. Creio que já existem máquinas capazes de aprender e de instruir. Configuram, de algum modo, um efeito de realidade.

Para além de aprender e instruir, os robots têm sentido de humor. Entramos no cerne do anúncio. Os robots riem! Riem do cientista, com o qual nos identificamos. Riem de nós, os tansos que ainda não mudaram para a Sprint. Embora não pareça, o anúncio apela ao sonho, um sonho embalado pela razão.

A identificação é um processo complexo, nada linear. Podemos identificar-nos com o cientista e, ao mesmo tempo, com os robots. Uma identificação dupla. Somos propensos à identificação com animais, cartoons, bebés e robots. Os robots riem-se de nós; e nós com eles.

Marca: Sprint. Título: Evelyn. Agência: Droga 5. Estados Unidos, Fevereiro 2018.