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A lenda da massa carbonara

Barilla. Carebonara. 2021

A duração conta. Muitas vezes, para saborear um alimento, uma ideia ou uma imagem convém dedicar-lhe tempo. Reserve o visionamento desta curta-metragem das massas Barilla para quando lhe puder conceder dez minutos de atenção. Já agora, se não conseguir, talvez seja a hora de reconsiderar o que é ser pobre neste mundo.

Marca: Barilla. Título: Carebonara. Agência: Alkemy. Direção: Xavier Mairesse. Itália, abril 2021,

Origem da massa carbonara

Tal como a maior parte das receitas tradicionais, origem deste prato é incerta, existindo diversas lendas. Refere-se que possa ter sido criada na região italiana do Lazio, na Roma antiga, sendo uma possível evolução da pasta (massa) cacio (queijo de ovelha ou cabra) e ova (ovo).[8] Como o nome deriva da palavra italiana para carvão, alguns acreditam que tenha sido uma refeição suculenta para os carvoeiros na Itália (carbinai).[8] Outros dizem que antigamente era feita sobre grelhadores de carvão. Ainda outros sugerem que as manchas pretas de toucinho e pimenta se assemelham a pequenos pedaços de carvão, o que poderia explicar o nome. Também foi sugerido que poderia ter sido inventado pelos membros da Carbonária, uma sociedade secreta italiana.

O prato não era conhecido antes da Segunda Guerra Mundial, não estando presente no livro clássico da culinária italiana La Cucina Romana, da autoria de Ada Boni, datando de 1927. Pensa-se que terá tido origem em zonas montanhosas fora de Roma e não dentro da cidade, mais concretamente nos montes apeninos. A sua popularidade começou após a Segunda Guerra Mundial, quando muitos italianos comiam ovos e toucinho fornecidos por tropas norte-americanas. Também se tornou popular entre as tropas norte-americanas estacionadas na Itália. Quando regressaram a casa, tornaram a receita popular nos EUA.

Outras teorias apontam que o primeiro a dar-lhe um nome foi o escritor culinário napolitano Ippolito Cavalcanti, que publicou a receita pela primeira vez no ano de 1839, no seu livro Cucina teorico-pratica. Uma outra hipótese indica que o prato pode ter tido origem em Carbonia, uma povoação a oeste de Cagliari, fruto da criatividade de um cozinheiro talentoso, que acabaria por se mudar para Roma, à procura de trabalho. Diz-se que o prato teria tido tanto sucesso que o cozinheiro, talvez por timidez, lhe acabaria por dar o nome da sua terra, em vez do seu. (Wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/Carbonara, consultado em 12.09.2022)

Receitas milagrosas

Intermarché. C’est magnifique. 2019.

Em dias de tensa inutilidade, o anúncio C’est Magnifique, do Intermarché, é uma bênção. Desafia-nos a andar sobre as águas de um lago de montanha. Um homem desespera após a morte da companheira. Mortifica-se na lentidão indigente dos dias. Afasta-se das pessoas, dos amigos, da vida. Mas, às vezes, os milagres, que não existem, acontecem: a descoberta do livro de receitas da mulher. Entre a cozinha e o hipermercado, refaz-se a vida. Até os objetos se revitalizam, como num conto de E. T. A. Hoffmann. O compasso é de reconciliação e reparação. São raros os anúncios que conjugam tamanha qualidade e inspiração. Tudo ajuda. Por exemplo, o silêncio inicial e a canção C’est Magnifique, interpretada por Benjamin Biolay. Resultado: uma emoção funda e tranquila, como um murmúrio da alma. O anúncio frisa o religioso, uma religiosidade profana: o livro de receitas é uma mediação numinosa; e o percurso do protagonista, uma ressurreição.

Marca: Intermarché. Título: C’est Magnifique. Agência: Romance. Direcção: Katia Lewkowicz. França, Março, 2019.

Sabor de mãe

Sabor de Mãe

O Dia da Mãe no Brasil costuma ser no mês de Maio. Cheguei atrasado ao anúncio O sabor do amor de mãe, da Cheiro Verde. Lembra o título do livro Coração, cabeça e estômago (1862), de Camilo Castelo Branco. Só que, neste caso, o coração e o estômago suplantam a cabeça. Agrada o recurso ao paladar para dizer o amor. A comida e o sabor costumam andar, por preconceito, arredados dos sentimentos nobres.

Marca: Cheiro Verde. Título: O sabor do amor de mãe. Agência: Pirueta. Direcção: Magrão. Brasil, Maio 2016.

A microfísica do prazer. Sociologia sem palavras 16.

Babette's FeastO episódio do banquete no filme A Festa de Babette é sublime. É lento, mas repleto de sentimentos e emoções. O banquete é um momento de prova, um momento único. Nunca aconteceu antes, jamais voltará a acontecer. Nas expressões e nos gestos mais ínfimos, adivinham-se os corações a rejubilar, entre a sede da alma e a fome do corpo. O episódio evolui num ambiente de profunda religiosidade existencial. Duas epifanias emergem sem se cruzar: a redescoberta do prazer por parte do General, com a sublimação do amor pelo paladar, e a descoberta do prazer pelos habitantes da aldeia, desde o exorcismo preventivo até ao aleluia da conversão. Um prazer que liberta as pessoas e restaura a comunhão do grupo. São doze os comensais, descontando Babette. Trata-se de uma ceia. Cada ingestão, cada bocada, cada gole, é um passo de transubstanciação. Babette, a cozinheira responsável por este estado de graça, é um anjo ambivalente: redime pelo prazer. O filme termina com a seguinte frase proferida por uma das irmãs para quem Babette trabalha: “No Paraíso tu serás a grande artista que Deus tinha pensado que serias. Como serão felizes os anjos!”

Este excerto do filme A Festa de Babette é um magnífico exemplo de microfísica do prazer. Desafia e agracia os sociólogos: rituais, religiosidade, interacção, bastidores, clivagens, linguagem corporal, mudança, felicidade, estética do bom e do bem… Os excertos da série Sociologia sem palavras raramente se prolongam para além dos seis minutos. Este caso é uma excepção, atinge os dez minutos. A dinâmica entre o “apetite corporal” e o “apetite espiritual” justifica-o. Bem haja quem me fez descobrir este filme!

Gabriel Axel, Babette’s Feast. 1987. Excerto.

Cozinha mágica

Figura 1. Michelangelo Caravaggio. Still life with fruit. 1601-1605.

Figura 1. Michelangelo Caravaggio. Still life with fruit. 1601-1605.

A culinária está na moda. Sempre esteve. Na minha infância, o que as mulheres mais trocavam era mexericos, fotonovelas e receitas de cozinha. Entretanto, as receitas ultrapassaram as fotonovelas. Em consumo, circulação e sonho. Este anúncio da Oxo multiplica os movimentos, os contrastes, as metamorfoses e os fragmentos, tudo regado com umas colheres de absurdo. Em suma, para nosso regalo, uma ementa neobarroca. Até apetece uma mixórdia com parafusos, dados e contas de colar. Basta acrescentar Oxo Herbs, e já está! It’s the magic touch. Embora em escalada, a estetização dos alimentos não é novidade. Visite-se a secção da alimentação do Harrods, em Londres, a vetusta Fauchon, em Paris, ou a rue des Bouchers, em Bruxelas.

Figura 2. Pieter Aertsen. Butcher's Stall with the Flight into Egypt, 1551.

Figura 2. Pieter Aertsen. Butcher’s Stall with the Flight into Egypt, 1551.

A estetização dos alimentos é muito antiga. Antes de Arcimboldo e Caravaggio (Figura 1) eclodiu na pintura renascentista um entusiasmo pela natureza morta com alimentos. O pintor holandês Pieter Aertseb é um bom exemplo (Figura 2). Mas esta arte remonta, pelo menos, ao Império Romano (figuras 3 e 4).

Marca: Oxo. Título: The magic touch. Agência: Jwt London. Direção: Conkerco. UK, Outubro 2014.

Figura 3. Pompeian painter around 70 AD.

Figura 3. Pompeian painter around 70 AD.

Figura 4. Still-life. Mosaic, Roman artwork, 2nd century CE. From a villa at Tor Marancia, near the Catacombs of Domitilla.

Figura 4. Still-life. Mosaic, Roman artwork, 2nd century CE. From a villa at Tor Marancia, near the Catacombs of Domitilla.

Comer com os olhos

Lurpak-Cooks-Range-Adventure-Awaits2

Star Steak, A Guerra das Panelas, 2001 Odisseia no Fogão… Quem não viu não deve perder este vídeo. Desde Arcimboldo, não tenho conhecimento de tanta arte com alimentos como nos anúncios da Lurpak (ver http://tendimag.com/2013/03/02/a-estetica-da-manteiga/ e http://tendimag.com/2012/01/22/comer-com-os-olhos-os-alimentos-em-arcimboldo/). Uma autêntica passerelle de belezas culinárias! Lurpak, e o mundo fica mais apetitoso. Brincadeira à parte, este anúncio está muito bem feito. Uma estetização requintada da cozinha e dos alimentos.

Marca: Lurpak. Título: Adventure awaits. Agência: Wieden+Kennedy. Direcção: Dougal Wilson. UK, Junho 2014.

Estética e Culinária

Carte Noire. Rouge – Millefeuille choco-framboise au café serréA culinária é, desde há séculos, dada à estética. Na apresentação à mesa, por exemplo. Mas o zelo estético estendeu-se, entretanto, à cozinha e à confecção. Comprovamo-lo nos concursos da televisão. A Carte Noire tem vários anúncios com imagens relativas à confecção de vários produtos. Seleccionamos Rouge – Millefeuille choco-framboise au café serré.

Marca: Carte Noire. Título: Rouge – Millefeuille choco-framboise au café serré. Agência: BBDO. Direcção:  M. Roulier et P. Lhomme. França, Dezembro 2012.

 

A Estética da Manteiga

Bernardo Bertolucci vulgarizou, nos anos setenta, a erótica da manteiga. Este artigo não visa, todavia, a erótica mas a estética da manteiga. Procurei, confiante, na obra de Andy Warhol, mas encontrei sopa, coca-cola e vodka. Resulta sempre alargar horizontes. No século XVII, a manteiga surge em primeiro plano nas naturezas mortas do pintor holandês Floris Gerritsz van Schooten (e.g., A natureza morta com copo, queijo, manteiga e bolo). Mais recentemente, no século XIX, Antoine Vollon pinta um vistoso pedaço de manteiga (Motte de Beurre, 1875-1885). Nos tempos que correm, a estetização mediática da culinária dá novo alento às saborosas naturezas mortas da idade barroca. Já não são quadros, mas vídeos, como este belíssimo anúncio da Lurpak em que o encanto da manteiga é de tal ordem que parece querer rivalizar com as latas de sopa Campbell’s.

Marca: Lurpak. Título: Good Proper Food. Agência:  Wieden + Kennedy (Londres). Direção: Vince Squibb. Reino Unido, Fevereiro 2013.

Floris Gerritsz van Schooten. (Holanda, 1585 - 1656) Natureza Morta com copo, queijo, manteiga e bolo.

Floris Gerritsz van Schooten. (Holanda, 1585 – 1656) Natureza Morta com copo, queijo, manteiga e bolo.

Antoine Vollon. Motte de Beurre. 1875-1885

Antoine Vollon. Motte de Beurre. 1875-1885

O ovo, a pancada e o resto

Le Slip FrançaisEste anúncio surrealista, estilo retro, contempla-nos com um exemplo extremo de razão argumentativa. Quem hesitava quanto a que marca escolher, ficou esclarecido: os melhores slips são aqueles que fazem omeletes. São os mais protectores. Alguma dúvida?

Marca: Le Slip Français. Título: La surprise du chef. Agência:  BETC. Direção: Julien Rambaldi. França, Janeiro 2013.