Tag Archive | Imagem

Horror de Verão

Ornamento em forma de cabeça de Medusa. Séc. I d.C.

Onde não há imaginação não há horror (Arthur Conan Doyle)

Sorry for scaring you! Eis a escusa, uma cativante maldade, enunciada por alguns anúncios recentes. Encenam paródias de filmes, por sinal com muita conversa. Há poucos anos, a presença da palavra resultava escassa. Apostava-se mais na imagem. A palavra, escrita ou oral, tende a conquistar protagonismo. Fala-se bastante. Qual a razão? Reação pós-Covide? Efeito da facilitação técnica da comunicação interpessoal? Humanização, naturalização ou aproximação aos públicos? Não sei! Porventura outro motivo qualquer. Estes três anúncios proporcionam três tipos de terror: ”Maldição” (papel higiénico que transforma as sanitas em monstros); “Medusa” (telemóvel cuja visão é fatal); “Sobrenatural” (aparição de um avatar da Regan do filme O Exorcista).

Marca: Scott Toilet Paper. Título: The Clogging. Agência: VaynerMedia. Direção: Chioke Nassor. USA, agosto 2023
Marca: Samsung Galaxy. Título: Join the flip side. Season 2. Agência: Wieden + Kennedy, Amsterdam. Direção: Mathias Nordli Eriksen. Países Baixos, julho 2023
Marca: Regal Cinemas. Título: Pool. Agência: Quality Meats. Direção: Andy Richter. USA, agosto 2023

O desporto e a imagem

Ao João e ao Fernando

O golfe é um jogo em que não há necessidade de se apressar. Importa deixar entrar a riqueza do desporto (Catherine Lacoste)

O desporto constitui um dos maiores bancos de imagens da atualidade. Aproxima-se frequentemente de uma coreografia mais ou menos espontânea. O anúncio The Greatest Show on Earth, do canal SKY Sports, e o trailer de lançamento, Match Day, do videojogo EA SPORTS FIFA 23, investem nessa vertente.

Marca: SKY Sports. Título: The Greatest Show on Earth. Agência: Sky Creative. Direção: Daniel Kleinman. Reino Unido, agosto 2023
Marca: EA SPORTS FIFA 23. Título: Match Day. Agência: Wieden + Kennedy, Portland. Direção: Jungle. USA, agosto 2023.

Virtualidades pouco virtuosas

Fotoprix. Breast. 1999

Cada vez se torna mais complicado distinguir a realidade do imaginário. Por vezes, somos mais estimulados pela cópia do que pelo original. Tomamos, inclusivamente, como reais realidades que nunca existiram. Jean Baudrillard fala em hiper-realidade. Estes três anúncios da Fotoprix são duplamente dúbios: pela ilusão e pela mensagem. Virtualidades pouco virtuosas.

Marca: Fotoprix. Título: Silicona. Agência: Casadevall. Direção: Xavier Rosello. Espanha, 1996
Marca: Fotoprix. Título: Breast. Agência: Young & Rubicam (Madrid). Direção: Xavier Rosello. Espanha, 1999
Marca: Fotoprix. Título: Ilusión. Agência: The Farm. Direção: Xavier Rosello. Espanha, 2002

Notável e notório. A formiga e a cigarra, o galo e a galinha

Moledo, domingo. Proporciona-se um mergulho no adubo humano.

Notável é aquilo que é “digno de nota”, “merecedor de consideração e apreço”; notório, o que é notado, “conhecido por um grande número de pessoas”. Pode-se ser notável sem ser notório; e notório, mas não notável. Numa sociedade da imagem, da rede e do artifício, prevalece o notório. Chegados a esta encruzilhada, apetece reequacionar a fábula de La Fontaine: hoje, quem morre de fome não é a cigarra, notória, mas a, a formiga, notável. A cigarra polariza o reconhecimento. Sendo esta a verdade mundana, importa refundar as pragmáticas, as éticas e as teodiceias.

A propósito da cigarra e da formiga, acode-me a relação entre o galo e a galinha, cantada, com inspiração e humor, por Sérgio Godinho.

Sérgio Godinho. O Galo é o Dono dos Ovos. Pano-Cru. 1978. Ao vivo no Centro Cultural de Belém.

Publiquei, em 2011, uma fábula no ComUm, boletim da Universidade do Minho, com o título “Fábula comUM” (contemplada no Tendências do Imaginário com o título “Fábula das formigas sabichonas”). A Universidade tinha a virtude da homeopatia: sabia digerir o “mal”, a adversidade, expondo-se à crítica mordaz e sarcástica. É certo que as farpas se afogavam na gordura académica. Destilada e delirante, a escrita enferma de um vício que não me larga: discorrer sem explicitar o assunto. O leitor que adivinhe e o resto reverbere. O “segredo” remetia para a implementação da política dos rácios alunos/docentes consoante os cursos, depressa extrapolada, abusivamente, para os departamentos. Um veneno que as universidades, em particular a do Minho, devoraram. Este desvio de uma fórmula de financiamento para uma forma de governo desvirtuou o mundo académico, resultando numa legitimação e num reforço dos interesses e privilégios instalados ou em vias de instalação. Uma deformação que, a par do controverso processo de Bolonha, contribuiu estruturalmente para o atual desequilíbrio institucional das universidades portuguesas.

Para aceder à “Fábula das formigas sabichonas”, carregar na imagem seguinte ou no endereço https://tendimag.com/2011/11/13/fabula-das-formigas-sabichonas/

Desequilíbrio fórmico

Kayak na cascata do rio Laboreiro

Kayak na cascata do rio Laboreiro

Imagens espetaculares da prática de kayak na cascata do rio Laboreiro, em Castro Laboreiro, Melgaço. “Posiblemente sea uno de los rios  más espectaculares de Europa para practicar kayak”. Felicito a  Slowmo Castro Lovin’, a Pistyll Productions e os desportistas pela realização deste vídeo fantástico. Agradeço ao Fred Sousa a partilha na página Melgaço, Portugal começa aqui.

Carregar na imagem seguinte para aceder ao vídeo.

Slowmo Castro Lovin’. Rio Laboreiro – Radical Rider. Pistyll Productions. 2021 (?).

La esperanza caminando despacito

Hébert Franck. L’Attente.

Una soledad que no acaba

Uno sale de uno

– un día –
y se encuentra
Y sín saludarse se reconoce.

Entonces se ve:
– el alma encogida,
– arrugas en la sinceridad,
– un dolor por ahí,
acurrucado
(como un niño poeta frente a la muerte),
y la vida,
caminando despacito,
despacito,
encorvada…
(René Bascopé Aspiazu. Las Cuatro Estaciones. Ed. La Mariposa Mundial. La Paz, Bolívia. 2007).

Astor Piazzolla. Milonga Del Angel. 1965. Ao vivo.

Uma solidão que não acaba

Um sai de si próprio

– um dia –
e encontra-se
E sem saudar-se reconhece-se

Então vê-se:
– a alma encolhida
– rugas na sinceridade
– uma dor ao redor,
de cócoras
(como uma criança poeta face à morte),
e a vida,
caminhando devagarinho,
devagarinho,
encurvada…
(René Bascopé Aspiazu. Las Cuatro Estaciones. Ed. La Mariposa Mundial. La Paz, Bolívia. 2007).

Uma pausa na travessia

Bruno Aveillan.

Cheguei a um impasse na investigação dedicada às imagens de Cristo. Encontro-me numa encruzilhada: os historiadores de arte não se entendem e pressinto que, desossado, vou ter que inventar o caminho. Não ando inspirado: dói-me pensar e entorpece-me escrever. Entretanto, releio artigos e ouço música. Tenho que ultrapassar esta obstrução pasmada. Por enquanto, acarinho os sentidos. Por exemplo, com a música The Journey, emoldurada com imagens, no primeiro vídeo, pelo realizador francês Bruno Aveillan e interpretada, no segundo vídeo, pelo próprio compositor, Gustavo Santaolalla.

Marca: Louis Vuitton. Título: A Journey. Agência: Ogilvy. Direção: Bruno Aveillan. Produção: Quad. Música: Gustavo Santaolalla. França, 2008.
Gustavo Santaolalla. The Journey. Álbum: Camino. 2014. Encuentro en el Estudio, 2020.

Um mandamento novo

M.C. Escher. Eye. 1946.

Mandamentos antigos:

Amai-vos uns aos outros
Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje
Born, buy and die
Make love not war
Give peace a chance
Carpe die
Live and let die
Soyez réalistes, demandez l’impossible

Mandamento novo:

Be seen, be heard

Marca: HP Presence. Título: Be Seen. Agência: W+K PDX. Estados-Unidos, fevereiro 2022.

Acrescento um vídeo com a canção Questions, do álbum The Roaring Silence (1976), dos Manfred Mann’s Earth Band, com imagens do filme Blade Runner (1982).

Manfred Mann’s Earth Band. Questions. The Roaring Silence. 1976.

Desmascarar o mérito

René Magritte. O falso espelho. Paris. 1929.

Muita autoconfiança deve ter uma marca para ousar anunciar que os seus produtos são dispensáveis, ver desejavelmente dispensáveis. A identificação com a marca L’Oréal é induzida pela identificação com a atriz Kate Winslet, com o seu gesto e o seu discurso? Uma aura de autenticidade por contágio? Merecemos…

Marca: L’Oréal Paris. Título: Lessons of worth with Kate Winslet. Agência: McCann (Paris). Internacional, fevereiro 2022.

Erudição e imaginação

“A erudição está longe de ser um mal: ela amplia o campo da experiência” (François Jacob, Conseils à un jeune poète suivi de Conseils à un étudiant, 1944).

Há quem entenda por bem opor o imaginativo ao erudito. Pura falácia, conversa fiada! Sem a erudição, a imaginação a pouco aspira. A descoberta de uma boa obra erudita escrita por um bom autor erudito é uma bênção para a obra imaginativa de um autor imaginativo. Encontra asas para correr e pernas para voar. Imaginação não é geração espontânea.

Um estudo dedicado às imagens de Cristo não seria o mesmo sem a consulta do livro  L’art chrétien : son développement iconographique des origines à nos jours, de Louis Bréhier, publicado pelo editor Henri Laurens (Paris, 1927). Bem-haja a Biblioteca Nacional de França por disponibilizar a versão digital de obras raras como esta.

Bibliothèque Nationale de France – François Mitterrand.