Humor Batráquio. Estupidez e Esperteza

“Nunca atribuas à malícia o que pode ser explicado pela estupidez humana” (Robert A. Heinlein)
“Nunca subestimes o poder da estupidez” (Robert A. Heinlein)
O perigo espreita, o turista inventa e a seguradora promete. O anúncio Frog, da companhia de seguros argentina Turismocity, confronta-nos, mediante um discurso simples com final inesperado, com uma interrogação: a esperteza enxerta-se na estupidez?
Há muito que ando tentado a partilhar o ensaio satírico As Leis Fundamentais da Estupidez Humana de Carlo M. Cipolla (1988). Nunca é tarde.
A Pantera Cor-de-Rosa
Há cartoons memoráveis: Betty Boop, Astérix, Tintin, Superman, Minnie, Cascão, Zé do Boné, Calimero, Garfield, Beep Beep, Flintstones, Félix o Gato, Cocas, Snoopy, Gastão Dabronca, Marsupilami, Goldorak, Candy, Pica-pau, Muttley, Poupas, Lucky Luke, Major Alvega, Scooby Doo, Dexter, Mafalda, Mónica, Zorro, Heidi, Naruto, Shrek… O meu cartoon preferido é a Pantera Cor-de-Rosa, criada em 1963 por Blake Edwards para o genérico do filme Pink Panther, com música de Henry Mancini. O prazer contra o poder.
Um passo de dança

A dança é uma vocação do corpo. É um momento em movimento. A dança abre e a dança fecha. De essencial, nada mais sucede nesta ilha de sensualidade. É uma forma simbólica que, irredutível a textos e contextos, vale em si e por si. A dança, a arte da dança, não é papel timbrado. A dança desentorpece a humanidade desde Adão e Eva. “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Genesis 3:19). Um pó que dança. Por muito que o mundo ordene, um passo de dança é um passo de dança, um rio a abraçar perdidamente o mar.
“Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We’re both of us beneath our love, we’re both of us above
Dance me to the end of love”
(Leonard Cohen. Dance me to the end of love. Various Positions. 1984).
A curta-metragem Bear and Squirrel, do programa Dancing On Ice, da ITV, espelha o nosso fascínio pelos desenhos dançantes, como, por exemplo, no filme Fantasia (1940-2000), da Walt Disney. Opto pelo excerto dedicado ao Carnaval dos Animais (1886) de Camille Saint-Saëns.
Potentes, prepotentes e impotentes
Há pouco tempo, olhava-se em redor, só se viam prédios em construção. Agora, olha-se em redor, só se vêem hierarquias. Zelo do Homo Hierarchicus (Dumont, Louis, 1966). A igualdade é folha caída. Rankings, concursos, orgânicas, burocracias, protocolos, paradas… A cada um as suas asas de cera, mais o seu ninho de poder. Parafraseando Francis Bacon, o poder, a exemplo da aranha, tece a teia com a sua própria substância, quem nela cai raramente se levanta. Quanto mais resiste, mais se enreda.
- Quino. Potentes, Prepotentes e Impotentes 2. 1989.
- Quino. Potentes Prepotentes e Impotentes. 1989. 1
- Quino. Potentes, Prepotentes e Impotentes 3. 1989.
Absurdo ternurento
Os heróis ecologistas não têm a vida fácil, arriscam acidentes insólitos. Mas Melissa viaja segura num Kia. Os acidentes do anúncio Hero’s Journey são catástrofes absurdas, tão absurdas que se tornam risíveis. O anúncio do Kia Niro lembra os cartoons. Por exemplo, o Bip Bip (The road runner), de Chuck Jones ou A corrida mais louca do mundo (Wacky races) e Tom e Jerry, ambos criados por William Hanna e Joseph Barbera. Opto pelo absurdo ternurento de Tex Avery: Drag-a-long Droopy (1954).
Marca: Kia. Título: Hero’s Journey. Agência: David&Goliath. Direcção: Matthijs Van Heijningen. USA, Fevereiro 2017.
Tex Avery. Drag-a-long Droopy. 1954.
Publicidade antidroga
“Acontece a realidade mais relevante ser aquela que não existe” (Albertino Gonçalves).
Consultei duas bases de anúncios publicitários e comprovei o que já sabia: os anúncios antidroga tenderam a desaparecer, nos últimos anos, do mapa europeu. Mantêm-se noutros países tais como os Estados Unidos, o Canadá, o Brasil ou as Filipinas.
Em matéria de prevenção, são pouco aceitáveis o descuido e a arbitrariedade. O que justifica o vazio? Tudo se passa como se a Europa sofresse, simultaneamente, de uma diarreia anti-tabaco e de uma obstipação antidroga. As políticas e o consumo de droga não são o meu jardim. A minha ignorância na matéria excede o pico do monte Everest. Não resisto, contudo, a arriscar algumas conjecturas:
Será que o consumo de droga está, para falar como os bombeiros, controlado? Acreditar em semelhante cenário padece de um excesso de optimismo.
Chegou-se à conclusão que as campanhas publicitárias antidroga são contraproducentes? Contribuem, eventualmente, para o crescimento, e não para a diminuição, do fenómeno? Algo como deitar pouca água em muito fogo. Existem vários estudos, incluindo de sociólogos, que denunciam esta suposta perversidade da publicidade antidroga.
Enveredou o combate ao consumo da droga por outros caminhos, tais como acções de proximidade nas escolas? Em 2011, em Portugal, na população escolar, “entre 4,4% (13 anos) a 24,9% (18 anos) já consumiram substâncias ilícitas” (Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, Sinopse Estatística: Portugal 2014, 2016, p. 5).
Prende-se com descriminalização do consumo de droga? A descriminalização e a reprovação pública (publicitária) são dissonantes, ver contraditórias? O efeito preventivo da descriminalização (em Portugal, em 2001) suplanta o da publicidade? O nosso foco é a Europa. Em 2015, em 29 países europeus, apenas 9 despenalizaram o consumo de droga (Secretariado Nacional de Políticas sobre Drogas, Levantamento sobre legislação de drogas nas Américas e na Europa, Junho 2015).
Será que as campanhas antidroga, eventualmente chocantes, se manifestam avessas à publicidade no ecrã? Mais chocantes do que as campanhas de prevenção rodoviária, contra o álcool ou contra o tabaco? Não me parece que as imagens da droga sejam agora mais chocantes do que há dez anos. Acresce que, hoje, tudo pode ser servido ao público desde que convenientemente embalado.
A droga é tabu? Afigura-se-me que, desde os anos sessenta, os tabus têm vindo a aumentar. Não creio, porém, que os tabus face à droga se mostrem hoje mais e maiores do que no início do século.
Em suma, desconheço o motivo por que a publicidade antidroga se terá tornado, recentemente, mais discreta. Para esta conclusão, escusava ter teclado tanto.
Vêm estas impertinências a propósito do anúncio The Power of You, do realizador tailandês Thanonchai Sornsriwichai. Tendências do Imaginário inclui cinco dos seus vídeos. Considero-os adágios de imaginação sensível. Neste anúncio, um jovem rompe com a droga. Corre sem parar, ultrapassando obstáculos objectivos e subjectivos. Ressurge o tópico da corrida como desprendimento e libertação, bem como o tópico da transformação e da salvação pelo despojamento.
Marca: ONCB – Office of the Narcotics Control Board. Título: The Power of You. Produção: Phenomena Company Limited. Direcção: Thanonchai Sornsriwichai (Tor). Tailândia, 2015.
Quinologia
Quino é um dos meus mestres. Se alguém perguntar se quero ler um livro disto ou daquilo, a resposta é imediata: um livro de Quino. Pena tê-los relido todos. Seguem quatro desenhos de Quinologia pura. Hoje, o meu rapaz mais novo está doente. Quero vê-lo sorrir.

2. Cooperação. Quino. Cada um no seu lugar.
Matilha
Há anúncios que lembram cartoons. Do Quino ou do Mordillo, por exemplo. Poucas imagens e uma surpresa hilariante. Um pico alto num espaço ínfimo. Um cão dá um belo efeito, mas uma multidão a fazer de cão…
Carregar na imagem para aceder ao anúncio.
Marca: Quick. Título: Le parc. Agência: Young & Rubicam. França, 1999.
A ingenuidade e a sátira
A ingenuidade e a sátira passeiam, por vezes, juntas. Para o bem comum. Nas ilustrações de David Vela, ganha a ingenuidade, ganha a sátira, e ganha a vida. Nascido em Zaragoza em 1967, David Vela doutorou-se em Filologia Espanhola, na especialidade de “ilustração espanhola no primeiro terço do séc. XX”. As suas ilustrações têm granjeado inúmeros prémios, incluindo a menção honrosa no Porto Cartoon World Festival, em 2004, 2011 e 2012, e o segundo prémio no World Press Cartoon, em Lisboa, em 2012. Segue uma pequena selecção de ilustrações de David Vela.
- 01. Bestiario de greguerías” ilustrado por David Vela
- 02. David Vela Almofada.
- 03. David Vela
- 04. David Vela. Cena de enterrador
- 05. David Vela
- 06. David Vela. Picasso e Dalí pintando um ovo.
- 07. David Vela. Sonâmbula.
- 08. David Vela. Un libro es un pájaro con más de cien alas para volar.
- 09. David Vela. Crise.
- 10. David Vela. Elefante.
- 11. David Vela. Mendigos.
- 12. David Vela. Olímpico.
- 13. David Vela. Liberdade.
- 14. David Vela. Éden.
Uma chuva de luto (Jacques Prévert)
Wolinski e Cabu constam entre as onze pessoas que foram mortas nas instalações do jornal Charlie Hebdo em Paris. Já eram cartoonistas reputados quando residi em Paris há mais de trinta anos. Teriam agora 80 e 76 anos, respectivamente. Gosto deste desenho de Cabu em homenagem a Charles Trenet. Não me apetecem palavras. Segue a canção de Trenet (em 1982, Cabu interpretou uma canção de Trenet na televisão, em directo).
Charles Trenet. Mon coeur s’envole vers toi.