Castro Laboreiro. A arte do documentário.

Coloquei, na semana passada, o segundo episódio do documentário Castro Laboreiro, realizado por Ricardo Costa. Hoje, vou ao recanto do Valter Alves no YouTube pedir emprestado o primeiro episódio: Inverneiras. Tomo a iniciativa de o partilhar não apenas porque aborda as gentes de Castro Laboreiro mas também pela qualidade intrínseca do próprio documentário, nomeadamente a fotografia, a montagem e a realização. Em muitos planos e sequências, por detrás da câmara de Ricardo Costa, parece insinuar-se o grande Andrei Tarkovsky. Por exemplo, na interminável caminhada na neve. “saboreia-se a imagem”. Um olhar concentrado, sóbrio e demorado que retrata uma realidade ascética, ancestral e resistente. Ao mesmo tempo cósmica, a rondar o místico.
Um contra um, todos por todos

O videojogo afirma-se como vanguarda das indústrias do lúdico e do audiovisual. Potente, competitivo, flexível, acelerado, certeiro e ubíquo. Como o arco de Dario (sobre o arco de Dario, rei da Pérsia, recomendo o artigo: O Espetáculo do Poder).
Não é de admirar que os anúncios a videojogos constem entre os mais impactantes das últimas décadas. HUMANKIND (Amplitude Studios) frisa a perfeição apelativa, narrativa, técnica e estética. Nada é descurado: a luz, a cor, a fotografia, o desenho, os cortes, os contrastes, o enquadramento, a profundidade, os planos, os ritmos, as sequências, o som, as referências… Qualidade, critério e criatividade. HUMANKIND recupera uma opção cada vez mais frequente: a substituição da figura humana por objetos e símbolos. Ganha em projeção e sublimação. Os objetos e os símbolos tornam-se, porventura, mais humanos do que o humano.
Retenhamos a lição: agonístico e diabólico, o universo, assevera-se exíguo para dois protagonistas; o anúncio termina, porém, com uma avalanche de multidão. Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto: o anúncio não enjeita ressonâncias bíblicas e míticas: o crepúsculo, egoísta e homicida, de Caim, e a alvorada, coletiva e mobilizadora, de Moisés. Onde não cabem dois, cabem milhões.
Fernando Gonçalves e Albertino Gonçalves
Natal andróide
Num mundo disfórico entregue às máquinas, um andróide deixa-se cativar por alguns vestígios de vida humana num cartaz e num filme com a ceia de Natal. Começa uma odisseia da máquina em busca do humano. Simula a ceia de Natal com manequins, mas não resulta, falta o espírito. Acaba por reconhecer a paisagem numa fotografia de um jornal. Por vales e montanhas, encontra finalmente a família humana que o acolhe com generosidade.
Este anúncio lembra filmes tais como O Planeta dos Macacos (1968), Blade Runner (1982), Equilibrium (2002) ou WALL-E (2008). E convoca uma série de mitos mais ou menos contemporâneos:
– A superação e a dominação do homem, aprendiz de feiticeiro (Goethe, 1797), pelas suas próprias obras, nomeadamente computadores e andróides;
– As máquinas assumem-se mais humanas do que os humanos, propiciando um espelho, mais ou menos deformado, da condição humana;
– Uma ovelha negra redentora galga fronteiras e vence obstáculos contribuindo para a emancipação, mais ou menos fugaz e inconsequente, dos oprimidos.
Marca: Edeka. Título: Will we celebrate Christmas in 2117? Agência: Jung von Matt. Alemanha, Novembro 2017.
Sociologia sem palavras 18. Cinema
Há momentos impressionantes, como a sequência final do filme Blade Runner. O autómato salva o inimigo humano. À chuva, meio nu, ensanguentado, um prego cravado numa mão e uma pomba branca na outra, senta-se e despede-se com palavras e um sorriso, descaindo-lhe a cabeça para a direita. Como previam os circuitos. A pomba voa em direcção ao céu, como a alma dos justos nas iluminuras medievais. Diógenes procurava o homem com uma candeia acesa em pleno dia. Convém não desistir. Onde está o humano? Onde está o autómato? E o sagrado, o sagrado onde está? Vale a pena (re)ver o filme.
I have… seen things you people wouldn’t believe…
Attack ships on fire off the shoulder of Orion.
I watched c-beams glitter in the dark near the Tannhäuser Gate.
All those… moments… will be lost in time, like tears… in… rain.
Time… to die…
Sociologia sem palavras 18. Cinema. Ridley Scott. Blade Runner. 1982. Excerto.
Sete
Música electrónica, voz distorcida, levemente hipnótica. Fotografias, a preto e branco, veladamente humanas. Lista de frases breves, dispersas, estranhamente encadeadas.O que é?
Um anúncio brasileiro em português, não um anúncio português em inglês. Um excelente anúncio brasileiro.
Marca: Época. Título: A Semana. Agência: W/Brasil. Brasil, Junho 2014.
Com uma pequena ajuda dos Beatles
O Elvis Presley é um herói do rock e da publicidade. Mas os Beatles não ficam atrás. Fazem parte de inúmeros anúncios. Os anúncios seguintes são autênticos vídeos musicais. O primeiro, da BBC, com o título de uma música dos Beatles, I’m the Whalrus, é um mosaico de sequências que confrontam o humano e o animal. Trata-se de um anúncio antigo (2000) e raro. O segundo anúncio, Beatles Story, da Mtv games/Xbox, é mais recente (2009). Propõe uma animação do percurso dos Beatles, desde o underground até ao psicadélico.
Marca: BBC Curiosity. Título: I’m the Whalrus. Agência: Leagas Delanay. UK, 2000.
Marca: Mtv games/Xbox. Título: Beatles Story. 2009