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O dilema da testemunha

Burger king

Bullying Jr., da Burger King, é mais um anúncio-causa promovido por uma marca. Não deixa, porém, de ser interessante. O bullying envolve, pelo menos, três tipos de actores: quem o pratica, quem o sofre e quem o tolera. Neste anúncio, testemunhas de uma agressão a uma criança, nove em cada dez pessoas incomodam-se, mas não intervêm. Reagem, porém, perante um hamburger maltratado. O que significa este comportamento? Não sei, mas pode arriscar-se um palpite.

Um espectador compulsivo de uma situação de bullying depara-se com uma situação de duplo vínculo: intervém, expõe-se à violência, logo à justiça; não intervém, permite a violência, logo incorre em não assistência a pessoa em perigo. Subsistem mais opções: a tentativa diplomática e a comunicação às autoridades.

“Preso por ter cão, preso por não ter”. Em que assenta este dilema das testemunhas de bullying?  O cidadão moderno não tem direito ao uso da violência. Nem sequer a uma agressão verbal. Pode configurar um crime. Retomando Max Weber, o Estado detém o monopólio da violência legítima. Os fora da lei detêm o monopólio da violência ilegítima. Entre ambos, posiciona-se o cidadão domesticado, sem qualquer direito à violência, seja ela legítima ou ilegítima. Segundo Norbert Elias, o processo de esvaziamento do uso da violência por parte do cidadão remonta, pelo menos, à Idade Média. Este processo ainda continua.

O anúncio da Burger King coloca uma segunda questão: será, na nossa sociedade, mais razoável proteger os objectos do que proteger as pessoas? Todo o anúncio aponta nesse sentido.

Marca: Burber King. Título: Bullying Jr. Agência: David. Reino Unido. Outubro 2017.