Para a eternidade


Como suplemento ao artigo Ação de graças, acrescento o texto, erudito mas acessível, dedicado que Erwing Panofsky (1892-1968) dedica ao quadro Alegoria da Prudência, de Ticiano: “A Alegoria da Prudêcia de Ticiano – um pós-escrito”, capítulo 4 do livro Significado nas artes visuais, editado pela primeira vez em 1955 e traduzido em português pela Editora Perspectiva, em 1991. Erwing Panofsky é um dos mais influentes historiadores e sociólogos da arte. Recordo que Pierre Bourdieu redigiu o posfácio da publicação francesa do seu livro clássico Architecture Gothique et Pensée Scolastique (Éditions de Minuit, 1967).
Por seu turno, para acompanhar o pdf do texto de Panofsky, acrescento o Andante, do Concerto para Piano nº2, de Dmitri Shostacovich (1906-1975), uma música que cuido levar comigo para comover o tédio do além, da eternidade.
A carreira no reino da parvoíce

Os actores sociais, quanto menos hipóteses de carreira têm, mais carreiristas ficam. Este paradoxo é um desafio para a sociologia. Colide com o princípio da “causalidade do provável”, da sociologia praxeológica de Pierre Bourdieu. Colide, também, com o modelo da relação entre apostas e expectativas, proposto pelo individualismo metodológico de Raymond Boudon. Para colmatar estas aberrações, Pierre Bourdieu importou da química a noção de histerese: a prossecução de uma reacção comportamental para além das condições que a justificaram. Quanto a mim, hesito entre histerese e histeria.

Mudemos de assunto que este é polémico.
Mordillo faleceu há uma semana, no dia 29 de Junho de 2019. Fonte de inspiração com humor colorido. Se tivesse que decorar o quarto de um neto, optava pelos seus desenhos. Mordillo, tal como Quino, não é um sociólogo, mas um sábio da humanidade. Prefiro a ironia gentil do Mordillo ao elogio programado da tribo.
Memória puxa memória, há muito tempo, cantarolei em coro, nas ruas tranquilas de uma praia do Norte, a canção Le Roi (des Cons), de Georges Brassens (1972). Brassens tem razão: nunca destronaremos o rei dos parvos.
Públicos da Arte
O anúncio Art Gallery, da Sportsbet Multi Builder, é uma paródia da arte, designadamente da recepção e da avaliação das obras de arte pelos públicos. Trata-se de um tema recorrente. Recordo Mr. Bean às voltas com o quadro Whistler’s mother, o ministro russo que, após visitar o Ocidente, regressa encantado com a arte de fazer arte com lixo (Rafael Pividal, Pays Sages, 1977). Humor à parte, destaque-se, também, a investigação de Pierre Bourdieu sobre os públicos da arte: L’Amour de l’Art (1966) e Un Art Moyen (1965).
Marca: Sporsbet. Título: Art Gallery. Agência: Sportsbet Creative Team supported by DPR&Co. Direcção: Dave Wood. Austrália, Julho 2016.
A culinária do orgasmo
Enquanto o antibiótico se mantém preguiçoso, entretenho-me a ver sombras na caverna.
Blaise Pascal (1623-1662) é uma sub-rotina do meu pensamento. Pierre Bourdieu também não se cansa de o citar, tendo-lhe dedicado um livro (Meditações Pascalianas, 1997). Quanto a mim, apraz-me citar Pascal a propósito do prazer:
“Os princípios do prazer não são firmes nem estáveis. São diversos em todos os homens, e variáveis em cada caso particular com uma tal diversidade, que não há nenhum homem mais diferente de outro que de si próprio nos diversos momentos da vida. Um homem tem prazeres diferentes de uma mulher; diferentes são os de um rico e os de um pobre; um príncipe, um militar, um mercador, um burguês, os velhos, os jovens, os sadios, os doentes, todos variam; os mínimos acidentes os alteram” (Pascal, De l’Art de Persuader).
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Marca: Kabanossi. Título: Os Prazeres da Mesa. Finlândia, 2003.
O próximo anúncio foi proibido, tendo circulado viralmente. Para aceder, carregar na imagem.
Marca: New England. Título: A Adolescente. Agência: Howell Henry Chadelcott. Direcção: Klaus Witting. UK, 1992
A gula e a luxúria são os dois pecados capitais mais propensos a namorar entre si. Thomas Munzer (1490-1525) diria, na sua prosa suculenta, que fornicam em conjunto. Erotizar alimentos é uma velha receita da publicidade. O cúmulo consiste em sugerir que o prazer do consumo alimentar é equiparável a um acto sexual com orgasmo à vista (vídeos 1 e 2). Aprendemos, entretanto, que os alimentos podem ter sexo (vídeo 3): o gelado, a salsicha e o queijo são, pelos vistos, masculinos. Um queijo? Sem dúvida, tresanda a homem. E combina força e ternura. Pena que os alimentos não engordem a natalidade.
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Marca: Coeur de lion. Título: Force et Tendresse. Agência: FCB. França, 1994.